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Thais Borges
Publicado em 4 de novembro de 2023 às 16:00
Com apenas metade do corpo bronzeado, um homem entra em um apartamento. "Espera aí, tem alguma coisa diferente", diz um cara sentado à mesa, quando o vê. "Fui ao lugar de bronzeamento que sua mulher recomendou", responde o primeiro. "Esse lugar era… o Sol?", arremata o que estava sentado, arrancando gargalhadas toda vez que essa cena é reproduzida - seja quando foi ao ar pela primeira vez, em 2003, ou ainda hoje, a cada play que recebe em um serviço de streaming.
Provavelmente ler o diálogo acima não foi engraçado - a menos que você tenha imediatamente reconhecido de onde veio. De fato, apenas ler as palavras ditas pelos personagens de Ross Geller - o bronzeado - e Chandler Bing - o debochado - dificilmente proporcionaria a mesma experiência que assistir a esse episódio da décima e última temporada de Friends. Quem apenas lê não consegue imaginar a entonação dada por Matthew Perry, o intérprete de Chandler, nessa e em outras sequências, a ponto de tornar as frases memoráveis mesmo para quem não é nativo do inglês até hoje, quase 20 anos após o fim da produção, encerrada em 2004.
Desde o último sábado (28), quando foi anunciada a morte do ator Matthew Perry, vítima de um afogamento em sua casa, aos 54 anos, em Los Angeles (EUA), milhões de fãs pelo mundo têm prestado condolências e homenagens não apenas ao artista, mas ao seu personagem. O que mais se viu nas redes sociais ao longo da última semana foram textos e relatos sobre Chandler Bing, aquele que era preferido do grupo de seis amigos para muitos dos admiradores da série.
Muitas das postagens que viralizaram tinham os mesmos dizeres: "Aquele em que todos nós perdemos um amigo". Era uma referência aos títulos de todos os episódios, que começavam sempre com "Aquele" - no original, em inglês, "The One". Mais forte do que isso, porém, foi a percepção comum de que Chandler foi o retrato de uma geração - e se eternizou pelas seguintes. "É difícil pensar o humor autodepreciativo que a minha geração usou de muleta social por anos como algo separado do que ele (Perry) comunicou com Friends", dizia um dos posts que viralizou na rede X (antigo Twitter).
A comoção seguiu pelos dias seguintes. Segundo a pesquisadora Jessica Neri, doutora em Comunicação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e estudiosa do humor televisivo, a morte de Perry acaba por representar a morte de uma juventude e das coisas que as pessoas desejam quando jovens. Além disso, os atores tinham um envolvimento fora da tela, já que os seis protagonistas de Friends se tornaram amigos de verdade.
"Isso alimenta o impacto que a série constrói. Então, a morte de Matthew Perry traz também um pouco desse impacto ficcional que se estendeu para a vida real e a própria trajetória do ator. Por ter sido uma pessoa que falou sobre seus demônios, ele trazia um pouco para a realidade", analisa.
Olhar
Friends estreou há quase 30 anos - em 22 de setembro de 1994, na NBC. A sitcom - termo que vem de 'situation comedy', no inglês, e se refere a esse tipo de seriado de comédia - permaneceu no ar por 10 anos e, desde o início, foi um sucesso absoluto. Nas últimas temporadas, os seis amigos protagonistas ganhavam US$1 milhão por episódio cada um. Eram episódios semanais e, naquela época, cada temporada tinha, em média, 24 episódios.
"Assistir Friends sempre foi o momento mágico do dia. Nos intervalos entre uma temporada e outra, ficávamos sonhando com o recomeço e imaginando o que estava por vir", conta a advogada Ially Carmo, 43 anos, que conheceu a série quando o irmão a convidou para assistir um dos episódios, em 1996. Hoje, ela tem objetos da série em casa e até fez uma festa temática no aniversário de 40 anos.
Para ela, os seis funcionam juntos justamente por estarem juntos. Uma prova disso citada por Ially é o fato de que Matt LeBlanc, o ator que interpreta Joey, chegou a ter uma spin-off de Friends - chamada justamente de Joey -, após o fim da série. No entanto, a produção não decolou e foi cancelada após duas temporadas. Por isso, ela compara a comoção com a morte de Matthew Perry ao sentimento pela perda da cantora Marília Mendonça, em 2021.
Ially lista adjetivos para descrever, assim, o personagem Chandler: sarcástico, divertido, bobo. Azarado, bom coração e 'o cara da grana', que muitas vezes salvava financeiramente o amigo Joey. "Chandler faz piada dele mesmo, de seus relacionamentos, de sua falta de senso, da falta de sorte nos relacionamentos. Isso é tão real e ele aborda de forma muito leve todas as situações. Ele nos mostra como é importante rirmos de nós mesmos. Isso é um lindo legado", diz.
A percepção dela converge com o que dizem os estudiosos do humor: Chandler realmente tinha o papel de mostrar algo aos espectadores. De acordo com a pesquisadora Jéssica Neri, muitas séries de humor contam com um personagem que representa o olhar cômico do público. Essa pessoa é a porta de entrada para as situações cômicas e, portanto, é como se ela estivesse ali também para apontar e dizer que aquela frase, diálogo ou momento era engraçado.
"Chandler é esse personagem. Ele se conectava muito por esse lado, por ser o personagem mais sarcástico. Era altamente empático, então tinha o lado humano dele. Por isso, a morte dói, porque o personagem também era o nosso olhar sobre a série, a representação do público sobre o humor na série. A dor aumenta porque existe essa dupla identificação", aponta.
Gerações
Foi também no final da década de 1990 que a arquiteta e urbanista Grace Gomes, 65, começou a ver a série, também por influência do irmão. “Para a gente que estava mais ou menos naquela idade, era um reflexo da nossa realidade. Quando eu tinha a idade que eles tinham na época do seriado, era assim que a gente lidava com os amigos”, lembra.
As piadas, para Grace, eram simples e leves. Chandler, nesse aspecto, aparecia como alguém que tinha medo de assumir as coisas - ou que precisava sempre de um ‘empurrãozinho’ do grupo. Era o mais inseguro. “A partida dele é como a partida de um amigo: aquela pessoa que a gente conviveu contando bobagens, aquela coisa descontraída. É perder aquele amigo que fazia a gente rir quando estava cansado do trabalho ou da escola”, reflete.
Em 2014, numa viagem à Califórnia com a mãe e as irmãs, ela visitou o cenário de Friends nos estúdios da Universal. A enorme fila para as pessoas fazerem fotos no café onde tantas cenas aconteceram, para ela, é uma mostra dessa irmandade.
“Estava conversando com meu irmão e ele disse que no mês passado, pegou o conjunto de DVDs e começou a assistir de novo, agora com o filho mais novo. E essa série ainda o toca, independente do tempo, porque não é ligada a uma situação específica daquele tempo, mas ao dia a dia de jovens que se reúnem, que estão procurando emprego e estão naquela de: ‘o que vai ser da nossa vida?”.
De alguma forma, a série conseguiu transpassar gerações. Estudante do Ensino Médio, Maria Lis Mattos, 17, começou a ver a série aos 12 anos, incentivada por uma amiga. Logo gostou da personalidade de Chandler.
“É um personagem com quem eu sempre me identifiquei pela forma em que ele lida com as coisas - meio desesperada e usando o humor como defesa”, exemplifica. “Você tem vontade de conhecer mais sobre a história dele e, conforme isso vai acontecendo, é extremamente satisfatório ver a forma que ele evolui e enfrenta tudo aquilo de que sempre fugiu”.
Assim como outros fãs, a adolescente diz que é “inacreditável” constatar a morte de Matthew Perry - ou, mais especificamente, da pessoa que deu vida a um dos personagens que mais lhe inspira. Perder o amigo, neste caso, é algo relacionado ao fato de ver os personagens crescendo e amadurecendo. “Não importa quantos anos você tenha, sempre vai ter alguma situação mostrada na série em que você vai se ver, trazendo assim um ar de familiaridade e aconchego”.
A experiência da estudante de Medicina Bruna Vitória, 23, é um tanto parecida. Em 2015, quando tinha apenas 15 anos, teve o primeiro contato com a série numa viagem a Nova York. Na ocasião, ela percebeu que diferentes pessoas falavam de um prédio de esquina que teria relação com uma série que, até então, não tinha assistido.
Em 2019, começou a ver muitos produtos licenciados e divulgação sobre Friends. Na época, já havia a expectativa de que a obra fosse sair da Netflix e partir para o (então) futuro streaming concorrente HBO Max. De fato, Friends tem uma das marcas mais bem-sucedidas com produtos licenciados e direitos de exibição. A imprensa dos Estados Unidos já noticiou que, por ano, a série ainda rende US$ 1 bilhão.
Isso foi algo que intrigou Bruna, ainda que o primeiro episódio não tenha sido muito atraente. Para ela, a distância cultural de algo exibido seis anos antes de nascer pode ter sido decisivo. “Porém, os personagens eram tão únicos”, pondera. “Principalmente Chandler, que foi o que mais me cativou por seu sarcasmo e sacadas tão inteligentes que me faziam chorar de rir, mesmo não entendendo tudo do contexto”, lembra.
Os assuntos ditos universais, aqueles que são independentes do momento histórico, também a fizeram continuar assistindo. Bruna cita situações que vão desde aprender a recomeçar, a exemplo de quando Chandler muda de carreira, até ter os amigos como família. Para ela, ninguém mais poderia ter interpretado Chandler além de Matthew Perry. “Matt era o Chandler, Chandler era o Matthew. Todos que o conheceram falam da sua inteligência e o quanto tinha facilidade em fazer os outros rirem. Esse era ele na série”.
A identificação com o personagem é porque, em suas palavras, todos são um pouco do personagem. “Chandler vivenciou o recomeço com a área profissional. Venceu o medo de falar com seu pai, convidando-o para o seu casamento. Quantas pessoas têm problemas de paternidade? Chandler tem medo de se tornar pai e medo de grandes responsabilidades. Quantos de nós? Chandler foi crescendo na série e a gente com ele”, acrescenta.
Arquétipo
Chandler era mesmo o personagem ‘gente como a gente’, segundo a professora e roteirista Amanda Aouad, doutora em Comunicação e Cultura pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). Ele representa o tipo comum - alguém que não tem nada de excepcional. Não era o mais bonito, o mais bem-sucedido, nem o mais inteligente. Ao mesmo tempo, conseguia ser um pouco de tudo isso - era o ‘cara legal’ que sofre, mas brinca com situações difíceis.
Ainda de acordo com a professora, os seis personagens de Friends seguem os arquétipos da comédia que foram descritos pelo autor Scott Sedita no livro The Eight Characters of Comedy: A Guide to Sitcom Acting and Writing (Os oito personagens da comédia um guia para roteiro e atuação de sitcoms, em tradução livre). “Ele é o neurótico, aquele personagem que é extremamente ansioso, que faz muitas piadas autodepreciativas, mas acaba também fazendo piada de tudo ou sendo engraçado simplesmente por seus medos infundados e suas atrapalhações”, explica Amanda.
Chandler era inteligente, rápido e extremamente irônico. “Mas o que era melhor em Friends é que todos os seis personagens iam além do estereótipo. Havia também em Chandler momentos em que ele era ingênuo, acolhedor e, claro, amigo”, acrescenta.
A própria dinâmica da série ajuda a provocar a identificação. Para a pesquisadora Jéssica Neri, Friends conseguiu se manter atual justamente porque trabalha com um imaginário da juventude que passa por etapas como sair da casa dos pais e construir uma família que são seus amigos. É daí que vem o humor. Um dos episódios mais lembrados para citar essa identificação é justamente aquele em que eles fazem 30 anos.
Chandler, neste contexto, é um personagem mais ácido. "Muitas vezes, ele parece o personagem mais firme emocionalmente e que também tem uma estabilidade profissional mais sólida, até de onde vêm as questões emocionais. Quem nós, jovens, gostaríamos de ser quando saíssemos de casa? Talvez seja Chandler, que está com a cabeça mais fresca e o olhar mais crítico sobre a vida", acrescenta Jéssica.
Conexão
Friends, ao contrário de outras sitcoms ou mesmo séries em geral, não tem marcadores muito fortes da cultura estadunidense. Segundo a pesquisadora Jéssica Neri, a complexidade da obra vem justamente do fato de ser uma série simples, sem segmentos com os quais pessoas de diferentes culturas não pudessem se identificar. “Friends é uma série bastante única nesse sentido. O humor trabalha muito com o ‘rir de’, enquanto, em Friends, a gente ‘ri com’ sempre”, explica.
A facilidade na compreensão, inclusive, faz com que essa seja uma série recorrente nos estudos de quem está aprendendo a língua inglesa. Com diálogos de fácil compreensão e sem entrar em detalhes da cultura americana, é comum que seja usada em aulas ou como suporte de estudantes do idioma.
O líder da boyband coreana BTS, RM, por exemplo, já disse que os personagens de Friends foram seus “pais do inglês”. RM, que já tinha dito que se identificava mais com Chandler, postou uma homenagem a Matthew Perry no sábado. A atriz cubana Ana de Armas, indicada ao Oscar de 2023 por interpretar Marilyn Monroe em Blonde, também aprendeu o idioma com a série, quando se mudou para os Estados Unidos, aos 26 anos. “Quem imaginaria que o melhor professor de inglês seria Chandler Bing?”, disse, em uma apresentação em abril deste ano.
Matthew Perry reconhecia isso e chegou a comentar em seu livro sobre como a entonação de Chandler teria até mudado a forma como as pessoas falam inglês. A ideia veio da forma como ele e dois amigos conversavam, na infância e início da adolescência, enquanto ele ainda morava no Canadá. Em mais de uma passagem, ele diz que falava de uma forma que ninguém havia falado antes em sitcoms, destacando palavras que não seriam destacadas normalmente. Posteriormente, isso teria se tornado um aspecto cultural comum entre falantes da língua.
"Por algum motivo, desde a terceira série tínhamos adotado um jeito de falar que era mais ou menos assim: 'Será que o clima podia estar mais quente?', ou 'Será que o professor podia ser mais chato?', ou 'Será que a gente podia estar em mais detenções?' — uma entonação que você talvez reconheça caso seja fã de Friends ou se notou como os norte-americanos falam há umas duas décadas. (Acho que não é exagero sugerir que Chandler Bing transformou o jeito como as pessoas nos Estados Unidos falam.)", conta o ator, em um dos trechos.
Trabalho
Essa sensação de estar entre seu grupo de amigos fez com que a estudante de jornalismo Acácia Vieira, 22, se apaixonasse pela série no final de 2019. Na época, o interesse foi despertado de forma inusitada: ela ficou curiosa porque um de seus amigos não gostava e falava mal da série. Nos últimos anos, críticas a Friends se tornaram comuns em redes sociais, especialmente criticando a falta de representatividade na série.
No caso de Acácia, porém, a sensação era de que, a cada dia, queria saber mais sobre “seus amigos”. Chandler se tornou seu personagem favorito quando se apaixonou por Monica e os dois passaram a esconder o relacionamento, na quinta temporada. “Chandler é aquele rapaz que todo mundo sonha em namorar, um bom moço, divertido, trabalhador, mesmo que a gente não saiba com o que ele trabalha, um ótimo amigo, muito inteligente e leal a quem ele ama”, explica.
A piada sobre nenhum dos amigos saber com o que Chandler trabalhava era recorrente, especialmente nas primeiras temporadas. Na época, ele trabalhava com análise estatística e reconfiguração de dados na maior parte da série, mas seus amigos não prestavam muita atenção. Na nona temporada, ele se demite e passa a trabalhar com publicidade. How I Met Your Mother, sitcom lançada em 2005 e que muitos apontam como uma rival de Friends ainda que as duas não tenham sido contemporâneas, também teve uma trama parecida com o personagem Barney.
“Chandler sempre foi o mais charmoso, acho que por seu jeito divertido e brincalhão de ser. Eles se tornaram nossos amigos, amigos íntimos que sabiam/sabem nos alegrar nos momentos difíceis. E, perder um amigo é sempre complicado. Me doeu como se fosse um dos meus melhores amigos que tivesse partido, e cá pra nós, realmente foi”, lamenta.
Legado
O crítico de cinema Pablo Villaça foi um dos que destacou o timing cômico de Matthew Perry como Chandler. "É incrível como conseguia tirar graça dos diálogos mais comuns. E era o rei das pausas ("Was that place... the Sun?", "Why is your family... Ross?" - "Esse lugar era… o Sol?, "Por que sua família é… Ross?" ) e das ênfases ("Yes, it was very sad when they stopped DRAWING the deer" "Sim, foi muito triste quando eles pararam de desenhar o cervo")", escreveu, no X, citando algumas cenas memoráveis do ator.
As expressões dele, assim como sua capacidade de fazer piadas de forma blasé, seriam o que tornava sua atuação diferente, na opinião da professora e roteirista Amanda Aouad. Um exemplo disso seria a pergunta que fecha a série. Ela lembra que muitos dizem que a frase não estava no roteiro e foi improviso de Perry.
"A série terminaria com Rachel (Jennifer Aniston) chamando para um último café. Foi ele (Perry) que incluiu o 'Claro. Onde?', quando era óbvio que seria no “Central Perk Café”, cenário fixo da sitcom no qual eles se encontravam todos os episódios. Essa rapidez de raciocínio irônico que deixava tudo melhor".
De acordo com Amanda, ainda que Matthew Perry tenha feito outros personagens (inclusive em séries de sucesso da crítica, como The Good Wife), Chandler é seu maior legado. "Agora, destacaria também uma questão pessoal do ator que ele divulgou e propagou nos últimos tempos, que é a luta contra as drogas, a importância de estar atento a isso e a nossa saúde mental", acrescenta.
Pouco antes de morrer, Perry estava envolvido na criação de uma organização para ajudar pessoas que sofrem de dependência química. O instituto estava nos estágios iniciais e, segundo o portal TMZ, após sua morte, pessoas próximas a ele querem dar continuidade ao projeto.
Autobiografia de Matthew Perry esgotou no Brasil e terá tiragem extra
Desde o início da semana, a autobiografia de Matthew Perry está esgotada no Brasil. Lançada em janeiro no país, a obra Amigos, Amores e Aquela Coisa Terrível (Editora BestSeller) narra situações que vão desde a infância até pouco antes do lançamento, inclusive com relatos do período em que ficou em coma, em 2018.
“Oi, meu nome é Matthew, embora talvez você me conheça por outro nome. Meus amigos me chamam de Matty. E eu devia estar morto”, escreve Perry, no prólogo. Segundo a editora BestSeller, haverá uma tiragem especial para atender à demanda: além dos estoques esgotados, havia pedidos de aproximadamente 15 mil exemplares até a última quarta-feira (1º).
O prefácio é escrito pela amiga Lisa Kudrow, intérprete da personagem Phoebe Buffay em Friends. No texto, ela fala sobre como as perguntas acerca do estado de Matthew Perry foram o principal questionamento que ela ouviu ao longo dos anos. “Este livro é a primeira vez que fico sabendo sobre a experiência dele de viver e sobreviver à dependência química. Matthew me contou algumas coisas, mas nunca com muitos detalhes. Ele agora nos permite entrar na sua cabeça e no seu coração, oferecendo detalhes sinceros com muita vulnerabilidade. E, enfim, ninguém vai precisar perguntar a mim e a mais ninguém como anda o Matthew. Ele mesmo vai contar”, escreveu.
De acordo com o diretor editorial do Grupo Editorial Record, do qual a BestSeller faz parte, Cassiano Elek Machado, o aumento da busca pelo livro não foi uma surpresa. “É bastante comum, quando morre alguma personalidade pública que tenha muitos fãs, que os admiradores desta personalidade queiram fazer um último tributo ao seu artista adorado, comprando discos ou livros, assistindo filmes, ou outras maneiras de celebrar esta existência que lhes alimentou em outros momentos”, diz.
Ainda assim, ele acredita que o caso do livro de Matthew Perry teve uma corrida mais “acentuada” do que o de outras obras do gênero em situações semelhantes devido a razões específicas. O primeiro é justamente o fato de ter sido escrito pelo próprio artista - e não um livro publicado por um autor qualquer sobre aquele artista.
Outro aspecto citado por Machado é o fato de ser um lançamento recente, o que aumentou o interesse de leitores, já que a obra foi lançada há menos de um ano no Brasil. Nos Estados Unidos, saiu em novembro do ano passado. “Se fosse um livro que ele escreveu há 15 anos ou que saiu no Brasil há 10 anos, creio que o fã teria reagido de outra maneira”, diz.
Além disso, Machado considera que o terceiro aspecto que influencia é que o livro é um relato honesto e aberto sobre os dramas vividos pelo ator. “Não creio que se saiba ainda se a morte dele tem relação direta com os tormentos que ele narra no livro, mas o fato de narrar muitas situações de quase-morte aproxima o leitor que quer entender algo difícil, que é a partida tão cedo e repentina de alguém que o fã estima muito. Por fim, o livro é muito bem feito, então os leitores que já experimentaram recomendam aos demais”, completa.