Espetáculo mostra que Belchior era mais que um "cidadão comum"

'Ano Passado eu Morri, Mas Esse Ano eu não Morro' está em cartaz em Salvador. Peça mistura músicas e textos do compositor de 'Como Nossos Pais'. Assinante Clube CORREIO tem 40% de desconto no ingresso

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Publicado em 9 de agosto de 2024 às 06:00

Pablo Paleólogo interpreta Belchior
Pablo Paleólogo interpreta Belchior Crédito: Chris Machado/divulgação

Quando foi convidado para interpretar o cantor e compositor Belchior (1946-2017) no teatro, o ator carioca Pablo Paleólogo, 41 anos, ficou lisonjeado, mas, ao mesmo tempo, um pouco assustado, afinal conhecia pouco da obra daquele artista. No máximo, clássicos como Apenas um Rapaz Latino Americano ou Como Nossos Pais. Mas, depois que mergulhou nas canções e na vida do músico cearense, encantou-se: “Hoje, ele faz parte da minha vida e não é só da parte artística. A minha forma de encarar a vida é parecida com a dele. É uma referência que eu precisava”, diz o ator.

Pablo é o protagonista da montagem Belchior Ano Passado eu Morri, Mas Esse Ano eu não Morro, que será apresentado de hoje a domingo no Teatro Jorge Amado. É um espetáculo que mistura elementos de diversos formatos, segundo Pablo: “É peça, é show, é biografia… é tudo isso. Uma celebração à vida e obra de Belchior, mas não é um espetáculo quadrado com a linha do tempo tradicional”.

Cidadão comum

A montagem dirigida e criada pelo carioca Pedro Cadore, 33, inclui músicas de Belchior - interpretadas por Pablo Paleólogo - e falas retiradas de entrevistas concedidas pelo compositor. Há ainda um outro ator em cena, Bruno Suzano, que dá vida ao Cidadão Comum, personagem citado por Belchior em algumas canções e que é como um alter ego do músico. “O Cidadão Comum é aquele que Belchior teria sido se não ousasse correr atrás de seus sonhos. É alguém que não teve capacidade de sonhar na vida. Ele abandonou os estudos para tentar correr atrás do sonho de fazer música”, diz Pedro Cadore.

Quem for ao Teatro Jorge Amado vai ouvir Pablo interpretando quase 20 canções de Belchior, como A Palo Seco, Medo de Avião, Como Nossos Paise Velha Roupa Colorida. Além dos atores, estará no palco uma banda ao vivo com quatro músicos - Emília B. Rodrigues (bateria), Rico Farias (violão/guitarra), Silvia Autuori (baixo/violino) e Thomas Lenny (teclado).

Bruno Suzano é o Cidadão Comum
Bruno Suzano é o Cidadão Comum Crédito: Clarissa Ribeiro/divulgação

Sem imitação

Mas não espere que Pablo seja um imitador de Belchior: “Não me preocupo em ser um ‘cover’ de Belchior. Mas ele tem marcas fortes na interpretação, era praticamente fanho. Mas eu disse a Cadore que não queria imitá-lo. Ele entra em cena quase como uma lembrança. É um Belchior meio ‘embaçado’”, revela o ator.

Ator e cantor, Pablo nunca havia interpretado um músico no palco: “Tenho disco gravado, faço um som pop. Digo que é ‘pop/rock teatral’, bem dramático”. Ele também já fez trilha e direção musical, mas sempre concentrou-se em canto e interpretação. Estudou teatro na tradicional escola O Tablado, no Rio, onde foi colega de Pedro Cadore. “Pablo sempre me chamou a atenção por seus dotes vocais. Sabia da potência vocal dele”, afirma o diretor.

Pedro diz que teve a ideia da peça durante as eleições presidenciais de 2018, quando, no segundo turno, o país estava rachado: “Era um período conturbado, em que as famílias estavam brigando e amizades se desfazendo. Queria alguém que trouxesse palavras de esperança para as pessoas e que valorizasse a cultura, que estava sofrendo retaliações”.

O diretor observa que, de uns anos para cá, a obra de Belchior foi resgatada por artistas de outras gerações e cita Emicida, que usou na canção Amarelo um sample de Sujeito de Sorte, composição de Bechior. Ele lembra ainda de Vanessa da Mata e João Gomes, que regravaram Comentário a Respeito de John, composta em 1979.

Na plateia da peça, Pedro diz ver, além de pessoas mais velhas, jovens que querem saber mais sobre a vida do músico. “Às vezes, eles nem sabem as músicas, mas têm curiosidade de conhecer. Então, o público acaba sendo bem diversificado.

Serviço

Belchior - Ano Passado Eu Morri, Mas Esse Ano Eu Não Morro. Teatro Jorge Amado (Av. Manoel Dias da Silva). Hoje e amanhã, às 20h. Domingo, às 19h. Ingressos: R$ 120 | R$ 60 (plateia); R$ 80 | R$ 40 (balcão). Clube CORREIO: 40% de desconto