Homenagem impecável à era de ouro dos musicais

Filme Wicked adapta com brilhantismo o musical da Broadway que conta história antes de O Mágico de Oz

Desde as primeiras notícias em 2021, a expectativa para a adaptação para o cinema do musical da Broadway Wicked, um dos maiores sucessos de bilheteria e crítica no teatro musical dos anos 2000, tem sido alta. Uma ansiedade que aumentou com a divulgação dos nomes da atriz Cynthia Erivo e da cantora Ariana Grande como protagonistas da trama que se passa no universo fantástico de Oz. Nesta quinta (21), o filme dirigido por Jon M. Chu (Podres de Ricos, 2018) chega aos cinemas brasileiros. Um musical que não tem vergonha de se assumir como tal, homenageando o clássico com toques certeiros de inovação.

Wicked foi baseado no romance Wicked: The Life and Times of the Wicked Witch of the West (1995), de Gregory Maguire, que traz um prelúdio dos acontecimentos da obra clássica O Mágico de Oz, onde são apresentadas, pela primeira vez, as bruxas Glinda, dita como a Bruxa Boa do Sul, e Elphaba, dita como a Bruxa Má do Oeste, que aparece como a vilã da história. Ambientado em Oz muito antes da chegada de Dorothy, o filme conta a história de Elphaba Thropp (Erivo) e o caminho que a leva a se tornar a Bruxa Má do Oeste. Vemos aqui a amizade improvável com Galinda Upland (Ariana Grande) se transformar em rivalidade, já quando a amiga adota o nome de Glinda.

Wicked se inicia como um típico drama colegial, marcado pela dualidade na personalidade das bruxas e por temas como insegurança e busca por aprovação. Elphaba é uma jovem que ainda não descobriu seu verdadeiro poder, julgada pela cor de sua pele e sofrendo com o desafeto das pessoas, incluindo sua própria família. Ao iniciar seus estudos na Universidade de Shiz, seu destino cruza com o de Glinda, uma jovem popular, privilegiada e ambiciosa. Com o desenrolar da trama, a amizade das jovens protagoniza a história, traçando uma linha de equilíbrio entre se manterem juntas e serem fiéis a si mesmas. O longa tem continuação prevista para 2025.

O sucesso de Wicked seria impossível sem a boa escolha e o total comprometimento de suas protagonistas. Vencedora de Emmy, Tony e Grammy por seu papel em A Cor Púrpura (2015), Cynthia Erivo é considerada um dos grandes nomes do teatro musical de sua geração. Em Wicked, ela rouba a cena ao entregar uma performance potente e cheia de camadas, com muita carga emocional nas atuações e canções. Sua composição da Bruxa Má do Oeste resulta numa figura sóbria, mas que possui sensibilidade e vulnerabilidade. É a primeira vez que o papel de Elphaba é interpretado por uma atriz negra.

A excelência na performance de Erivo já fazia parte da expectativa do público, mas muita gente não pensava o mesmo da escolha de Ariana Grande para o papel de Glinda. A artista americana iniciou sua carreira profissional na série da Nickelodeon Brilhante Victória (2010), mas não possui muitas experiências no audiovisual desde então, seguindo a carreira de cantora pop.

Desde 2013, Ariana revelava em público sua paixão pelo musical e, para integrar o elenco, ela passou por um longo período de testes, como todas as outras atrizes. O alcance vocal e o talento como cantora já eram esperados, mas Grande surpreende com uma interpretação da Bruxa Boa cheia de carisma, trejeitos, bom timing cômico e a vulnerabilidade necessária para ultrapassar a personalidade inicialmente superficial de Glinda.

A conexão entre Erivo e Grande já podia ser percebida ao longo dos meses de promoção do filme. E no filme, a química entre as personagens, que são tão distintas, é pulsante e comovente, rendendo algumas das melhores cenas do longa.

musicais

Wicked entrega uma homenagem vibrante para os fãs do musical original, respeitando suas raízes teatrais ao mesmo tempo em que adapta a história para o cinema de maneira moderna. A produção não esconde suas músicas icônicas, como Defying Gravity e Popular, que ganham interpretações revigoradas, repletas de emoção e energia, além de composições originais para o filme - todas gravadas ao vivo juntamente com a atuação.

O cenário e os figurinos são espetáculos por si só, compondo um universo rico em detalhes. Uma curiosidade impressionante é que grande parte dos espaços da Cidade das Esmeraldas e da Universidade de Shiz foi construída sem o uso de CGI. O filme é uma celebração do musical original, não apenas pela riqueza visual e pela trilha sonora cativante, mas também pela fidelidade à essência da história e suas emoções.

Ariana Grande interpreta Glinda, a Bruxa Boa do Sul, e Cynthia Erivo vive Elphaba, a Bruxa Má do Oeste