Mostra de Cinemas Africanos tem 30 filmes de 16 países

Evento em Salvador acontecerá a partir desta quarta-feira (18), com presença de cineastas

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  • Roberto Midlej

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 09:27

O romance Banel & Adama (Senegal) é a atração da abertura amanhã, no Cineteatro 2 de Julho, às 19h
O romance Banel & Adama (Senegal) é a atração da abertura amanhã, no Cineteatro 2 de Julho, às 19h Crédito: divulgacao

A Mostra de Cinemas Africanos começou a acontecer em 2017 e nesta quarta-feira (18), às 19h, começa mais uma edição do evento. No título, chama a atenção o uso da expressão “cinemas africanos” no plural. Explica-se: são 30 filmes que vêm de 16 países do continente, o que confirma a diversidade pretendida pela curadoria.

“O uso do plural marca uma pluralidade e serve também para demarcar que a África não é um país”, afirma Ana Camila Esteves, curadora do evento junto com a senegalesa Ibee Ndaw. Estarão em Salvador cineastas de diversos países do continente, como Abderrahmane Sissako (Mauritânia), Ramata-Toulaye Sy (França/Senegal), Natasha Craveiro (Cabo Verde), Naledi Bogacwi (África do Sul) e Dika Ofoma (Nigéria). Eles vão participar de conversas com o público após as sessões.

Ramata-Toulaye Sy dirige Banel & Adama (Senegal), filme que abre a programação na quarta-feira, no Cineteatro 2 de Julho, no Irdeb (Federação). No romance, os jovens personagens do título estão apaixonados. O jovem casal vive em uma aldeia remota no norte do Senegal, mas o amor deles se choca com os costumes da comunidade local. Em São Paulo, que também recebe a Mostra, o longa de abertura é Black Tea - O Aroma do Amor. Por acaso, é também um romance. “Os dois são uma história de amor, o que não costumamos esperar do cinema africano. Então, essa coincidência acaba sendo interessante, para surpreender o público”, diz Camila.

Apartheid

Dentro do evento, há mostras específicas, como aquela que celebra os 30 anos do fim do apartheid na África do Sul, resultado de uma parceria com o Durban International Film Festival (DIFF), que acontece naquele país. Mas, de acordo com Camila, a seleção para o evento brasileiro tem alguns diferenciais: “A nossa seleção é diferente, porque aqui os filmes devem ser mais ‘didáticos’, já que no Brasil essas histórias [sobre o apartheid] são menos conhecidas que na África do Sul”.

Nessa programação, um dos destaques é o documentário Banido (2024), da cineasta Naledi Bogacwi. A produção destaca a importância do filme Joe Bullet (África do Sul, 1973), o primeiro filme com um elenco totalmente composto por pessoas africanas negras. O filme estreou de forma independente no Eyethu Cinema, em Soweto (África do Sul), mas logo em seguida foi banido pelo governo do apartheid e nunca mais foi exibido novamente.

A diretora Naledi Bogacwi diz que Joe Bullet representa um marco significativo, embora muitas vezes esquecido, no cinema africano: “Ele foi banido pelo governo do apartheid, apesar de seu conteúdo não ser político. Isso destaca como a censura durante o apartheid não se limitava a suprimir a dissidência política, mas também a silenciar as vidas cotidianas e as aspirações do povo negro”, revela a cineasta.

Há ainda sessões especiais que lembram os 30 anos do genocídio em Ruanda, que provocou a morte de mais de 800 mil pessoas em 1994. Um dos destaques é o filme Dia dos Pais (Ruanda/2022), cuja protagonista é uma mulher que está de luto pela morte do filho. O drama mostra o papel dos pais, a masculinidade tóxica e o sistema patriarcal no país que vive as sequelas daquela tragédia.

Uma outra mostra dentro do festival é dedicada aos cem anos de nascimento do líder revolucionário Amílcar Cabral (1924-1973), que lutava pela independência de Cabo Verde e Guiné Bissau, colônias portuguesas. Os filmes exploram a influência de Amílcar naqueles processos. “Amílcar Cabral é o Che Guevara daqueles países, mas não o conhecemos. É uma figura emblemática da memória africana, mas controversa, como muitos líderes revolucionários”, diz Camila.

SERVIÇO

Mostra de Cinemas Africanos. De Amanhã até o dia 25 deste mês. Cineteatro 2 de Julho, Saladearte CineMAM, Saladearte Cinema da UFBA, Saladearte Cinema do Museu. Abertura amanhã, com a exibição de Banel & Adama, 19h, no Cineteatro 2 de Julho (Irdeb, Federação). Preços variam de gratuitas a R$ 20, a depender da sala. Venda na bilheteria e no site saladearte.art.br