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Carol Neves
Publicado em 15 de março de 2025 às 08:12
O artista Gilberto Gil, aos 82 anos, está prestes a iniciar sua última turnê, "Tempo Rei", que estreia neste sábado (15) na Arena Fonte Nova, em Salvador. O cantor e compositor encara este momento, após 43 anos de estrada, como um marco em sua trajetória, mas também como uma oportunidade de reflexão sobre a finitude. "Ter respeito pelo fim das coisas", disse em entrevista a O Globo, refletindo sobre o ponto final que coloca agora em essa etapa da sua vida. O baiano também falou do estado de saúde da filha Preta Gil e da resiliência com que encara a perspectiva da morte. "A morte faz parte da vida".>
A turnê, que passará por dez cidades brasileiras e terá shows internacionais, marca o início de uma nova fase para Gil. "Estou animado para as duas coisas: começar e terminar", disse ele, destacando que a turnê deve durar um ano, com cerca de 30 apresentações. Apesar de ser a última turnê, Gil não vê isso como o fim de sua carreira. "Pelo menos na medida em que eu tenha, como tenho, uma expectativa de viver ainda mais alguns anos", afirmou. "Vou fazer 83 anos. É uma idade avançada, mas não é limite, como já foi. Os 80 era privilégio para gerações anteriores. A longevidade aumentou um pouco. Já a média mundial, hoje é 75 anos. E os que a gente pode almejar, ia um pouco além da média". >
A saúde de Preta Gil, que está em tratamento contra o câncer, também foi tema da conversa. "Ela se trata. A condição dela desde que foi diagnosticada com câncer, os tratamentos e intervenções, é um conjunto de dedicação profunda que ela tem que ter à própria saúde e apreço pela vida", disse Gil, emocionado. Ele ressaltou a solidariedade que a filha recebe do público e como isso a motiva a seguir em frente. >
Gilberto Gil também refletiu sobre a morte, tema recorrente em suas músicas e conversas. "A morte faz parte da vida nesse sentido. Aliás, esse é um verso de uma das minhas canções", lembrou. Ele relembrou que já perdeu um filho e muitos amigos jovens durante a epidemia de Aids, experiências que o fizeram encarar a finitude com mais naturalidade. "Tem a ver, principalmente, com o aprendizado através dos mestres, das filosofias, das religiões, os politeísmos, os monoteísmos no sentido mais rigoroso", acrescentou. >
Questionado sobre o medo da morte, Gil foi categórico: "Continua sem medo da morte, mas com medo de morrer". Ele explicou que morrer é um ato físico, enquanto a morte é algo que transcende o humano. "A morte, nesse sentido dessa possível expansão infinita que vai se dar depois do último ato de morrer, isso aí não o que vai ser, vai ser o que Deus quiser", afirmou. >
Sobre a turnê, Gil revelou que sua preparação mudou com a idade. "Antigamente era mais solta. Hoje há regras mais básicas para cuidar da condição física geral e, principalmente, da voz", disse. Ele também falou sobre a operação nas cordas vocais que fez há alguns anos e os cuidados que toma para preservar a qualidade da voz. >
A relação de Gil com a tecnologia e a inteligência artificial também foi abordada. "Não sou usuário radical da tecnologia, mas penso a respeito, proponho uma reflexão", disse. Ele não se preocupa com a possibilidade de sua voz ser usada após sua morte. "A voz vai ficar, o texto reflexivo, a poesia... Tudo isso está garantido", afirmou. >
Gilberto Gil também falou sobre política, destacando a importância de valores como solidariedade e amor ao próximo. "Essas coisas que resumem o sentido da palavra amor. Como amar o próximo como a si mesmo", disse. Ele avaliou o governo Lula e o trabalho de Margareth Menezes no Ministério da Cultura, destacando as dificuldades enfrentadas pela pasta. >
Ao final da entrevista, Gil refletiu sobre sua família e legado. "Oito filhos, doze netos, duas bisnetas. É um senhor legado. Estou feliz com a minha gente", afirmou. Ele encerrou com uma mensagem de esperança: "Acredito que vamos criando o tempo. O ser humano é bom nas emergências. Espero que, agora, faça o melhor uso possível da sua capacidade mais ágil". Leia a entrevista completa. >