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Ecos Malês reúne 114 obras de 48 artistas, incluindo fotografias, pinturas, desenhos e instalação
Roberto Midlej
Publicado em 30 de outubro de 2024 às 06:00
Em 1835, cerca de 600 africanos escravizados se juntaram em Salvador para lutar por liberdade, num movimento que ficou conhecido como Revolta dos Malês. O objetivo principal não foi alcançado e aproximadamente 70 homens que participavam do levante acabaram mortos. “Mas uma revolta não pode ser decretada derrotada em absoluto. O espírito da Revolta não estava só naqueles corpos. Existem ecos daquele movimento na história, na arte e na cidade de Salvador”, defende João Victor Guimarães, curador da exposição Ecos Malês, que será aberta nesta sexta-feira (1º), na Casa das Histórias de Salvador.
O público vai conhecer 114 obras de 48 artistas, incluindo nomes do passado, como Pierre Verger e Voltaire Fraga, ao lado de contemporâneos, como Karamujinho, Ventura Profana e Rose Afefé. Entre as artes apresentadas, estão esculturas, pinturas, fotografias, gravuras e instalações, que estarão divididas em três núcleos: Encontrar, Ruas da Revolta, e Inventar (Liberdade e Defesa).
O primeiro núcleo reflete a importância do encontro entre os malês para a organização do levante. “Em termos históricos, desde antes da existência dos navios negreiros, os corpos negros já eram separados de sua família e de suas comunidades. Mas a Revolta existiu a partir do encontro e o encontro gera a mobilização. É um elemento fundamental para a revolta”, defende João Victor. Nessa área da exposição, estão criações de artistas como Caio Rosa, Gil Scott-Heron e Helen Salomão.
Nesse mesmo ambiente, o fotógrafo Luan Gramacho expõe a série Aquele que te Odeia Morrerá. Segundo o artista, a obra recria a atmosfera de um dia caótico de conflito: “É um cenário onde as tensões sociais e históricas se manifestam. Por meio de elementos e símbolos cotidianos, construo uma ambientação que nos convida a olhar o passado com os olhos críticos do presente, incentivando uma reflexão profunda sobre a perpetuação de violências sutis e sistêmicas. É um convite a repensar território, memória e o processo de construção identitária para nós, pessoas pretas”.
O segundo núcleo, Ruas da Revolta, explora os ambientes onde o levante ocorreu. Um dos destaques no espaço é a obra Terra do Pé Vermelho, de Rose Afefé, artista de Varzedo, no interior da Bahia. “Criei uma cidade de fachada elaborada junto ao público. Tenho construído os fragmentos dessa cidade por onde passo, criando e interagindo dentro dos territórios, articulando e tensionando os limites que delimitam onde começa e onde termina cada lugar. Vou apresentar três fachadas, e cada uma delas tem um habitante simbólico que me ajudou a construir esse trabalho”.
Já o terceiro núcleo, Inventar (Liberdade e Defesa), aborda a busca dos Malês pela liberdade e o papel da resistência espiritual e religiosa. Nesse espaço, estão trabalhos de artistas como o estreante Karamujinho, com fotografia de gravuras feitas com Efun (ou a sagrada Pemba) sobre a pele e a artista baiana Jasi Pereira, que, após expor esculturas em outros países, irá expor pela primeira vez um conjunto de gravuras sobre sua experiência de retorno a Salvador e ida a Luanda, em Angola, no ano passado. Inventar tem também trabalhos do artista carioca Simba e colagens e vídeo performance da baiana Ventura Profana.
Exposição Ecos Malês. Casa das Histórias de Salvador (Rua da Bélgica, 2, Comércio). Abertura: Sexta (1º), às 11h (entrada gratuita neste dia). Visitação até maio de 2025. Terça a Domingo, das 9h às 17h (entrada até às 16h). Ingressos: R$ 20 | R$ 10