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Osmar Marrom Martins
Publicado em 2 de novembro de 2024 às 11:46
O ano era 1979 e a música popular brasileira estava passando por uma transformação capitaneada pelas mulheres que estavam chegando ao mercado, com muita personalidade. Nomes como Ângela Ro Ro, Zizi Possi, Joanna, Fátima Guedes e Marina Lima vieram a se juntar a nomes já consagrados como Maria Bethânia, Gal Costa, Elis Regina, Simone, Rita Lee num belo especial Mulher 80 produzido pela Rede Globo com direção de Daniel Filho e apresentação de Regina Duarte, no auge com o Malú Mulher.
Um dos discos mais bem recebidos pela crítica foi “Simples como Fogo” da carioca Marina Lima que completa em 2024, 45 anos. Cantora, compositor e musicista, Marina chegou chegando com um repertório que reunia desde clássicos como Solidão (Dolores Duran) a também iniciante Ângela Ro Ro com a música Não há Cabeça. Mas o destaque era o início da parceria com seu irmão Antônio Cícero, que nos deixou recentemente com a morte assistida na Suíça. Ele sofria do Mal de Alzheimer.
Nesse disco de estreia, Marina e Cícero assinaram cinco músicas: Transas de Amor (Os Sonhos de Quem Ama); A Chave do Mundo; Tão Fácil; Maneira de Ser e Memória Fora de Hora. Caetano Veloso aparece com muito; Moraes Moreira, Revolta e em uma parceria com Maga, Literalmente Louca. É um disco, que mesmo depois de tantos anos ainda tem o seu vigor.
E foi nesse ano de lançamento que eu tive o prazer de conhecer Marina. De passagem por Salvador para um trabalho de divulgação fui apresentado a ela por minha querida amiga, a jornalista Letícia Muhana. Fomos almoçar no Berro D`Água, bar e restaurante que marcou os anos 1970 e 1980 em Salvador sob o comando de Charles Pereira, ou Charles Mocó para os mais íntimos. Funcionava próximo ao Porto da Barra e era ponto de passagem obrigatório de artistas, jornalistas e verdadeiras celebridades que circulavam pela capital baiana, principalmente no Verão. Aliás, Marina sempre teve ligação com a Bahia. Além de ter muitos amigos ela sempre que podia estava na capital baiana trabalhando ou curtindo.
Produzido por Guti e Gastão Lamounier, Simples Como Fogo foi lançado pela gravadora WEA que tinha chegado recentemente ao Brasil investindo em novos talentos. Marina teve tempo para trabalhar as letras com Cicero e os arranjos de cada música. Também chamou atenção a foto da capa em que a cantora aparece esbanjando sensualidade.
A escolha de Solidão que abria o disco, segundo Marina foi escolhida intencionalmente porque Dolores Duran foi uma das primeiras compositoras do Brasil). Outra música que ganhou destaque foi "A Chave do Mundo", que entrou na trilha sonora da novela Pai Herói, exibida no mesmo ano pela Globo (o álbum passou a ser disponibilizado nas plataformas digitais, para streaming e download digital a partir de 4 de junho de 2021. Com esse disco de estreia começava aí a carreira vitoriosa de Marina, sempre com Antônio Cicero. Parceria que durou até este ano.
Carioca, nascida no Rio de Janeiro, filha de pais piauienses ela mudou-se ainda criança (5 anos) para Washington, capital dos Estados Unidos onde viveria até os 12 anos, pois o pai, Ewaldo Correia Lima, era economista do Banco Interamericano de Desenvolvimento. Marina é irmã de Roberto, economista, e de Antônio Cícero.
Na verdade, sua carreira começou em 1977, quando teve uma canção gravada por Gal Costa. "Meu Doce Amor". Decidiu musicar um dos poemas do irmão mais velho, Antônio Cícero e obteve reconhecimento. Estabelecida essa conexão "emocional", Marina e Cícero esqueceram antigas divergências ocasionadas pela idade e, a partir de então, trilhariam uma parceria de sucesso. Em 1978, foi apresentada como cantora em compacto com as gravações de "Muito" (Caetano Veloso) e "Tão fácil" (Marina Lima e Antônio Cicero). De volta ao Rio de Janeiro, assina um contrato e lança o primeiro LP Simples Como Fogo em 1979.