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Luiza Gonçalves
Publicado em 11 de fevereiro de 2025 às 09:36
Um encanto conduzido pelas águas, natureza em movimento. Nas fotografias de Carlos Barral, rios coloridos saltam das imagens como pinceladas brilhantes que revelam o curso do homem e a riqueza natural que, aos poucos, se esvai. Imagens que ocuparão as paredes do Museu de Arte da Bahia, no Corredor da Vitória, com a chegada da exposição Enquanto Existe Azul e o lançamento, em Salvador, do livro homônimo de fotografias do artista, amanhã (12), às 18h. Com a curadoria de Diógenes Moura, a mostra reúne cerca de 45 obras explorando a relação entre arte, natureza e a trajetória de Barral. A exposição fica em cartaz até 30/03.>
“Meu trabalho está vinculado a sensibilizar as pessoas para o que há de mais precioso no planeta: o azul. O azul do céu, azul das águas. Esta é a única coisa que me motivou a fazer o meu livro. O livro foi concebido com fotos e textos no sentido de levar a beleza das águas enquanto existe azul. Esta tentativa de sensibilização das pessoas vem de um momento em que estão explícitos os sinais de degradação do equilíbrio de todos os ecossistemas do planeta Terra. As fotos integraram o livro com textos meus, externando cada sentimento no decorrer da minha vida ao me dedicar aos rios, às águas do planeta”, afirma Carlos Barral.>
Nascido à beira do Rio São Francisco, no sertão da Bahia, Barral explica que nutre, desde a infância, uma conexão singular com o ecossistema que se apresentava ao seu redor. “Eu era uma pessoa integrada na natureza. Vivia a natureza e me senti vinculado a algumas leituras como, por exemplo, o movimento como fator primordial no planeta Terra. O aspecto luxuriante, rico da natureza, me deu um outro olhar, que foi respeitar toda a beleza, toda a complexidade da natureza, com suas cores, seus movimentos”, explica.>
As águas do Nilo brasileiro são sua maior influência artística. “Foi o grande rio da minha vida”, diz. Começou a fotografar ainda na adolescência, despertando o interesse pelo movimento das águas e, posteriormente, provocado pela progressiva degradação do São Francisco, decidiu fotografar profissionalmente. “Esta degradação me comoveu quando eu assisti ao rio sendo atravessado a pé pelas pessoas, esta degradação me moveu a ir buscar em todas as águas a beleza que iluminou minha infância, minha juventude. Essa foi a minha motivação para fotografar as águas do Rio São Francisco, do Rio Cariri, do Vale do Loire, do Amazonas, de várias águas em todo o mundo”, relembra.>
Quatro elementos>
A exposição e o livro Enquanto Existe Azul estão divididos em quatro blocos que segmentam a parte principal de sua produção fotográfica, explica Barral. No primeiro estão as águas, em fotos do movimento das águas e tudo que lhes diz respeito em vários lugares da Bahia, do Brasil e do exterior. >
Na sequência, a natureza, num sentido mais amplo, em fotos vinculadas ao universo da vegetação, em suas cores e elementos. O terceiro item vem do adubo. “Adubo é tudo que cai na terra e nas águas e faz gerar vida neste planeta”, define o fotógrafo. E, encerrando o quarteto, o manguezal. “Berço de toda a riqueza do planeta, com a característica de uma gordura ao redor das águas, fruto daqueles seres vivos que habitam o manguezal. Eis uma das coisas mais ricas da natureza”, complementa.>
Na sua fotografia, o movimento mais uma vez rege a percepção, desta vez do observador, ao deparar-se com composições abstratas que parecem evocar impressionistas, céus em chuvas de vagalumes e brilhos de gemas vistas de perto. “Eu fui em busca do movimento em todas as águas, das plantas ao sabor do vento, o que foi o que constituiu a aparição de fotos como telas pinceladas. Eu tive que respeitar a estética da natureza como ela é, com toda a sua complexidade, com todos os seus traços”, defende o fotógrafo.>
SERVIÇO: Exposição Enquanto Existe Azul de Carlos Barral I De quarta (12) à 30/03 no Museu de Arte da Bahia, Corredor da Vitória I Visitação: Terça a Domingo, das 10h às 18h I Gratuito >