Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 12 de novembro de 2024 às 12:54
Ao mestre com carinho, o documentário Dessa arte eu sei um pouco presta uma homenagem ao legado do Mestre Paulo dos Anjos (1936-1999), figura icônica da capoeira angola, narrando sua atuação e ensinamentos na Bahia a partir daqueles que foram seus discípulos e, hoje, perpetuam a herança cultural da capoeira.
Os mestres Rene Bittencourt, Jorge Satélite e Jaime de Mar Grande revelam ao espectador seu processo de formação com Paulo dos Anjos , traçando um perfil de suas características e princípios, expondo suas afinidades e divergências com o velho mestre e exaltando sua relevância para a capoeira no estado. Dirigido pelo cineasta e também capoeirista Cled Pereira, o longa-metragem estreia nesta quinta-feira (14), na Saladearte do CineMAM, e terá uma sessão especial na sexta-feira (15), às 19h, que contará com debate entre o diretor e alguns dos mestres de capoeira convidados.
Cled conheceu a atuação de Mestre Paulo a partir de suas aulas de capoeira no início dos anos 2000, em Brasília, onde sua professora, a Mestra Elma da Silva, utilizava o CD Capoeira Angola da Bahia, cantado por Paulo dos Anjos, em suas aulas. “A voz dele cantando, as ladainhas, ele é um exímio cantador, sempre foi um dos meus discos favoritos de capoeira. Então a voz do Mestre, muito antes de saber quem ele era, já tinha me pego ali nos primeiros anos na minha iniciação na capoeira”, relembra. Apresentado por Elma aos mestres Jaime de Mar Grande e René, e posteriormente ao Jorge Satélite, o diretor passou a ouvir histórias sobre Paulo que o provocaram a levá-las para o audiovisual.
Uma ideia que surgiu em 2015 e levou anos de estudos sobre o Mestre Paulo dos Anjos e aproximação com seus discípulos para ser posta em prática com a seriedade, respeito e propriedade necessários, destaca Cled. “Eu pude me debruçar no filme, experimentar versões e dialogar com esse material o tempo necessário. Então, ao todo, entre eu ter a ideia e lançar o filme, foram uns sete anos”, pontua. O diretor revela que, apesar do sentimento de alegria em apresentar Dessa arte eu sei um pouco ao público, pesa a responsabilidade de falar sobre pessoas que dedicaram e dedicam suas vidas à capoeira:
“Falar da importância do Mestre Paulo dos Anjos para a capoeira e para a cultura afro-brasileira é um desafio. Eu nem teria palavras para dar a real dimensão das contribuições dele e de outros mestres antigos que mantiveram a capoeira viva num momento em que ela ainda era bastante marginalizada. Que fizeram de tudo para preservar a tradição da capoeira angola e que fez ela chegar onde está hoje”, defende.
O documentário se apresenta como um registro para entender melhor a figura de Mestre Paulo a partir da memória oral de quem conviveu com ele. Como era sua metodologia de ensino, por vezes rígida e perfeccionista, sua relação com os alunos, hierárquica mas muito solidária e coletiva, sua relação com a música e como ele enxergava o papel do capoeirista. O filme também é uma oportunidade para conhecer os trabalhos dos próprios discípulos — Mestre Jaime, Jorge e Rene — nos grupos de capoeira que organizam em Salvador e na Ilha de Itaparica.
“Uma das coisas que a gente não pensa sobre a capoeira é que um mestre, para ele entrar numa comunidade, ele não precisa de nada. Ele chega com o berimbau dele, ele consegue unir as pessoas daquela comunidade em muitos lugares que é onde o Estado sequer entra. Um mestre de capoeira consegue chegar lá e levar para essa comunidade valores que estão se perdendo de companheirismo, de comunidade, de solidariedade”, enfatiza Cled.
SERVIÇO: Filme Dessa arte eu sei um pouco I Estreia na quinta-feira (14) na Saladearte CineMAM, Solar do Unhão, com sessão especial e bate-papo com o diretor na sexta-feira (15), às 19h I Ingressos: R$ 10