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Roberto Midlej
Publicado em 12 de outubro de 2023 às 06:00
A ficção Meu Nome é Gal, que estreia nesta quinta-feira nos cinemas, nasceu a partir da série documental O Nome Dela é Gal, exibida em 2017 na HBO e dirigida por Dandara Ferreira. Foi dali que começou a amizade entre Gal Costa (1945-2022) e a diretora do novo longa - que é filha do ex-ministro da Cultura Juca Ferreira, nasceu em Salvador e viveu na capital baiana até os 12 anos.
A cantora entregou a Dandara a responsabilidade de dirigir o filme baseado em sua vida. Entrou no projeto também uma codiretora, Lô Politi, do documentário Alvorada, que mostrava os últimos meses de Dilma na presidência.
A ideia inicial era mostrar um período relativamente longo da carreira de uma das maiores cantoras da história do Brasil, interpretada no filme por Sophie Charlotte. Mas a ideia foi se modificando e a equipe envolvida no projeto entendeu que era melhor um recorte sobre o início da trajetória de Gal, mais especificamente, de 1966 - quando ela se muda para o Rio de Janeiro - até 1971, quando estreia o emblemático show Fa-Tal.
E está aí o primeiro acerto do filme, que acaba sendo não apenas um retrato de Gal, mas também do início de um dos movimentos culturais brasileiros mais importantes de nossa história, o Tropicalismo. Desfilam na tela personagens fundamentais para aquela revolução cultural e muito importantes também para a vida e para a carreira de Gal, como Gilberto Gil (Dan Ferreira), Caetano Veloso (Rodrigo Lellis), Dedé Gadelha (Camila Márdila) e Guilherme Araújo (Luis Lobianco).
Sexualidade
Como a iniciativa de realizar o longa partiu da cantora, seria natural imaginar que poderia haver algum tipo de censura ou um risco de se tornar um produto chapa-branca e insosso. Mas não é isso que acontece, como vemos em alguns momentos na tela. É verdade que Gal já havia morrido quando o filme ficou pronto e não poderia intervir no corte final, mas ela em nenhum momento pediu às diretoras ou roteiristas que assunto algum ficasse de fora.
A sexualidade dela, por exemplo, era quase um tabu. Numa entrevista em 2018, uma repórter tentou questioná-la sobre o assunto e começou a perguntar: “Você é reservada em relação a sua sexualidade...”. “Sou e ponto final”, interrompeu secamente a cantora, sem deixar brechas. Mas a questão está de maneira muito transparente no filme, que mostra o namoro de Gal com a personagem Lélia (Ellen Clarice).
E o filme revela também o desconforto da artista quando é supreendida por uma visita da mãe, Mariah (interpretada por Chica Carelli), que não sabia do relacionamento dela com outra mulher. Gal está dormindo com a namorada e tenta dar um jeito de mandá-la embora sem que a mãe saiba que Lélia estava morando em sua casa. “Tratamos [a sexualidade] com a naturalidade que eles mesmo [Gal e os amigos] tratavam. A coisas aconteciam com naturalidade, então não era uma ‘questão’ para eles. Não se perguntavam: ‘como é minha sexualidade?’”, diz Lô Politi.
Guilherme Araújo
Entre os personagens importantes para a construção do mito que Gal se tornou está o empresário Guilherme Araújo, fundamental também para a concepção da Tropicália. Foi por sugestão dele, como mostra o filme, que Maria da Graça adota o nome Gal Costa: “Maria da Graça parece nome de cantora de fado”, brincava.
Luis Lobianco, que se tornou conhecido por sua atuação no Porta dos Fundos e esteve em novelas como Vai Na Fé, é quem interpreta Guilherme. Ele dá um tom excessivo à sua intepretação e abusa de alguns trejeitos, mas é tudo muito estudado e intencional, revela o ator: “Conversei com Caetano e Paula [Lavigne] sobre Guilherme e eles disseram: ‘Não economize! Ele era intenso, apaixonado, espalhafatoso’”, lembra Luis.
Lobianco ressalta a importância histórica de seu personagem: “Ele era muito intuitivo: olhoo para aquele grupo de artistas e entendeu que o talento deles não cabia numa cidade. Era uma coisa universal, como falava para Gal, que ela era internacional”.
E, claro, outro grande acerto do filme é Sophie Charlotte, que, além de ótima atriz, dá conta do recado cantando também. Algumas canções estão na voz de Gal e outras, na voz da própria Sophie. Mas ela não revela quais, pois acha que o exercício de distinguir as vozes faz parte da “brincadeira” com o espectador. Mas, a atriz faz questão de deixar claro que jamais tentou imitar a cantora: “Tinha receio de virar uma caricatura e de forma nenhuma queria parecer pretensiosa. A obra dela é absoluta!”.
Em cartaz no Cine Glauber Rocha; Cinépolis (Parque Bahia e Salvador Norte); UCI Shopping Barra; UCI Shopping da Bahia; UCI Shopping Paralela