Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Jornal O Povo
Publicado em 16 de novembro de 2024 às 07:12
A cantora baiana Maria Bethânia recebeu nessa sexta-feira, 15, o título de Doutora Honoris Causa da Universidade Federal do Ceará (UFC), que homenageia personalidades de fora da instituição que tenham contribuído de forma notável para a formação de ensino, ciências ou política.
A entrega do título ocorreu em uma Concha Acústica lotada de fãs e foi mediada pelo reitor Custódio Almeida. Durante a cerimônia, ele sugeriu que a artista coroasse a si mesma com o símbolo doutoral. “Em geral, é o reitor quem coloca (o símbolo doutoral), mas uma rainha coroa a si mesma”.
Bethânia estava em Fortaleza para um show com o irmão Caetano Veloso, na Arena Castelão, com a turnê "Caetano e Bethânia Tour", que tem arrastado multidões em estádios pelo país.
Maria Bethânia discursou na Concha Acústica da UFC
O discurso de Maria Bethânia na UFC aconteceu horas depois do início da cerimônia, que contou com a presença do ministro da Educação Camilo Santana e do governador do Ceará Elmano de Freitas. Durante a fala, a artista se colocou como representante da classe trabalhadora brasileira.
“A Universidade Federal do Ceará concede a mim o título de Doutora Honoris Causa e isso me enche de alegria. Agradeço mais uma vez, mas acrescento que estou aqui em primeiro lugar como mulher. Digo isso a fim de marcar a necessidade sempre urgente de ampliar o lugar das mulheres na sociedade civil brasileira. E mais: estou aqui como trabalhadora, como uma das muitas deste imenso, formidável e difícil país. Mas falo de um lugar específico: a música popular brasileira”, afirmou.
Ao longo de quase vinte minutos, ela trouxe versos e prosas de artistas que fazem parte de seu repertório, enquanto intérprete de música popular brasileira.
“Ao ser homenageada nesta universidade, devo, primeiramente, homenagear aqueles que, ao longo desses muitos anos, me constituíram como artista. Minha dívida não é pequena. Minha vontade de agradecer não é menor. Mas seriam tantos nomes que é impossível listá-los e reconstituir tudo que se passa no meu coração. Limito-me a dizer que comigo neste chão pisa uma série infinita de escritores, poetas, compositores, cantores, artistas e amigos", disse.
Reitor da UFC homenageia Maria Bethânia
Custódio, em seu discurso, afirmou que a artista passa a ser uma “luz acesa da primeira universidade do Ceará” e celebrou o legado de Bethânia para a educação da língua e cultura do Brasil. Rememorando a história da baiana, ele pontuou que ela rejeitou padrões de afinação na música e promoveu a MPB com suas “interpretações marcantes”. “Sua voz é potência, tecnologia ancestral e beleza”, ressalta.
“Ao longo de sua carreira, Bethânia contabilizou dezenas de obras lançadas, recebeu vários prêmios e homenagens por celebrar a língua portuguesa, elevando-a como forma de experimentação estética e em muitas performances. Sua trajetória artística, além de exaltar a indissociabilidade das linguagens, é marcada pela mobilização de conhecimentos, referências, paisagens, personagens do senso comum ou do famigerado folclore”, destaca o reitor.
Encerramento
No fim, Bethânia reforçou o poder transformador que o canto tem na sociedade brasileira e surpreendeu a todos ao encerrar seu discurso igualando-se ao público e cantando versos do músico Gonzaguinha: “Cantar, e cantar, e cantar / A beleza de ser um eterno aprendiz”.