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De sucesso no Fantástico a diagnóstico de demência: documentário resgata a trajetória do jornalista Maurício Kubrusly

“Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí” abre mostra de cinema no RN e chega na Globoplay em dezembro

  • Foto do(a) author(a) Anna Luiza Santos
  • Anna Luiza Santos

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 19:43

Cena do documentário

A vida e a carreira do repórter Maurício Kubrusly, hoje com 79 anos, será narrada no documentário “Kubrusly: Mistério Sempre Há de Pintar por Aí”, que chegará no dia 4 de dezembro na Globoplay. O jornalista, diagnosticado com demência frontotemporal, atualmente mora no sul da Bahia e não se recorda mais da sua carreira e do que produziu e vivenciou na televisão brasileira. O curta acompanha as suas consultas no médico e seu sofrimento ao perder o que mais um jornalista valoriza na vida: a capacidade de ler e escrever. 

Desde os anos 70, Kubrusly trabalhava como crítico musical e representou a versatilidade jornalística: passou por jornais e revistas impressas, pelo rádio e ainda se lançou na TV em quadros do Fantástico e apresentando o Jornal Hoje. Ao encontrar anotações antigas em seus cadernos, Kubrusly revisita a sua própria história que não ocupa mais a sua mente devido a demência. “Eu fiz muita coisa na vida”, confessa surpreendido no documentário.

Kubrusly em seu quadro no Fantástico
Kubrusly em seu quadro no Fantástico Crédito: Reprodução

A demência também fez com que Kubrusly tenha esquecido de grande parte das pessoas que passaram por sua vida. A única que ele ainda reconhece é a esposa e arquiteta Beatriz Goulart, que dança com ele em uma cena do documentário em que Gilberto Gil surge tocando violão e cantando “Esotérico”, entoando o verso que leva o nome do filme: “Não adianta nem me abandonar/ Porque mistério sempre há de pintar por aí.”

Nele, Gil também relê em voz alta um texto de Kubrusly falando de “ousadas e férteis inovações da arte de Gil”. Gil dispara: “Você que escreveu isso.” “Eu?”, surpreende-se Kubrusly. “Foi você, mas não foi você”, responde o baiano.

A diretora e roteirista do documentário, Evelyn Kuriki, abriu o coração e refletiu sobre o que o companheirismo representa para o jornalista nesse momento. "O documentário mostra uma história de amor, um vínculo inspirador. O Kubrusly, por vezes, não se reconhece mais e a esposa dele tem o hábito de mostrar as coisas que ele fez, de apresentá-lo a ele mesmo o tempo todo. O que a Beatriz faz para mantê-lo produtivo, dentro das possibilidades dele, como ela o cerca de cuidados e faz um esforço para preservar a memória dele, é admirável".

O FUTURO QUE SERÁ LEMBRADO

"A causa da demência frontotemporal não é totalmente conhecida. A ciência busca descobrir o que causa, a partir de um determinado momento, a perda dos neurônios na região frontal e temporal. Cerca de 30% dos pacientes têm alguma história de demência na família, mas às vezes você faz um rastreio genético e não encontra nada", relata Mateus Trindade, neurologista de Kubrusly.

Antes de chegar no streaming, o documentário é o escolhido para a abertura da Mostra de Cinema de Gostoso, que inicia nesta sexta-feira (22) em São Miguel do Gostoso, no Rio Grande do Norte. Em entrevista, o diretor da Mostra e cineasta Eugenio Puppo, elogia a sensibilidade, respeito e delicadeza do filme.

“Maurício Kubrusly marcou a TV brasileira com uma personalidade própria e um jeito irreverente de fazer reportagem. Ele sempre deu muita atenção à cultura, destacando músicos e bandas interessantes que surgiam, sobretudo, em São Paulo.”