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Roberto Midlej
Publicado em 11 de setembro de 2024 às 06:00
O produtor cultural paulista Jamir Lopes sempre ficou atento aos festivais de música instrumental, especialmente aqueles ligados ao jazz. Mas havia na programação daqueles eventos algo que o incomodava: o pouco espaço que era oferecido a artistas negros.
E foi daí que ele idealizou o Batuka Jazz Festival, que acontece desta sexta-feira até o próximo dia 22, no Largo Quincas Berro D’Água (Pelourinho). Entre as atrações, estão Gabi Guedes, Ellen Oléria e Lazzo Matumbi, além das cantoras americanas Alissa Sanders e Michaela Harrison. O Parque Ecológico de Lauro de Freitas receberá oficinas e outras atrações musicais.
Jamir, que vive em Salvador há três anos e sempre frequentou a Bahia por causa de parentes que tem aqui, justifica o protagonismo dos artistas negros na programação: “Estamos numa cidade com imensa população negra. E o jazz é negro. Assim como o blues, o hip hop, o blues…”, diz, citando ritmos que tiveram origem nos EUA. Mas Jamir ressalta também ritmos brasileiros que estão ligados à percussão negra, como samba, ijexá, maracatu e coco. Daí, portanto, o “batuka” no nome do evento.
“Toda a música brasileira nasceu através do batuque e até os estilos musicais mais ‘urbanos’ tiveram músicos negros como destaque. O choro tem Pixinguinha como patrono. E a Bossa Nova foi ‘embranquecida’ pelos músicos cariocas”, afirma Jamir, que cita Johnny Alf e Alaíde Costa como expoentes negros da Bossa. “Johnny Alf foi o precursor, um homem negro, pobre e homossexual, mas que foi deixado de lado pelo movimento. Todos os nomes da Bossa tiveram aulas com ele”, enfatiza.
O produtor do festival lembra ainda que, por razões históricas, as músicas produzidas por negros da América do Norte e da América do Sul soam diferentes. Segundo Jamir, nos EUA, os escravizados foram proibidos pelos senhores de batucar.
Jamir Lopes
curador e produtor do Festiva Batuka JazzComo na América do Sul, o batuque não foi proibido, a percussão se desenvolveu mais na região.
A intenção do festival é mesmo misturar o batuque com o jazz e, além disso, promover a fusão do jazz americano com o brasileiro. “Por isso, na programação há nomes como Gabi Guedes e a banda Ifá, que faz uma mistura de jazz e funk com pegada percussiva, uma característica da Bahia”.
O percussionista Gabi Guedes abre o festival, na sexta, junto com seu projeto Pradarrum, que surgiu com o objetivo de difundir a música dos terreiros de candomblé. A cantora Ellen Oléria também participa da apresentação, como fez num outro festival, em São Paulo. “Vai ser uma noite bonita, forte e muito alegre. Nosso trabalho vem para reverenciar nossas mães, além de nossa terra-mãe, nossas mães quilombolas, os orixás e as mães de santo, que deixaram legado de luta e resistência”, diz Gabi.
Jamir defende que as americanas Alissa Sanders e Michaela Harrison - atrações, respectivamente, de sábado (14) e de domingo (15) - reforçam a tese de que há muita coisa em comum entre as ancestralidades negras da América do Sul e da América do Norte.
“As duas, há alguns anos, passam temporadas na Bahia. Michaela é de New Orleans, onde nasceu o jazz. Vai fazer um tributo a Nina Simone, que sintetiza a luta da artista extraordinária negra, aguerrida e ativista por direitos humanos. Nina pegou uma época de muito racismo, quando os clubes de jazz ficavam lotados por causa da música, mas os negros não podiam entrar”, revela Jamir. Alissa vai homenagear diversas divas em seu show, com destaque para Ella Fitzgerald.
Programação do Largo Quincas Berro Dágua, Pelourinho
13.09: VJ Gabiru, Gabi Guedes & Pradarrum com participação de Ellen Oléria (DF), Banda IFÁ & Lazzo Matumbi.
14.09: VJ Gabiru , Alissa Sanders (EUA), Panteras Negras, Monna & Banda (SP) com participação de Gerônimo Santana, Lan Lanh convida Mário Soares
15.09: VJ Gabiru , Coletivo Casa da Ponte, Michaela Harrison Trio (EUA), Mateus Aleluia Filho, Ubiratan Marques
Ingresso: Grátis
Horário: 13.09 (a partir das 18h) | 14.09 (a partir das 15h) | 15.09 (a partir das 14h)
22.09 - Parque ecológico de Lauro de Freitas
11h - Oficina de Percussão para Crianças (Professor Anderson do Samba)
13h - Jazz para Crianças - Musicalização
14h - Grupo Solista Qué Base - Afro Jazz
15h30 - Illy & Bandaa - Samna Jazz
17h - Encerramento
Ingresso: Grátis