Exposição na Galatea Salvador reúne fotografias de Bauer Sá e esculturas de madeira de Gilberto Filho

Bahia afrofuturista será inaugurada nesta quinta-feira (04) na Rua Chile

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 2 de julho de 2024 às 10:43

Fotógrafo Bauer Sá e escultor Gilberto Filho
Fotógrafo Bauer Sá e escultor Gilberto Filho Crédito: Divulgação

A exposição Bahia Afrofuturista, que será inaugurada nesta quinta-feira (04), na Galeria Galatea Salvador, Rua Chile, apresenta um olhar para o protagonismo negro, unindo os trabalhos do fotógrafo Bauer Sá e do escultor Gilberto Filho. A mostra busca promover um diálogo entre dois artistas e apresentar diferentes abordagens na estética comprometida com o ativismo negro. 

Bahia Afrofuturista traz dois núcleos expositivos: no primeiro, um conjunto de 30 fotografias de Bauer Sá, produzidas entre os anos 1990 e 2000, que exploram a ancestralidade afro-brasileira por meio de temáticas raciais e divindades africanas. No segundo, Gilberto Filho apresenta cerca de 15 esculturas em madeira, que datam desde 1992 até o presente, e retratam cidades utópicas e modernas nascidas da imaginação do artista.

“É muito interessante a interligação, acho que nossas obras se encontram, e também o fato de estarmos tendo essa oportunidade que muitas vezes nós, artistas negros, não temos nas galerias. Ter esse reconhecimento do meu trabalho e ver o reconhecimento do de seu Gilberto é muito importante para mim”, afirma Bauer Sá.

Para o cachoeirano Gilberto Filho, 71, a ocasião marca sua estreia em uma exposição individual, representando para ele um indicador da aceitação do público com suas esculturas. “Adoro fazer o que eu faço e criei uma expectativa de que as pessoas vissem e pelo menos gostassem do diferencial, porque de certa forma a gente teme estar fazendo algo muito diferente e não ser aprovado. Mas, graças a Deus, as pessoas estão gostando. Fico muito feliz por tudo isso”, revela.

Arte X Trabalho 

Um dos pontos de similaridade entre os artistas está exatamente na maneira em que a arte chegou em suas vidas: como um ofício de trabalho familiar. Bauer, 74, exalta a figura de seu pai como pilar principal na sua formação: “Eu aprendi fotografia com meu pai, Armando Sá, que também era fotógrafo e tinha um laboratório na Carlos Gomes. Ele revelava para muitos fotógrafos e era muito difícil, no universo dele como um homem negro naquela época, ser dono de um laboratório. Lá, eu trabalhava como assistente e tive a possibilidade de conhecer a fotografia. Se eu sou o artista que sou hoje, eu agradeço ao meu pai."

Em suas fotografias, Bauer Sá reforça a tradição dos negros baianos, explorando as formas de representação: “É uma linguagem que é sintonizada politicamente com o negro e com as religiões de matriz africana”, explica. Bauer pauta seu trabalho em suas vivências e observações diárias através de ensaios detalhadamente construídos. Um dos exemplos é a fotografia White Shoe (1990), da série Nós: “É uma foto interessante que eu gosto muito. Ela representa a nossa reivindicação constante de não vermos os negros nos lugares de poder, de liderança. Essa foto é um repúdio a isso”, pontua.

White Shoe (1990) da série Nós
White Shoe (1990) da série Nós Crédito: Divulgação/Bauer Sá

Gilberto Filho aprendeu a trabalhar com madeira com seu pai, Gilberto Dias Barbosa, que abriu uma marcenaria em São Félix nos anos de 1960, mudando posteriormente para Cachoeira. Além de carpintaria e marcenaria de esquadrias, a família também produzia móveis rústicos, dos quais Gilberto Filho fazia o design.

“Eu precisei muito da marcenaria e da carpintaria para desenvolver esse tipo de trabalho que faço hoje e que era um sonho. Desde menino, eu tive essa visão futurista de arte com o mundo moderno. O difícil para mim foi transformar a madeira em arte, para fazer sentido. Eu precisei aprender a fazer o que gosto e isso me custou muitos anos para chegar ao nível em que está agora. Eu já tinha ideia e fui nessa luta pela arte”, conta.

Hoje, suas esculturas destacam-se pela criatividade em retratar cidades futuristas entalhadas em pregos e madeira, na modernidade ancestral que mescla o passado e o futuro. Um design 100% autoral e baseado na fonte orgânica principal: as madeiras. “Quando eu vou criar, já tenho mais ou menos as ideias na cabeça e me inspiro na formação da madeira. Vou unindo elas, para ver onde é que vai estar o melhor. A inspiração maior sempre foi essa e, com o tempo, fui me desenvolvendo. Precisei aprender a trabalhar com as cores da madeira”, pontua Gilberto.

Escultura Santa Fé (1995) de Gilberto Filho
Escultura Santa Fé (1995) de Gilberto Filho Crédito: Rafael Martins

Serviço: Exposição Bahia Afrofuturista: Bauer Sá e Gilberto Filho I Abertura nesta quinta-feira (04) na Galatea Salvador, Rua Chile I Visitação até o dia 28 de setembro, entrada gratuita