Jacinto Morto estreia na Sala do Coro do TCA e celebra Dia Internacional do Orgulho LGBTQIAPN+

Peça discutindo a luta contra a LGBTfobia e importância da participação social nas mudanças políticas

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 26 de junho de 2024 às 05:00

Espetáculo Jacinto Morto estreia na Sala do Coro do TCA
Espetáculo Jacinto Morto estreia na Sala do Coro do TCA Crédito: Divulgação/Caio Lírio

A expressão artística tem sido fundamental na luta dos direitos da comunidade LGBTQIA+. Então, a volta da peça Jacinto Morto à Sala do Coro nesta sexta-feira, 28, não é uma coincidência, já que na mesma data, celebra-se o Dia Nacional do Orgulho LGBT. “Jacinto é um espetáculo que fala sobre um casal LGBTQIAPN+. Ele é político; a arte é política. A gente precisa entender como as políticas públicas afetam a vida das pessoas e a peça vai construindo essa narrativa, agregando o público dentro dela e fazendo você se questionar como você pode mudar essa realidade”, afirma o diretor da peça, Leonardo Crusoé.

A montagem apresenta a história de dois homens que estão há 100 dias em uma cela e estão com os pulsos amarrados em paredes opostas. “Então eles não conseguem se aproximar: é a prisão dentro de uma prisão. O espetáculo vai se desenrolando a partir do diálogo entre esses dois atores e a relação deles”, afirma Léo Crusoé.

O diretor de 24 anos explica que o título foi inspirado na história de Jacinto na mitologia grega, um homem muito bonito que inspirou paixão no deus Apolo e foi transformado em flor por ele após sua morte. A representatividade das flores na comunidade LGBT também influenciou o título, assim como as flores que Oscar Wilde usava dentro da comunidade inglesa para identificar os homens gays.

A peça surgiu dentro de uma disciplina prática do curso de bacharelado em direção teatral da UFBA, do qual Léo é graduando, e estreou em 2023 no Teatro Goethe-Institut, em Salvador. Estrelado por Cícero Locijá e Rapha Gouveia, com a chegada à Sala do Coro, o espetáculo ganha novos elementos: música original composta por Ray Gouveia, figurino assinado por Thiago Arreinha e preparação de elenco conduzida por Daniela Botero.

Adaptações

“Como o espetáculo quer falar sobre a atualidade, em uma visão de como pessoas e casais LGBTQIAPN+ sobrevivem dentro de uma sociedade heteronormativa e LGBTfóbica, tivemos que fazer certas adaptações no texto para que tudo fizesse sentido e ficasse claro neste momento. O texto foi escrito em 2021, então muita coisa já aconteceu. Tivemos mudança de governo, levantamos debates na câmara sobre políticas públicas, então o espetáculo vai se adaptando dentro desses contextos atuais”, explica Léo.

O ator sergipano Cícero Locijá, um dos protagonistas em Jacinto Morto, também vê no tempo de experiência do espetáculo uma das melhores novidades. “Eu acho que a peça ganha uma nova qualidade porque vai fazer um ano que estamos trabalhando nela, estudando esse texto, pesquisando os personagens e a cena. Isso traz mais maturidade e entendimento; tem coisas sobre o texto que a gente só vai percebendo depois de ler e reler várias vezes”, revela.

Interpretando Rafael, Cícero Locijá destaca como qualidades principais do personagem a coragem de confrontar as imposições sociais e afirma estar muito feliz em integrar o elenco de um texto que toca pessoalmente sua história.

“Para mim, estar em Jacinto Morto é me sentir vivo, é manter viva uma discussão que não pode morrer, trazer humanidade para corpos que muitas vezes são desumanizados e mostrar o quanto afeta o psicológico das pessoas LGBT. Eu sou gay e revivi vários traumas no processo de Jacinto, mas foi como um processo de cura, levar isso para a cena e ser representatividade para outras pessoas, mostrar essa relação de dois homens e como ela é atravessada pelos preconceitos e questões enraizadas em nós mesmos desde a infância”, afirma Cícero.

Para Léo Crusoé, a receptividade ao espetáculo tem sido uma surpresa, principalmente por ter sido seu trabalho de estreia. “A gente acabou de chegar e já temos essa oportunidade de estar na Sala do Coro do Teatro Castro Alves. É muito gratificante para mim ter esse aval de pessoas que são da área e que estão me ajudando a construir uma carreira”. Motivado com os rumos de seu trabalho, o diretor escreveu e dirigiu, na sequência de Jacinto, Ibeji da Casa Grande (2024), e já está trabalhando em seu próximo espetáculo, previsto para outubro.

SERVIÇO: Jacinto Morto. Sala do Coro do TCA. Sexta (28) a domingo (30), 20h. Ingressos: R$ 40 | R$ 20, à venda no Sympla e na bilheteria do teatro