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Luiza Gonçalves
Publicado em 18 de março de 2025 às 14:00
Assentamentos - onde foi construído, sedimentado e consolidado. E também dimensão sagrada na cultura afro religiosa, onde se revisita, se reverencia. Com 40 anos de trajetória nas artes visuais, o baiano Roney George parte do conceito para nomear a exposição Assentamentos, que reúne 20 trabalhos originais que mesclam suas origens artísticas e pessoais afro sertanejas. A mostra artística com curadoria de Danilo Barata tem inauguração nesta quinta-feira (20), às 18h, na Casa do Benin, Pelourinho, com entrada gratuita.>
“Desde a infância, sempre me reconheci como artista – aos 12 anos, participei da minha primeira exposição e já aparecia nos jornais locais como “o menino artista”. Desde então, as artes visuais foram e continuam sendo a única atividade que exerci ao longo da vida. Hoje, revisito minha própria história, resgatando elementos de diferentes fases da minha carreira para ressignificá-los. A exposição traz essa fusão entre passado e presente, mostrando um lado do meu trabalho que, talvez, surpreenda o público”, afirma George.
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Reconhecido no Brasil e no exterior, tendo realizado exposições e trabalhos no Chile, Estados Unidos, África do Sul e Itália, George é originário de Itapetinga, no sudoeste da Bahia, crescendo imerso nas expressões visuais do sertão e, ainda jovem, se mudou para Salvador, aprofundando a sua relação com o Recôncavo e suas extensões culturais. >
Ele conta que, desde 2023, ele tem revisitado sua trajetória artística em processo de pesquisa e ressignificação, o que culminou em novos trabalhos e sua reunião na exposição Assentamentos.>
“Em diálogo com o curador Danillo Barata, conversamos sobre esse movimento de retorno e, ao mesmo tempo, de afirmação de uma nova construção. Foi nesse contexto que ele me disse: “Roney, é o assentamento, é o seu lugar de afirmar-se desta forma”. O título Assentamentos surgiu dessa reflexão conjunta, pois representa tanto os espaços simbólicos e afetivos que venho ocupando ao longo da minha trajetória quanto às práticas religiosas e culturais afro-brasileiras que atravessam meu trabalho”, relembra. >
Movimento de retorno >
Rememorando lembranças, viagens e andanças, os quadros trazem signos do sertão – couro, cores terrosas, caboclos de couro, mestres seleiros, texturas ásperas – parte da vida do artista desde a infância, ressignificando-os em diálogo com com símbolos, rituais e cosmologias afro-brasileiras. “O sertão e a diáspora africana não são universos opostos, mas territórios simbólicos que se cruzam e se complementam”, garante. >
Um retorno que fortalece a esfera pessoal, aproximando o artista de referências e temas sociais que marcaram sua cidade natal e unificando seu trabalho. “O que antes surgia fragmentado em minha obra agora se junta de forma coesa, fortalecendo minha visão afro-diaspórica e a maneira como me coloco no mundo”, explica o artista. >
De acordo com Roney George, Assentamentos busca não apenas resgatar os processos artísticos e identitários na sua obra, mas também provocar reflexões sobre permanência, transformação e resistência cultural e a importância da arte nessa missão. “A arte materializa e preserva os processos identitários, sejam eles ancestrais ou contemporâneos. Ela tem um papel simbólico e monumental, garantindo que narrativas, memórias e estéticas sejam reconhecidas e valorizadas. Muitas vezes, a história e a ancestralidade se manifestam de maneira intangível, e a arte cumpre o papel de dar forma ao que é abstrato, ao que poderia se perder no tempo”, defende. >