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Roberto Midlej
Publicado em 15 de fevereiro de 2025 às 07:35
Antes de Fricote, veio o Deboche >
Paulinho Camafeu e Luiz Caldas são os autores do sucesso que marcou o início da febre do axé e isso é consenso. Mas há uma terceira pessoas que merece ser lembrada e teve muita importância na gravação de Magia e de Fricote: o compositor Alfredo Moura, que, junto com Luiz, foi arranjador daquele álbum lançado em 1985. “Fricote e Nouai [outra canção do álbum] são as músicas que têm um pé no Caribe. Mas, hoje, só podemos considerar que apenas há uma música ali que é axé: Fricote”, observa Alfredo.>
Alfredo é também o tecladista do disco, além de autor de duas canções que estão no álbum: Contramão e Sonho Bom. “Luiz não tinha música suficiente para preencher um álbum, então entraram essas minhas, mas não fizeram sucesso”, lembra Alfredo. O músico, no entanto, foi fundamental para dar a Fricote a roupagem que conhecemos.>
A banda que acompanhava Luiz no disco, conhecida como Acordes Verdes, era formada, entre outros, por Alfredo, Cesinha (bateria), Carlinhos Marques (baixo) e Carlinhos Brown (percussão). Luiz ficava com voz e guitarra. “Brown sempre dava muitas ideias e é importantíssimo naquela introdução, foi ele que deu a dica a Cesinha. Brown cuidava do ritmo e eu, do resto”, diz Alfredo.>
O tecladista diz que Fricote foi composta no ônibus, durante uma viagem a Simões Filho. “Paulinho Camafeu, genial, tinha feito Deboche, uma outra música que tinha o trecho ‘Pega ela aí/ Pra quê?/ Pra passar batom/ Pra ficar bonita lá em Itaparica’”. Deboche foi gravada por Paulinho Boca de Cantor em 1985 e pode ser ouvida no canal de YouTube dele.>
Houve, na época, segundo Alfredo, uma divergência entre ele e Luiz Caldas, sobre como Fricote deveria ser tocada: “Eu insistia que devia ser em dó menor e ele, em dó maior. Ele teimou e, na hora em que tocou a primeira vez, ninguém dançou. Ele sacou logo e, no meio da música, sinalizou para a banda trocar para dó menor. Aí, a coisa mudou totalmente, a resposta do público foi imediata. E olha que eu tinha levado um esporro antes, quando sugeri dó menor. Luiz disse: ‘Fera, fica na sua!’”. Alfredo acrescente que Fricote usa a batida de Deboche.>
Numa entrevista ao canal Viva Favela, no YouTube, Paulinho Camafeu fala sobre a relação entre as duas canções: “Fricote é uma segunda versão do axé-music, que o primeiro é uma música minha que chama Deboche. Então, nessa continuidade do novo ritmo, da nova criação percussiva e cantada no Carnaval da Bahia, surgiu a filha do Deboche, que é o Fricote”. Camafeu é coautor de outros clássicos do Carnaval, como Que Bloco É Esse e Meu Cabelo Duro é Assim.>