Devagarinho ela ganhou público: conheça Samantha Jones, a Zinha de Renascer

A atriz baiana de 26 anos fala sobre sua trajetória nas artes e das alegrias de interpretar a personagem na novela das 21h

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  • Luiza Gonçalves

Publicado em 1 de maio de 2024 às 09:32

Divulgação/Maria Magalhães
Divulgação/Maria Magalhães Crédito: Divulgação/Maria Magalhães

Quando recebeu a missão de interpretar Zinha no remake da novela Renascer, Samantha Jones ficou animada com a possibilidade de desenvolver uma personagem com personalidade diferente do que havia feito até então, como Adel de Um Lugar ao Sol (2021) e Ciça de Todas as Flores (2022). E ainda, por ser sua primeira novela gravada sem restrições da pandemia e na TV aberta. A atriz confessa que não imaginava que o público fosse abraçá-la de tal modo:

“Eu não esperava. Para mim ela ia ser a melhor amiga. Aquela personagem que está lá para falar o que a pessoa tem que ouvir e não necessariamente mostrar sua própria trajetória. Mas a Zinha veio com sua história e vários lados. Eu fiquei mega feliz, quando uma personagem como a Zinha que apesar de muito rabugenta, ciumenta, tem o carinho do público. Ela tem essas características que deixam a gente enquanto espectador irritado, mas que no fundo são coisas que todo mundo sente. Ela tem uma coisa errante e muito humana, esse lugar de dizer o que a gente gostaria de falar e eu acho que isso despertou a receptividade das pessoas”, conta Samantha Jones.

Nascida em Salvador, mas criada em Senhor do Bonfim, interior da Bahia, Samantha Jones, 26, carrega uma trajetória marcada pela diversidade cultural desde a infância. Atriz, cantora e musicista, começou no teatro na adolescência, cultivando admiração pelas artes populares e influenciada pelo forró e pelas vozes da MPB, como Gil, Caetano e Milton. “Comecei a atuar, compor, tudo muito misturado com o cotidiano. Quando era mais nova não havia muita diferença entre subir numa árvore, que era uma coisa que fazia muito no interior, ou num tecido de circo. A gente fazia tudo isso como arte e como vida, uma coisa meio diluída na outra”, relembra.

Em 2016, a atriz deixou a Bahia e se mudou para o Rio de Janeiro para cursar a graduação em artes cênicas na UNIRIO (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro). Durante a gravação de um teste para o banco de dados de atores da Globo, ela chamou a atenção de uma produtora de elenco, o que lhe rendeu o convite para integrar a novela Um Lugar ao Sol, sendo seu primeiro trabalho na televisão.

Samantha também já passou pelo teatro infantil, com a peça Vamos Comprar o Poeta, a novela Todas as Flores e, atualmente, aguarda o lançamento de dois projetos audiovisuais dos quais participou como atriz: o filme Zé, sobre Zé Carlos da Mata Machado - militante da Ação Popular assassinado na ditadura - e a série de terror Reencarne, da Globoplay. “Essa diversidade de fazer streaming, filme, novela, me deixa muito feliz e me faz entender melhor o tempo de cada coisa. De estudo, de entrega e de como se reformular e se adaptar aos personagens”, defende.

João Pedro (Juan Paiva) e Zinha (Samantha Jones)
Joãoo Pedro (Juan Paiva) e Zinha (Samantha Jones) Crédito: Globo/Manoella Mello

Zinha

“Como dizer ao mocinho que ele está sendo bobo? Aí chega Zinha e fala assim: ‘bocó’. Tem uma coisa muito nossa. É muito bom ser baiano e fazer essa personagem baiana. Ela é o personagem em que eu identifico as pessoas que eu conheço, do lugar que eu vivi e que estão presentes no jeito dela: no carinho, na fala, nas patadas e no jeito de amar”, declara a atriz. Num passado de adolescência, com deslocamentos entre Senhor do Bonfim, Salvador e Ilhéus, Samantha buscou nessas três cidades referências para falar e agir de sua personagem em Renascer. Ela afirma ainda que ela e Zinha, apesar das diferenças, têm uma forma parecida de processar seus próprios sentimentos, guardá-los mais para si e canalizar essas emoções de outras formas.

Na versão de 1993, Zinha era Zinho (Cosme dos Santos) e tinha como característica principal a raiva que sentia por José Augusto, personagem que considerava responsável pela morte de seu pai Jupará. Na trama atual, apesar do assunto vir à tona, outras camadas foram adicionadas à personagem, bem como suas mudanças ao longo dos capítulos, como explica Samantha Jones:

“Foi permitido para Zinha ser essa mistura. Eu acho bonito que ela é contraditória. Ela fala besteira, ao mesmo tempo que está ali trazendo João Pedro para a realidade e ela é a menina que fala que ‘eu vou parar de fazer porque não é coisa de mulher’".

Para a interprete, sua personagem vai passando por um processo de autodescoberta: "É o despertar dessa autoconsciência e autoestima, que também vem do apoio externo. Ela vai percebendo que ela pode, sim, usar a roupa que quer, estar no lugar que quer, que ela é bonita, que ela pode, sim, gostar de uma mulher. É uma personagem atravessada pelas mudanças ao longo do caminho da novela e eu vejo uma linha uma crescente que é muito bonita”.

Sobre interpretar uma personagem que se descobre LGBTQIAP+, a atriz Samantha Jones reflete sobre a importância de representatividade e da diversidade numa novela de amplo alcance nacional, especialmente em um país marcado por preconceitos. “Não tem mais como não ter personagens LGBTQIAP+ e, na verdade, deveríamos ter muito mais. E daqui a um tempo talvez essa nem seja mais a discussão deles, inclusive. A gente terá o personagem LGBTQIAP+, e seus conflitos serão outros”, diz.