Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Alô Alô Bahia
Publicado em 23 de setembro de 2024 às 21:55
Salvador é a segunda cidade no Brasil a receber a ópera “Amor Azul”, de Gilberto Gil e do maestro italiano Aldo Brizzi. Após estreia mundial em Paris, em 2022, o espetáculo chega à Concha Acústica do Teatro Castro Alves no dia 23 de novembro, às 18h30, com participação da Orquestra e Coro do Neojiba, além de solistas do Núcleo de Ópera da Bahia. A venda de ingressos foi aberta nesta segunda-feira (23), pelo Sympla.
A ópera conta a história de amor entre o deus hindu Krishna e a mortal Radha e teve estreia nacional em São Paulo, no final de agosto. O espetáculo, que celebra a mistura de música de concerto, canto lírico, música popular brasileira e a dança tradicional indiana, apresenta 40 músicas inéditas, compostas por Gil e Brizzi, com cerca de 150 artistas no palco, entre músicos, cantores, solistas e bailarinos.
“É um poema de mais de mil anos atrás, que trata de vários deuses indianos e tramas afetivas e amorosas entre eles, o amor de Krishna e Radha, dois grandes personagens místicos e míticos da tradição hindu”, explica Gil, que contou com a colaboração do poeta André Vallias na adaptação do original.
Segundo Brizzi, o texto principal vem de “Gita Govinda”, de Jayadeva Goswami, considerada uma das obras primas da literatura mundial, “um canto de amor erótico-místico”. De acordo com ele, o designer tropicalista Rogério Duarte (1939-2016) foi quem primeiro apresentou o poema a ele e a Gil, já que estava traduzindo-o do sânscrito.
“Gil é o fio condutor do espetáculo. Ele conta a história pela música. Ele está em cena o tempo todo conosco e canta 20 músicas”, antecipa Aldo, que considera o show uma forma interessante de aproximar os solistas da música popular. “Os cantores vêm da música lírica, mas com um trabalho de aproximação da música popular sem perder toda a técnica erudita e colocando mais sotaque à interpretação”, afirma o regente.
A obra se desdobra em dois atos, com um intervalo de 20 minutos entre eles, nos quais o público acompanha a relação das divindades em diferentes cenários, desde a Índia mítica do passado e o Brasil vívido da contemporaneidade. Gil está no palco no papel de Jayadeva, o contador da história, e de Vishnu, um dos deuses supremos do hinduísmo.
As composições exclusivas que tecem a narrativa unem orquestra sinfônica, balé indiano, vozes populares e coro lírico a gêneros musicais como samba, bossa nova e afoxé, além de incorporar a percussão afro-brasileira e o veena, um tradicional instrumento de cordas indiano.
A relação do músico baiano com o hinduísmo é antiga e duradoura. Da mesma forma que trata outras religiões, o artista vê no sagrado uma fonte inesgotável de inspirações. Durante a década de 1960, o compositor se aproximou do hinduísmo e da entrega à meditação durante a repressão da ditadura militar. O contato com outras vertentes religiosas, como o candomblé, o catolicismo e a umbanda, culminou em canções como “Se eu quiser falar com Deus” (1980) e “Andar com fé” (1982).
A primeira apresentação de “Amor Azul” aconteceu em dezembro de 2022 no auditório da Radio France, em Paris, com a Orquestra e o Coro da instituição. Na capital francesa, foram três performances com ingressos esgotados, exibidas cinco vezes na televisão francesa e aplaudidas de pé. Público e crítica destacaram a ópera como um “triunfo”, “uma criação original” e “uma festa prodigiosa”, tornando-a um dos ápices recentes de uma carreira tão celebrada como a de Gilberto Gil.
Segundo o jornal Le Monde, “aqueles que já visitaram a ‘Maison’ mil vezes nos garantem: desde que se lembram, nunca tinham visto os membros da Orquestra e do Coro da Radio France balançando a cabeça com tanto entusiasmo após um show”.
Em agosto deste ano, o espetáculo também foi apresentado na Sala São Paulo, na capital paulista, em três datas com ingressos esgotados. O concerto contou com a participação da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo – Ojesp e do Coro Acadêmico da Osesp.
Para Glauber Amaral, diretor de produção do Concerto, a expectativa para apresentação na Concha é grande: “esperamos que o público baiano se contagie com a espiritualidade musical de Gilberto Gil, a sonoridade clássica do Núcleo de Ópera da Bahia e a sutileza dos tambores do candomblé, dando vida à ópera Amor Azul”, afirma.
“Estaremos na casa de Gil, no templo do Neojiba e no terreno da Concha Acústica. Assim como Ganges encontra o Jamuna, em Salvador o Amor Azul aportará no infinito mar da Bahia”, finaliza o diretor.
Serviço: