Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Doris Miranda
Publicado em 20 de maio de 2024 às 16:46
Primeira mulher em uma linhagem de curandeiros homens, Feliciana é conhecida dentro e fora do México por seus feitos prodigiosos. Ricos, pobres, famosos, pessoas comuns, adoecidos ou não, peregrinam até o povoado de San Felipe, escondido em meio às montanhas, na esperança de se verem livres de suas enfermidades. No entanto, quando é informada do assassinato de sua mentora Paloma, uma mulher trans deslumbrante, Feliciana perde seus poderes por puro desgosto. >
O caso cai na boca do povo e chama atenção de uma jornalista que vive na Cidade do México - mais urbana, impossível. Interessada em compreender o mistério da fé que se impõe entre Feliciana e seus romeiros, além dos motivos que causaram o assassinato de Paloma, Zoé decide escrever sobre o caso para o jornal onde trabalha.>
Se, à primeira vista, as realidades de Feliciana e Zoé não poderiam ser mais diferentes, o desenrolar de suas conversas vai revelando um fio invisível que liga as duas mulheres. Por meio de de seus rituais, Feliciana conta sua história, enquanto Zoé busca naquela narrativa um remédio para findar seus traumas e se redescobrir.>
Realismo fantástico>
Dona de uma costura literária sedutora, a mexicana Brenda Lozano, 43, revela em Bruxas (Companhia das Letras / R$ 80), seu primiero livro publicado no Brasil, um novelo de medos, anseios, violências e (des)afetos. Ao aproximar essas duas vozes tão singulares, vindas de realidades opostas, Lozano cria uma reflexão profunda, salpicada de realismo fantástico, sobre tradições ancestrais universais, pequenas subversões do dia a dia e, sobretudo, o poder arrebatador da linguagem. No caso de Feliciana, a linguagem dos rituais verbalizados. Para Zoé, o poder que se manifesta na palavra escrita.>
Lançado pela Companhia das Letras, Bruxas é o quinto livro de Brenda Lozano, também autora de dos romances Todo Nada (2009), Cuaderno Ideal (2014) e Soñar Como Sueñan los Árboles (2024) e do volume de contos Cómo Piensan las Piedras (2017). Vem sendo reconhecida como uma das mais surpreendentes vozes da nova geração de escritoras latino-americanas, comprometida com a literatura feminista tanto na sua própria escrita quanto no seu trabalho como editora.>
“Há um longo caminho a percorrer coletivamente no México em termos de direitos humanos para erradicar a violência contra as mulheres em vários níveis, bem como um longo caminho a percorrer para que as mulheres em todo o país possam decidir livremente sobre os nossos corpos”, disse ao tomar posse como adida cultural na Espanha.>
“Estou comprometida com a luta feminista, com a paridade de gênero, com a perspectiva de gênero na comunidade LGBTQ+, e esta posição atravessa o meu trabalho tanto no que escrevo como na posição que assumo”, afirmou a autora, que estudou literatura no México e nos Estados Unidos, fez residências de escrita em vários países, deu aulas e participou em projetos de cinema e arte contemporânea.>
Não é Sopa - Edição revisada e comentada>
Nina Horta foi uma bruxona quando o assunto era comida. Maior cronista culinária do país, ela escreveu sobre as coisas mais inusitadas. Como se sente uma pessoa que vai ao restaurante sozinha, por exemplo, ou o que devemos fazer para cuspir o caroço da azeitona de forma elegante. Tudo numa linguagem divertida e muito saborosa. Clássico, seu Não é Sopa reúne algumas de suas crônicas para o jornal Folha de S. Paulo, que quase sempre são acompanhadas de receitas. Mas, veja bem, não é (apenas) um livro de receitas. É sobre a magia que acontece quando a gente se reúne à mesa, sobre a humanidade que se revela nesse momento, sobre prazer e, acima de tudo, sobre a vida real, com comida de verdade. (R$ 100 Companhia das Letras)>
Sal Gordura Ácido Calor - Os Elementos da Boa Cozinha >
Pense num livro delicioso? Se já assistiu à série da Netflix, produzida e apresentada pela chef Samin Norsat, sabe o que esperar. Como sugere no título de sua obra, extremamente bem pensada e elaborada, a boa cozinha se resume no equilíbrio desses quatro elementos. Parece simples, mas trata-se de alquimia pura. Norsat ensina como desenvolver suas receitas (são 100 receitas base e suas muitas variações), é claro, mas a riqueza de sua obra está mesmo na química da coisa, nas reações que determinados ingredientes (mesmo os triviais) têm com este ou aquele elemento. Um exemplo? A gordura, segundo Samin, é essencial para atingir o espectro total de sabores e texturas da boa cozinha. No hambúrguer, derrete sob o calor e umedece a carne de dentro pra fora, grantindo a suculência. O livro foi traduzido por Nina Horta e tem prefácio de Michael Pollan. (R$ 229 Companhia das Letras)>