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Leny Andrade foi comparada a divas do jazz

Crítico do New York Times disse que brasileira misturava Ella Fitzgerald e Sarah Vaughan

Publicado em 25 de julho de 2023 às 06:00

Leny Andrade morreu aos 80 anos
Leny Andrade morreu aos 80 anos Crédito: divulgação

Quando terminou os estudos no Conservatório de Música, Leny Andrade entregou o diploma à mãe, Ruth, e disse a ela: "Está aqui de presente para a senhora. Não me canse. Quero ser cantora". E, depois de realizar o sonho da mãe, foi em busca do próprio sonho. Começou então a se apresentar, ainda adolescente, na década de 1950, no Beco das Garrafas, no Rio de Janeiro, local considerado o berço da bossa.

Ali, conheceu gente da música, que a ajudaria a se transformar numa das grandes vozes brasileiras. Não houvesse sido tão firme com Dona Ruth, talvez Leny vivesse eternamente frustrada, já que para ela o Conservatório chegava a ser um "castigo", como classificou em entrevista ao jornal O Globo. Nos palcos, além da grande voz, desenvolveu uma impressionante capacidade de improvisar - o que levou um crítico do The New York Times escrever que ela era "um misto de Sarah Vaughan e Ella Fitzgerald da bossa nova".

O talento da improvisação era tão marcante que, no perfil das redes sociais da cantora, quando sua morte foi noticiada nesta segunda-feira (24), havia o seguinte comunicado: "A diva do jazz brasileiro, Leny Andrade, foi improvisar no palco eterno". A cantora, de 80 anos, sofria há dois meses com uma pneumonia, que a deixou intubada no mês passado.

Além disso, era vítima de um mal degenerativo chamado distúrbio de cognição por Corpos de Lewy. A artista morreu no Hospital de Clínicas de Jacarepaguá e o corpo dela será cremado nesta terça-feira, no Cemitério do Caju, depois do velório no Theatro Municipal do Rio. Ela não tinha filhos.

Desde 2018, Leny vivia, por opção, no Retiro dos Artistas do Rio, num apartamento de dois quartos, onde tinha duas cuidadoras. Embora o lugar seja muitas vezes associado a solidão ou melancolia, a cantora parecia não sentir nada disso. "Aqui não é um asilo. As pessoas confundem muito. Para quem está do lado de fora, aqui é o fim da estrada, mas isso está muito errado. O final da carreira, só o artista pode determinar", afirmou.

Leny com Tony Bennett, de quem era amiga
Leny com Tony Bennett, de quem era amiga Crédito: divulgação

Carreira

O primeiro instrumento que Leny tocou foi o piano, por incentivo da mãe. Mas, como seu interesse mesmo era cantar, passou a frequentar calouros infantis nas rádios, acompanhada do pai, o médico Gustavo da Silva. Numa das idas ao programa Clube do Guri, da Rádio Tupi, cantou Risque.

A canção de Ary Barroso, que não tem nada de infantil, é um clássico da fossa, como fica claro logo em seu início: 'Risque meu nome do seu caderno/ Pois não suporto o inferno/ Do nosso amor fracassado'. Uma escolha bastante surpreendente para uma criança.

Ainda adolescente, começou a cantar no Beco das Garrafas, que era frequentado por futuras estrelas como Sergio Mendes, Tom Jobim, Elis Regina. Mas, ainda menor de idade, precisava de autorização para se apresentar. Num dessas apresentações, no Little Club, ouviu Dolores Duran que se tornou uma grande referência de Leny e também tinha uma carreira marcada por canções de fossa.

Em 1961, Leny gravou seu primeiro LP, A Sensação, que tinha Samba de Uma Nota Só, canção de Tom Jobim, um dos compositores favoritos dela e de quem gravaria mais tarde outras músicas, como Samba do Avião e Wave. Em 1995, ela gravou, junto com o pianista Cristóvão Bastos, um álbum todo dedicado ao compositor de Garota de Ipanema.

Em 1965, veio o segundo LP, Estamos Aí. No mesmo ano, o show Gemini V, que ela apresentou junto com Pery Ribeiro, rendeu um convite para cantar no México. Deu tão certo, que Leny acabou passando seis anos naquele país. Voltou ao Brasil na década de 1970, onde continuou gravando discos temáticos, às vezes dedicados a um compositor - como Cartola e Nelson Cavaquinho - ou a um gênero musical.

Na década de 1990, tornou-se cult nos Estados Unidos e ganhou admiradores importantes por lá, como a cantora e atriz Liza Minelli e o cantor Tony Benett, de quem se tornou amiga. Benett, que morreu na sexta-feira passada, chegou fazer um desenho da brasileira.

Leny gravou 34 discos em mais de 60 anos de carreira, sendo muitos álbuns somente para o mercado estrangeiro. A última gravação que realizou foi da música Por Causa de Você, de Tom Jobim, em setembro do ano passado, para comemorar os 80 anos da cantora. A canção tinha um significado especial para a cantora: em 1994, Leny a cantou na missa de sétimo dia da morte do compositor. Na época, a artista vivia em Nova York e foi convidada para cantar pelo embaixador brasileiro nos EUA.