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Roberto Midlej
Publicado em 30 de março de 2025 às 05:48
O argentino Sebastián Gerlic, 57 anos, se considerava agnóstico. Portanto, embora não rejeitasse completamente a fé em Deus, também não era capaz de cravar sua existência. Depois de quase 30 anos convivendo com indígenas brasileiros, Sebastián reviu seus conceitos: “Na Argentina, tive uma educação formal pautada nos valores do Iluminismo e da racionalidade. Mas o Brasil me apresentou um lugar onde a espiritualidade está presente e onde negros e indígenas se revelam mestres do conhecimento”, revela o homem que hoje se considera um animista, para quem os seres vivos têm alma e vivem conectados entre si.>
Cineasta, Sebastian se interessou por essa ligação que o povo indígena tem com a espiritualidade e resolveu transformar isso numa websérie de curtas documentais, que serão lançados a partir do próximo dia 14, no YouTube: Inteligência Ancestral, que estará disponível no canal Mensagens da Terra. Em cada um dos sete episódios, ele traça um perfil de um indígena, de etnias diversas. Num oitavo filme, que será lançado mais tarde, haverá uma compilação desses depoimentos.>
A expressão Inteligência Ancestral é um contraponto à Inteligência Artificial, que anda tão badalada. Num trabalho com indígenas há cerca de três anos, o cineasta notou as críticas que eles tinham ao uso da Inteligência Artificial, como lembra Sebastián: “Usamos a ferramenta Midjourney para criar imagens descritas por indígenas e percebemos que o resultado era repleto de estereótipos. Quando eles pediam para a inteligência artificial gerar imagem de um indígena, sempre aparecia uma representação com fisionomia boliviana. Ou, quando falavam para mostrar um médico, era sempre um homem branco usando o jaleco. Notamos que a IA sabia representar um loiro, mas não sabia fazer o mesmo com um indígena”.>
Por outro lado, a artista e arte educadora, Yala Payayá explica o que significa Inteligência Ancestral para os povos originários. “A inteligência ancestral são todas as tecnologias criadas e praticadas pelos povos originários que fizeram com que eles mantivessem vivendo em harmonia com a natureza, sem agredir as outras vidas e sempre viveram bem a partir dessas práticas, conseguindo fazer a manutenção da vida, da biodiversidade onde moram, da sustentabilidade e da relação com a natureza”.>
Nos filmes, os personagens entrevistados explicam o que é a inteligência ancestral e a importância dela para suas vidas. “O que somos hoje tem muito a ver com nossos ancestrais e para os povos originários é muito importante usar as experiências e sabedorias anteriores”, revela Sebastián. A espiritualidade também tem destaque em alguns depoimentos. “Num deles, a entrevistada conta como aprendeu a nadar. Diz que fez uma oração para um encantado e assim conseguiu nadar. Para ela, todos nós temos essas inteligência com a natureza”, diz o diretor.>
O projeto da série havia sido contemplado com recursos da lei Paulo Gustavo e, para escolher os entrevistados, Sebastián diz que buscou a diversidade: por isso, há pessoas das mais diversas etnias, inclui representantes da Amazônia, da Região Sul e do Nordeste. Há também uma variação etária e de gênero, incluindo um transgênero. Em alguns casos, os próprios entrevistados filmaram a si mesmos e experimentaram ser cineastas por um dia. “Há também quem dirigiu o próprio curta, porque queríamos que eles também participassem de todo o processo. Nós evitamos um processo hierárquico”, revela o diretor.>
"A série tem como objetivo inspirar uma transformação de pensamento e encorajar o público a refletir sobre a relação entre arte, cultura e vida. Ao compartilhar as vozes dos artistas indígenas, os filmes promovem a valorização da sabedoria ancestral que, sem descartar as tecnologias, propõe uma inovação que simultaneamente retorna e avança, que faz uma articulação entre passado e futuro, que espiralam tudo e pulsa no centro: a vida", diz o diretor.>
Websérie Inteligência Ancestral, disponível a partir de 14 de abril, no canal Mensagens da Terra, no YouTube>
Título: Oeste à brasileira com Babu Santana e Ângelo Antônio>
Está em cartaz a produção brasileira Oeste Outra Vez, com os ótimos atores Babu Santana e Ângelo Antonio e direção Erico Rassi. Como no outro filme de Erico - Comeback, de 2016 -, temos aqui um faroeste à brasileira. A história de Oeste Outra Vez acontece no sertão de Goiás e acompanha Totó (Ângelo Antônio) e Durval (Babu Santana), dois homens brutos que após serem abandonados pela mesma mulher, se voltam violentamente um contra o outro. A narrativa aproveita os elementos de um western para tratar temas como solidão e homens incapazes de lidar com suas próprias fragilidades. O longa-metragem venceu importantes prêmios no 52º Festival de Cinema de Gramado: Melhor Filme, Melhor Fotografia e Melhor Ator Coadjuvante, com Rodger Rogério no papel de Jerominho. O elenco tem ainda o veterano e ótimo baiano Antônio Pitanga. >
Em cartaz no Glauber Rocha, UCI Shopping da Bahia e Shopping Barra, Saladearte Paseo e Ufba>