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Em biografia, Edy Star lembra humilhações que sofreu na escola por ser gay

Artista, que completa 87 anos, gravou álbum com canções do amigo Raul Seixas, mas não poderá lançar, por valor dos direitos autorais

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 15 de fevereiro de 2025 às 07:41

Edy Star trabalhou com Raul Seixas em Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez'
Edy Star trabalhou com Raul Seixas em Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez' Crédito: Andres Costa/divulgação

O baiano Edy Star completou 87 anos no mês passado e até hoje ninguém sabe exatamente como o definir. Ator? Sim! Diretor? Também! Cantor? Claro! E um performer incrível! Na dúvida, usemos então aquela definição imprecisa, mas que sem dúvida cabe a ele: multiartista.

Depois de ser retratado no documentário Antes que me Esqueçam, Meu Nome é Edy Star, ele ganha agora a biografia Eu Só Fiz Viver - A História Oral Desavergonhada de Edy Star (Popessuara/ 384 págs./ R$ 65), assinada pelo pesquisador Ricardo Santhiago, com a colaboração de Igor Lemos Moreira e Daniel Lopes Saraiva. Ricardo, no entanto, é cauteloso ao usar a classificação de “biografia”, já que, por opção, se limitou a ouvir o próprio Edy. “Prefiro dizer que é uma história oral contada por Edy, mas com algumas intervenções minhas”, diz o autor.

Nascido em Juazeiro, Edivaldo Souza - seu nome de batismo - mudou-se para Salvador e viveu a adolescência na capital. O artista, hoje um ícone brasileiro da cultura queer, sofreu muito preconceito e demorou para assumir-se como o conhecemos hoje. “Foi um menino extremamente receoso de expor plenamente sua personalidade, especialmente em função das amarras na infância, ligadas a sua sexualidade.

“Na escola, ele passou por humilhações, ameaças, brincadeiras, troças… e, sobretudo, passou por uma interdição para ser aquilo que gostaria de ser: um viado espalhafatoso. Só depois, quando encontra sua turma de viados, é que ele consegue se subjetivar e ser o que ele tinha intensamente dentro de si”, observa Ricardo.

Entre inúmeros trabalhos, Edy participou do cultuado disco Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das Dez, lançado em 1971. Aquele era o álbum de Raul Seixas (1945-1989), já que três anos antes, Raulzito havia lançado um disco com a banda Os Panteras. Mas Raul fracassou nos dois. “Eles se conheceram em Salvador, mas não mantinham uma boa relação. Edy apresentava um programa na TV e a banda de Raul o acompanhava. Mas Raul tinha um certo desprezo por Edy, como se fizesse uma espécie de favor a ele. Raul não tinha afinidade pessoal ou artística com Edy, incluindo um certo desconforto em relação à sexualidade do amigo. Foi um momento tenso da relação entre eles”, relata Ricardo.

O auge da carreira de Edy talvez tenha sido em meados dos anos 1970, quando ele foi descoberto numa boate do Rio de Janeiro pela cantora Maria Alcina, que assina o prefácio do livro. O performer se apresentava na boate Number One e imitava Maria Alcina, sob o nome de Maria Vagina. Alcina o levou para substituí-la em um teatro, onde ele ficou por oito meses, com a casa lotada.

Ricardo que o show de Edy era completo: “Era música, mas tinha muito mais. Hoje, ele diz que as apresentações parecem um recital de músicas: o artista canta, recebe aplauso, canta de novo, recebe aplauso… O show dele tinha texto, número de plateia, interação com o público… era um showman!”, garante o autor do livro.

Edy esteve também na versão brasileira do musical The Rocky Horror Show, que abriu caminho para o lançamento de seu álbum autoral, Sweet Edy, de 1975. O disco, no entanto, foi boicotado pela mídia, segundo Ricardo. Nem a Globo, que era dona da gravadora Som Livre, que lançou o disco, o deixava aparecer nos programas.

Esse boicote está relacionado ao regime militar, segundo Ricardo: “Era uma figura andrógina, estranha, para dizer o mínimo. Tenho dificuldade em dizer se a censura a ele partiu da Globo ou se foi uma censura externa, mas tendo a ficar com a primeira opção”.

Na década de 1990, Edy se mudou para a Espanha, onde continuou sua trajetória artística no teatro e como produtor de boates. Depois de 20 anos, retornou ao Brasil, retomando sua carreira musical com o relançamento de seu álbum original e o lançamento de Cabaré Star em 2017 (produzido por Zeca Baleiro) e Meu amigo Sergio Sampaio em 2023. Há poucos meses, gravou um álbum só com canções de Raul Seixas, mas que infelizmente não deve ser lançado, por causa dos altos custos de direitos autorais que a editora cobra pelas músicas de Raul. “Ele está muito frustrado com isso”, lamenta Ricardo.

Mas, segundo o biógrafo, nada esmorece Edy, que, aos 87 anos, continua na ativa, no Rio, divertindo-se com os amigos e se apresentando com alguma frequência. “Mas trabalha muito menos do que gostaria e a saúde permite que trabalhe muito mais”, assegura Ricardo.