Grazi e Gianecchini estrelam um dos filmes mais tensos do ano

Os atores interpretam um casal em 'Uma Família Feliz'. No filme, nada é o que parece ser

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  • Roberto Midlej

Publicado em 4 de abril de 2024 às 06:30

Gianecchini e Grazi em Uma Família Feliz
Gianecchini e Grazi em Uma Família Feliz Crédito: divulgação

Sobre o filme Uma Família Feliz, que estreia nesta quinta-feira (4) nos cinemas, vamos logo avisando: o leitor não deve se deixar levar pela foto que ilustra este texto. Nem pelo título do filme. Ao contrário do que essa imagem e o título podem levar a crer, o longa-metragem dirigido por José Eduardo Belmonte - diretor de Alemão - está longe de ser uma “sessão da tarde” ou uma comédia para ver em família num domingo à noite. Ao contrário, trata-se de uma das histórias mais tensas - e bem dirigidas - que se viu no cinema nacional recente.

Uma Família Feliz é um suspense dramático que, logo na primeira sequência, diz a que veio. O filme começa numa cena em que Eva (Grazi Massafera) enterra o corpo de uma criança que, logo em seguida, sabemos que é uma de suas filhas. Depois, a irmã gêmea da garota morta pergunta: “O que você fez com minha irmã?!”. Enfurecida, Eva joga a menina sobrevivente dentro do carro e dirige, também enfurecida, como se quisesse provocar um acidente que resultasse na morte dela e da criança. Vamos revelar a seguir o encaminhamento da história, mas fique tranquilo: não há spoilers.

Em seguida, num flashback, o espectador é transportado para uma festa infantil em que tudo parece perfeito: Eva e o marido Vicente (Reynaldo Gianecchini) festejam o aniversário das meninas e vivem a expectativa da chegada de um bebê, Lucas, que nascerá em pouco tempo. Mas o clima de harmonia é desmascarado em seguida e vemos que a tal “família feliz” não é tão feliz assim. O casal, que parece aquele tipo que estrela propaganda de margarina, logo revela a crise por que está passando e as discussões começam já no café da manhã, na frente das crianças.

Vicente pressiona Eva a vender o quanto antes a casa que ela herdou dos pais, mas a esposa resiste, o que estende a crise financeira que o casal vive. Vicente não consegue segurar seus arroubos machistas e diz que a mulher “brinca de boneca”, quando está se referindo ao trabalho dela, de confeccionar bonecas artesanais ultrarrealistas. Para piorar, sabemos que uma das meninas sofre de um câncer e precisa de tratamento contínuo.

E é nesse clima que nasce Lucas, o filho mais novo do casal. Um machucado na barriga do bebê faz Eva e Vicente desconfiarem que ele foi agredido. Apesar de haver uma câmera no quarto, não conseguem flagrar o possível agressor, o que faz Eva desconfiar de Vicente e vice-versa. Mais tarde, é a vez das gêmeas aparecerem agredidas, com marcas muito mais violentas que aquela na barriga de Lucas.

E é aí que o filme começa para valer mesmo. Então, paremos por aqui em relação à história e vamos ver o que levou Grazi e Gianecchini a toparem fazer um filme de baixo orçamento e que representa, para ambos, um desafio, afinal, desconstrói a imagem de diva e de galã que eles têm. “Achei uma grande sacada pegar a gente para fazer um casal ‘margarina’. Isso contribui para a história, mas acaba ‘quebrando’ nossa imagem. Adoro quando faço um trabalho que quebra essa imagem do perfeito”, diz Gianecchini.

Grazi vai no mesmo caminho e diz que aceitou o papel porque pesou a vontade de “experimentar”: “Quero estar disponível para outros gêneros e conhecer a rotina deste cinema. Arriscar! Venho fazendo novelas e coisas comerciais há muito tempo e fazer cinema de gênero me deixa feliz. Sou corajosa neste sentido”.

E o “risco” que a dupla de estrelas correu vale muito a pena: os dois têm um ótimo desempenho, especialmente Grazi, que já precisa ser reconhecida como uma atriz de muito talento. Já passou, há muito tempo, a hora de descolar dela a pecha da “ex-BBB” que se tornou atriz por mero oportunismo. Seu desempenho como Eva realmente impressiona e ela sabe brincar muito bem com o espectador: ora sentimos ódio, ora temos pena da personagem. Os méritos aí também cabem, claro, ao roteirista Raphael Montes (o mesmo de Bom dia Verônica, da Netflix).

E é hora de prestarmos mais atenção também a José Eduardo Belmonte, que, além de ter dirigido o policial Alemão, assinou a direção de dramas como As Verdades (2022) e Se Nada Mais der Certo (2008), ambos muito bons. E até na comédia José Eduardo se saiu bem, com Entre Idas e Vindas (2016), um ótimo road movie com atmosfera completamente diferente deste Uma Família Feliz, o que mostra a competência do diretor, mesmo em gêneros tão diferentes.

Em cartaz: UCI (Barra e Shopping da Bahia); Cinemark (Salvador Shopping); Saladearte do MAM; Glauber Rocha