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Figura vívida na memória da cidade: mostra traz 50 obras inéditas do artista plástico

Exposição fica em cartaz até o dia 06 de julho na Caixa Cultural Salvador

  • Foto do(a) author(a) Luiza Gonçalves
  • Luiza Gonçalves

Publicado em 17 de abril de 2025 às 09:29

EJayme Fygura
Jayme Fygura Crédito: Divulgação/Daniel Lisboa

Andarilho na cidade com sua arte-indumentária, o artista plástico, poeta e performer Jayme Fygura marcou a cultura soteropolitana com sua estética singular e sua intensa vivência artística. Falecido em 2023, Jayme é uma figura vívida na memória da cidade, antes e depois da utilização de suas características máscaras de ferro.

“Meu primeiro contato com Jayme Fygura ocorreu no final da década de 1980, período em que ele ainda não utilizava máscaras, mas já integrava a cena punk de Salvador. Posteriormente, passei a vê-lo já mascarado pelas ruas do Centro Histórico da cidade, onde sua presença adquiria um caráter quase mítico. Recordo-me vivamente de sua aparição em meio à multidão, usando máscaras metálicas e armaduras improvisadas — uma figura que combinava distopia, espiritualidade e provocação estética”, relembra o também artista Danillo Barata.

Barata é o responsável pela curadoria da exposição 'Jayme Fygura: De Corpo e Alma', que reúne, na Caixa Cultural Salvador, 50 obras inéditas de Jayme Fygura, entre pinturas em acrílico sobre tela, objetos icônicos, esculturas em ferro, falos de Exu, manuscritos, vestimentas performáticas e o documentário “Sarcófago”, dirigido por Daniel Lisboa, que investiga o universo criativo de Fygura. A mostra fica em cartaz até o dia 06 de julho, com visitação de terça a domingo, das 9h às 17h30.

De acordo com o curador, o processo de seleção das obras partiu do desejo de evidenciar a potência estética e política da obra de Jayme Fygura, respeitando, ao mesmo tempo, sua complexidade e suas contradições. Divide-se em três eixos conceituais — corpo, espiritualidade e insurgência — que condensam as forças simbólicas presentes em sua trajetória artística.

“Tem início com a imagem de Jayme montado em um cavalo, remetendo à figura de São Jorge, em alusão às batalhas internas e simbólicas enfrentadas pelo artista. Em seguida, percorre sua produção pictórica e culmina em uma imersão audiovisual, por meio do documentário e dos registros sonoros e visuais de suas performances. A expografia e a iluminação foram concebidas para criar zonas de suspensão e intensidade, permitindo ao público um mergulho sensível não apenas na obra, mas também no universo imagético do artista”, explica o curador.

Exposição Jayme Fygura: De Corpo e Alma
Exposição Jayme Fygura: De Corpo e Alma Crédito: Divulgação/Daniel Lisboa

Corporeidade

Escultura, performance em um manifesto vivo que usa do corpo como seu principal veículo. A centralidade da corporeidade na obra de Fygura é uma das suas características de maior destaque e conceito principal da exposição, aponta Barata. “Se insere na tradição daquilo que Fanon denomina ‘experiência vivida do negro’, em que a materialidade corporal é marcada pelo olhar externo, pela objetificação e pelo trauma colonial. Suas esculturas, máscaras e pinturas exploram o corpo como território de inscrição da violência, mas também da reinvenção.”

Barata destaca que, apropriando-se de materiais reciclados, sucatas e detritos urbanos, Jayme subvertia a estética da precariedade em uma estratégia de potência criativa, desestabilizando leituras homogêneas do corpo negro e tensionando noções de humanidade e subalternidade. Assim, o maior desafio da exposição teria sido a conservação material das peças artísticas e a propagação da poética transgressora e performática de Fygura, sem reduzi-la ou estereotipá-la.

O curador também ressalta o caráter outsider da produção do artista plástico, criando à margem do circuito institucional e com os restos da matéria, sendo ora reconhecido como ícone, ora rejeitado como corpo estranho e tendo, nesse reconhecimento, embora póstumo, a chance de reparar simbolicamente esse apagamento histórico.

“Sua principal contribuição, a meu ver, está na criação de uma linguagem própria, enraizada na cosmogonia afro-brasileira, mas também profundamente urbana e contemporânea. Ele nos legou uma obra que é, ao mesmo tempo, cicatriz e oferenda. Jayme Fygura inscreveu a sua existência na paisagem simbólica de Salvador — e agora, com esta exposição, reafirmamos a sua importância como um dos grandes artistas da arte brasileira recente”, arremata Barata.