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Mari Leal
Publicado em 17 de outubro de 2023 às 06:00
Comum nas letras e escritos de seus ilustres filhos da família Veloso, a força cultural de Santo Amaro da Purificação, cidade do Recôncavo Baiano, é marcada por uma infinidade de manifestações, nascidas, sobretudo, do encontro entre as culturas indígenas originárias o do povo negro. Os modos de vida de comunidades ribeirinhas, o Bembé do Mercado – primeiro candomblé de rua, e que segue sendo celebrado no mês de maio - e o samba de roda, consagrado na existência de Dona Nicinha do Samba, que morreu em 2022, são alguns desses exemplos.
Com a proposta de permitir um mergulho ainda mais profundo na história local e da região, sobretudo na musicalidade formativa do berço sonoro brasileiro, a cidade sediará, na próxima sexta e sábado – 20 e 21 de outubro – a 5ª edição do Festival Paisagem Sonora – Formação, Gestão e Difusão da Música.
Realizado pelo Centro de Cultura, Linguagens e Tecnologias Aplicadas da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (Cecult/UFRB) e pela Fundação Nacional de Artes (Funarte), a edição do festival tem como objetivo destacar a força das tradições originárias de matrizes indígenas na identidade cultural do Recôncavo Baiano. Além de atrações musicais como Gerônimo Santana, Cabokaji, Metá Metá, a ação tem uma agenda formativa com oficinas, minicursos e lançamentos.
“A ideia do festival lá [em Santo Amaro] é também para fazer esse deslocamento da capital, para fortalecer essa dimensão do território, que é tão importante. A perspectiva musical do Recôncavo é inspiradora, é matricial. Nosso festival também é um espaço de formação”, explica Danillo Barata, professor da UFRB e idealizador do projeto.
O termo paisagem sonora, criado pelo pesquisador canadense Murray Schafer, faz referência a análise do universo sonoro que rodeia determinada comunidade ou local.
“Dá para pensar a paisagem sonora como a paisagem do Recôncavo. Tem o samba chula, o samba de roda, o reggae, o samba-reggae...tudo que acontece, de certo modo, o Recôncavo traz como gênese. O nosso exercício é de tradução disso, e também de diálogo. Trazer artistas de outros lugares que têm como referência elementos importantes nos quais a gente consegue reconhecer o que o espaço tem de sonoridade”, acrescenta Barata.
O grupo musical Cabokaji, que se se apresenta no sábado, é um exemplo atual do resgate das sonoridades afro-indígenas. A marca está tanto nas letras como no som, que une ritmos como caboclo, dance hall, piseiro ou pisadinha, groove arrastado, guitarradas, funk, brega funk, coco, rock, baião, maracatu, toré e rojão às tecnologias eletrônicas.
“O que a gente mais precisa enquanto artistas caboclos, negros e indígenas é estabelecer que não existe luta antirracista justa, com equidade, sem a presença do corpo indígena. Esse festival é, talvez, o primeiro da Bahia que acontece onde nasce o candomblé, onde nasce a confluência negra-indígena de forma extremamente profunda, gerando diversas manifestações populares. O festival remonta um tempo e dá possibilidade de a gente revisitar essas histórias com justiça”, destaca Caboclo do Cobre, que junto com os pesquisadores ISSA, Ejigbo e Mayale Pitanga dão vida ao Cabokaji.
Programação
A abertura oficial do Paisagem Sonora ocorre às 10h da sexta-feira, na sede do Arquivo Público Municipal. A ocasião marcará a abertura da consulta pública do Plano de Cultura da UFRB. Nos dois dias de festival, as tardes serão dedicadas aos encontros entre comunidades e artistas – sempre a partir das 14h no Pavilhão de Aulas do Cecult.
As atividades musicais acontecem à noite, a partir das 19h, na Praça da Purificação, no Centro da cidade. Na sexta, sobem ao palco Metá Metá, Brisa Flow, Sapopemba e Coletivo Xaréu. No sábado, além de Cabokaji, a programação conta com shows de Gerônimo Santana e Sonora Amaralina. As duas noites terão abertura com atrações locais, selecionadas através de uma convocatória pública. Veja a programação detalhada no site www.paisagemsonorabahia.org.
Serviço:
V Festival Paisagem Sonora. 20 e 21 de outubro de 2023 (sexta e sábado). Santo Amaro da Purificação. Gratuito.