Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Roberto Midlej
Publicado em 2 de novembro de 2023 às 06:00
Ícone do humor brasileiro, Mussum teve sua vida revelada na biografia Uma História de Humor e Samba, de Juliano Barreto, lançada em 2014. Em 2018, chegou aos cinemas o documentário Mussum, um Filme do Cacildis. Agora, é a vez de o público ver a vida de Antônio Carlos Bernardes Gomes - nome de batismo do humorista e sambista - contada em forma de ficção nos cinemas.
Mussum, o Filmis chega aos cinemas nesta quinta-feira (2), com Ailton Graça no papel do comediante. A direção é de Silvio Guindane, ator de 40 anos, conhecido por séries como Impuros e A Divisão. Mas ele também tem experiência na comédia: é o Lacraia de Vai que Cola, no Multishow, desde a primeira temporada.
Um outro nome envolvido no longa-metragem pode causar certa desconfiança: o roteirista Paulo Cursino, responsável por histórias de humor que às vezes causam certo constrangimento no espectador ao assisti-las. Cursino é o criador de clássicos (?) da comédia popular brasileira estrelados por Leandro Hassum como O Candidato Honesto e Até que a Sorte Nos Separe, que foram muito bem nas bilheterias. Mas as piadas, para dizer o mínimo, eram de gosto "duvidoso". Quase sempre apelavam para o histrionismo e a vulgaridade.
Mas não é que desta vez Cursino consegue surpreender positivamente? Primeiro, porque Mussum, o Filmis não é exatamente uma comédia, embora tenha lá seus momentos de graça. Depois, porque Cursino dá um tom melodramático à história, mas sem jogar baixo com o espectador.
E olha que ele tinha nas mãos material para isso, afinal havia elementos de sobra para apelar para a emoção fácil, a começar pela história de Mussum, muito associada ao vício em bebidas. Há também a superação da miséria e de outras adversidades que poderiam dar um tom heroico ao protagonista. Mas Cursino se livra da tentação e faz provavelmente seu melhor filme até hoje. Porém, calma lá: isso não quer dizer Mussum, O Filmis seja excelente, afinal, a base de comparação é bem baixa quando nos lembramos dos inúmeros tropeços do roteirista em sua carreira.
Elenco
Mas, além do roteiro, o filme tem outros acertos, a começar pelo elenco: o talento de Ailton Graça já é conhecido do público e vai muito bem tanto nos momentos cômicos como nos dramáticos da cinebiografia. O ator foi vencedor de um dos seis prêmios que Mussum, o Filmis levou no Festival de Gramado em agosto: filme, ator (Ailton Graça), ator coadjuvante (Yuri Marçal), atriz coadjuvante (Neusa Borges), trilha musical (Max de Castro) e melhor filme pelo júri popular. Houve ainda menção honrosa a Martin Macias Trujillo, por seu trabalho de caracterização.
Yuri Marçal, conhecido humorista das redes sociais, interpreta o Mussum jovem, quando servia ao Exército e era um disciplinado cabo. Thawan Lucas Bandeira atua na fase infantil do protagonista, ao lado de Cacau Protásio - a Dona Malvina, mãe do comediante. Cacau aqui também surpreende, revelando-se boa atriz dramática.
Ela interpreta uma mãe carinhosa, mas severa e disciplinadora. "Acho que toda mãe preta tem essa característica de ser carinhosa e cuidadora, mas saber dar bronca quando tem que brigar. Minha mãe era carinhosa quando tinha que ser carinhosa, gentil… E quando ela tinha que brigar também, ela brigava", diz a atriz.
A trilha sonora também se destaca, com referências a Cartola - interpretado por Flávio Bauraqui, que fica muito parecido com o sambista graças à caracterização - e Elza Soares, que ganha vida com a baiana Larissa Luz. E, claro, tem as músicas dos Originais do Samba, grupo que revelou Mussum para o país e onde teve início sua carreira artística. A inesquecível Tragédia no Fundo do Mar (O Assassinato do Camarão) está na trilha, para a alegria do público.
Embora evite se aprofundar em assuntos melindrosos - como a relação de Mussum com o álcool e a briga que causou a separação dos Trapalhões em 1983 -, o filme emociona e é um ótimo programa para o fim de semana. E, para os mais velhos, que gostam de ter aquela sensação nostálgica, sugiro assistir no domingo à noite, por volta das 19h, antes do Fantástico. Se você entendeu por que, certamente assistiu aos Trapalhões na sua infância.
Em cartaz: UCI Shopping Barra, da Bahia, Paralela, Cine Glauber Rocha, Cinépolis, Saladearte Paseo e MAM