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Luiza Gonçalves
Publicado em 20 de janeiro de 2025 às 02:30
Metamorfose musical intencionalizada, pesquisa e maturação, reunião de vozes e encontros geracionais na reflexão sobre o ser. Dessa tricotomia, nasce O Mundo Dá Voltas, quinto e novo álbum de estúdio da BaianaSystem, definido pelo grupo como continuação do premiado O Futuro Não Demora (2019) e conduzindo-os entre concepções e transformações do mundo, e a leitura musical deste cenário. Um álbum de unidade musical bem estruturada, com uma proposta narrativa mais reflexiva, e que conta com nomes luxuosos em sua produção como Maestro Ubiratan Marques, Antônio Carlos & Jocafi, Gilberto Gil e Mestre Lourimbau.
“É um disco que trata de internalização, de pessoas, de gente. A transformação que vemos de O Futuro Não Demora para cá em construção filosófica, de composição, de entendimento do mundo lá fora. É que trata-se muito da gente, do nosso mental, da nossa comunicação e da nossa sobrevivência no mundo. O outro falava do mundo, água, fogo; nesse, a gente fala da pessoa”, destaca Russo Passapusso, vocalista, compositor e diretor musical do álbum.
O novo trabalho também é demarcado pelos saberes do fazer, com uma Baiana cada vez mais madura e segura de si em composições e produção musical, garante Russo. “O que aconteceu com todos os músicos nesses últimos três anos foi um domínio melhor sobre o meio de produção, técnica, de equipamento, de acesso e de condução e organização”, explica. Musicalmente, ele destaca que a intencionalidade dos atos, mais uma vez em função dos anos de produção, permitiu que a pesquisa e a metodologia de O Mundo Dá Voltas garantissem sua unidade sonora. Um outro elemento-chave para esse efeito é a atuação do Maestro Ubiratan Marques, renovando a parceria vista em O Futuro Não Demora.
“Nós temos uma sorte suprema de ter um maestro tocando com a gente e participando do processo criativo. E nesse disco a ordem se inverte e os arranjos de Bira é que foram uma base para o resto. É muito presente em todo momento, é quase indissociável da narrativa de O Mundo Dá Voltas essa participação de Bira”, pontua Roberto Barreto, guitarrista e produtor executivo.
“Esse disco foi diferente dos outros porque ele parte justamente de uma narrativa. A condução dela vem com a linha de pensamento, com esse sentimento que perpassa o álbum inteiro”, ressalta ainda Roberto. Um ciclo de criação a partir do eu, que em suas 13 faixas e clipes constrói um sentido encadeado em suas composições e sonoridade, além da referência direta a O Futuro Não Demora.
A narrativa é iniciada no sonho musical de Batukerê, que vislumbra o horizonte em A Laje, ganha as ruas e a Praia do Futuro — composta há 40 anos por Antonio Carlos & Jocafi — equilibra a liberdade, a capacidade de jogar o jogo, a busca pelo dinheiro e amor, reconecta-se com a família no Pote D’Água, chegando à paz em Ogun Nilê.
Um mosaico vibrante que parte dos atabaques ancestrais sempre presentes em todas as canções, com variedade de metais nos sopros, guitarra baiana e ritmos afro-diaspóricos, refletindo a pulsação da música soteropolitana. Acompanhado por clipes, o lirismo voa por paisagens reflexivas, urbanas, referências a clipes e momentos marcantes dos 15 anos de BaianaSystem e destaca os artistas durante a gravação das faixas.
O Mundo Dá Voltas marca um rico período de encontros na canção brasileira, destaca Russo, unindo gerações como Melly, Pitty, Vandal, Gilberto Gil, Seu Jorge, Emicida, Anitta, Orquestra Afro Sinfônica, entre outros. Um dos destaques emocionantes é Pote D’Água, composição do mestre do berimbau Lourimbau, apresentada pela Baiana a Gilberto Gil e regravada com arranjos de Ubiratan Marques, mesclando trechos da gravação original.
“É a música mais importante do disco, a mais linda, desse sentimento de música brasileira. Tinha que ser Gil para gravar porque é um mestre trazendo na vida de Lourimbau a importância desses e de outros mestres que muitas vezes são invisibilizados. É uma grande dádiva, potência, o grande elemento forte de poder musical que a gente agradece fazer parte de vez, de ver Gil cantando Lourimbau dentro de um grupo como BaianaSystem”, revela Russo Passapusso.
FV 2025
O show da BaianaSystem no Festival de Verão 2025 promete ser uma extensão do processo criativo apresentado em O Mundo Dá Voltas. Com uma proposta afro rock, a banda traz a essência de sua "metamorfose musical", misturando o peso dos tambores baianos com novas sonoridades. “Esse disco O Mundo Dá Voltas tem uma mensagem a se contar. E vamos trabalhar nisso... Vamos ter também uma música nova e arranjos de construção nova”, adianta Russo.
O público pode esperar uma apresentação que é tanto um reencontro com as raízes da BaianaSystem quanto um passo ousado rumo ao futuro, unindo a energia contagiante do afro rock ao frescor das novas criações musicais. Para a apresentação, a BaianaSystem conta com as participações de Marcelo D2 e BNegão, artistas que, juntos ou em carreiras solo, exploram a multiplicidade musical brasileira. “Marcelo D2 é um cara que estuda samba, essa relação dele com o samba é muito forte, e BNegão também é um cantor multifacetado”, ressalta o vocalista, antecipando a força dessa parceria.