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Luiza Gonçalves
Publicado em 11 de novembro de 2024 às 11:44
A primeira vez que vi Erykah Badu foi no DVD do show One Love Concert, tributo a Bob Marley gravado em 1999. Assistia repetidamente na infância a sua performance de No More Trouble, impressionada pelo domínio de palco, turbante suntuoso e voz marcante. Assim como esta repórter, quem tinha o sonho de poder prestigiar de perto o talento da rainha do neo-soul teve a oportunidade de realizá-lo no último sábado, na quarta edição do Festival Afropunk Brasil.
Pela primeira vez em Salvador, a cantora americana trouxe em cena uma imersão no seu universo musical e estético afrofuturístico, evocando a ancestralidade negra, identidade e expressão propagadas um setlist com seus maiores sucessos.
Após uma troca na ordem de shows do evento, Badu chegou ao festival à meia-noite e meia ao som The Healer, do álbum New Amerykah (2008), que celebra em sua letra o hip-hop como uma força cultural e espiritual que transcende barreiras, rompendo a invisibilidade da comunidade negra. Liberdade artística, vocal e imagética representada pela figura que se apresenta ao público.
Imponente, a cantora vestia um grande chapéu preto, lenço vermelho, repleta de acessórios nas mãos, pescoço, unhas longas e portava uma túnica colorida com estampas geométricas e ombreiras volumosas assinada pela marca baiana Meninos Rei, confirmando seu interesse pelo mundo fashion.
Pouco antes de sua vinda ao Brasil, Erykah Badu foi reconhecida como ícone do Conselho de Fashion Designers da América, premiação que é considerada o Oscar do universo da moda. A moda e a cenografia sempre foram elementos fundamentais para a artista, alinhando seu projeto identitário e visual ao musical, e no Afropunk não foi diferente.
Encontro com a Bahia
Além do look impressionante, holofotes, leds e projeções cósmicas elevaram a atmosfera do show. A sequência musical seguiu com On & On, hit de seu álbum de estreia Baduizm (1997), um dos pioneiros do gênero do neosoul, e outros sucessos dos seus cinco álbuns de estúdio como Love of My Life, Sometimes, Times a Wastin’ e Appletree, passando pelo pelo hip-hop, R&B e influências afro percussivas, impressionando a plateia que acompanhava atentamente cada sílaba.
O show contou ainda com a participação da rapper americana Rhapsody para cantar 3:AM, indicada ao Grammy de 2025 na categoria de melhor performance de rap melódico. Canção por canção, Erykha ousava nos improvisos, murmúrios, gritos viscerais em toda sua potência vocal e na teatralidade dos movimentos, que, somados a banda numerosa e novas introduções musicais, trouxeram uma entrega única para cada música e a mistura perfeita entre a novidade e clássico ansiado pelos fãs.
Durante o show, Erykah Badu saudou a Bahia diversas vezes, ressaltando a importância de estar no estado e da reconexão com o território afro presente em Salvador. "Sonhei que nos reencontraríamos. Alguém me disse que eu estava geneticamente codificada para lembrar de todas as memórias da velha terra, começando por aqui. Alguém me disse para tirar os sapatos e andar por aqui. Alguém me disse para encontrar a árvore mais próxima e abraçá-la por aqui", afirmou a cantora em uma das passagens no show.
Antes de chegar ao festival, a cantora mencionou em suas redes sociais que, apesar de não conhecer o estado, o sentimento era de retorno: “De volta pra você, mesmo sendo minha primeira vez”, disse. Após o show, ela agradeceu a participação e revelou a intenção de se reencontrar na cidade. “Estou tão feliz de estar com vocês aqui na Bahia, eu tenho desejado vir aqui tem muito tempo, sempre me chama por alguma razão. Eu realmente gostei de me apresentar aqui e amanhã [domingo] eu irei andar pela cidade, e achar minhas raízes na cidade antiga. Muito obrigada, Bahia! Estamos sempre juntas”, declarou. Um encontro, ou reencontro, potente, fazendo do show uma experiência artística emocionante e um grande momento para a cultura em Salvador.