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Roberto Midlej
Publicado em 30 de novembro de 2024 às 07:34
O filme Ainda Estou Aqui, de Walter Salles, já levou mais de 1,8 milhão de brasileiros aos cinemas e caminha para se tornar a maior bilheteria de filme nacional no ano, desbancando a comédia Minha Irmã e Eu. A popularidade do filme é tão grande, que, no último final de semana, levou mais gente às salas que a megaprodução Wicked, mesmo estando em 999 pontos de exibição contra 1,5 mil do musical de Hollywood. Passado nos anos 1970, o longa de Walter Salles mostra o drama real de uma família depois que o patriarca Rubens Beyrodt Paiva é levado por militares à paisana e desaparece. Agora, há ainda a expectativa de que o longa seja indicado ao Oscar de melhor filme internacional e Fernanda Torres tem sido cotada para o prêmio de melhor atriz.
E, graças ao filme, o livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva, lançado em 2015, alcançou o topo dos mais vendidos na Amazon do Brasil. Marcelo é também autor do bestseller Feliz Ano Velho, de 1987, clássico entre os leitores jovens.
Assim como Ainda Estou Aqui, há diversos filmes e livros que ajudam a entender melhor um dos períodos mais obscuros da história nacional, que foi o regime militar, de 1964 a 1985. Se durante aquele tempo, a arte ficou sob censura, mais tarde veio uma enxurrada de obras que relevam atrocidades cometidas durante o período: perseguição, tortura e até sequestro de crianças aconteceram e isso está registrado em muitos materias, seja em formato ficcional ou documental.
Um dos personagens mais frequentes desses registros é o baiano Carlos Marighella (1911-1969), que está em livros como Batismo de Sangue, de Frei Betto ou no filme ficcional Marighella, baseado na vida do guerrilheiro. Veja abaixo dicas de filmes e livros sobre o regime militar brasileiro.
Narciso em Férias (2020)
Em emocionante depoimento de quase uma hora e meia, Caetano Veloso relembra como foi a sua relação com o governo militar e emociona o espectador ao detalhar como foram seus dias na prisão, em 1968. Sobram sequências tocantes, como aquela em que Caetano canta seu clássico Terra e fala sobre o contexto em que a compôs. A bela versão de Hey Jude é também um outro momento inesquecível. “A beleza deste filme está na maneira como Caetano Veloso, aos 78 anos, é capaz de nos levar de volta àquela cela e nos fazer partilhar da impotência do rapaz preso”, diz João Moreira Salles - irmão de Walter Salles -, produtor do filme. Disponível no Globoplay
Ação Entre Amigos (1998)
Um dos melhores diretores brasileiros revelados nos últimos 30 anos, o paulista Beto Brant sabe mesclar bem as doses de drama e ação em suas produções. Foi assim em ‘Os Matadores’, de 1997, e aqui ele repete a fórmula. No filme, três amigos se reencontram décadas depois de terem participado de um assalto a um banco, numa ação ligada à luta armada contra o regime. Presos, eles foram torturados, sendo que a namorada de um deles, grávida, morreu devido aos ferimentos. Agora, eles reencontram o torturador e decidem se vingar. Destaque para Zecarlos Machado (foto), que interpreta Miguel. Disponível no Pluto TV (grátis)
Marighella (2011)
O documentário, narrado por Lázaro Ramos, faz uma construção histórica e afetiva do ex-deputado e ativista baiano Carlos Marighella (1911-1969), que atuou em importantes momentos políticos do Brasil entre os anos 1930 e 1969. Político e escritor, ele redigiu o ‘Manual do Guerrilheiro Urbano’, que orientou os movimentos revolucionários. Inclui depoimentos do escritor Antonio Risério, de Carlos Augusto Marighella (filho do guerrilheiro) e do escritor Antonio Candido, ex-militante do Partido Socialista Brasileiro. A direção é de Isa Grinspum Ferraz, sobrinha de Marighella. Vale assitir ao doc e, em seguida, à ficção ‘Marighella’, dirigida por Wagner Moura. Disponível na Netflix
O Que é Isso, Companheiro? (1997)
O jornalista Fernando (Pedro Cardoso) e seu amigo César (Selton Mello) abraçam a luta armada contra o governo militar no final da década de 60. Os dois entram para um grupo guerrilheiro de esquerda. Em uma das ações do grupo militante, César é ferido e capturado pelos militares. Fernando então planeja o sequestro do embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Charles Burke Elbrick (Alan Arkin), para negociar a liberdade de César e de outros companheiros presos. Foi indicado ao Oscar de melhor filmes estrangeiro e é baseado no livro homônimo de Fernando Gabeira. Disponível no YouTube
Jango (1984)
Década de 1960, Guerra Fria. No Brasil, João Belchior Marques Goulart, mais conhecido como Jango, um líder de esquerda e então presidente do país, se encontra em uma crise com ambos lados da política e sofre um golpe militar que resultaria em um regime de três décadas. Importantes intelectuais e personalidades que participaram dessa fase concedem entrevistas para o documentário que retrata um dos mais marcantes momentos políticos do Brasil. No YouTube
LIVROS
Batismo de Sangue (1982)
Lançado originalmente me 1982 e vencedor do Prêmio Jabuti na catgoria livro de memórias, o relato escrito por Frei Betto revela os bastidores do regime militar, a participação dos frades dominicanos nos anos de chumbo, a morte de Carlos Marighella e as torturas sofridas por Frei Tito, o religioso brasileiro que se tornou símbolo internacional da tortura no Brasil. O autor divulga qual a verdadeira identidade de todos aqueles que fugiram do país pelo "esquema de fronteira" e de quem foi a ideia de sequestrar o embaixador norte-americano Charles Elbrick, em 1969. Ganhou uma adaptação para o cinema, dirigida por Helvécio Ratton.
Cativeiro sem Fim (2019)
Traz histórias chocantes de bebês, crianças e adolescentes que foram sequestrados no governo militar. O jornalista Eduardo Reina fez uma extensa investigação para descobrir 19 casos de sequestro de filhos de militantes de esquerda ou de pessoas contrárias ao regime. Desses 19, 11 eram ligados diretamente à Guerrilha do Araguaia e outros oito no Rio de Janeiro, em Pernambuco, no Paraná e no Mato Grosso. Algumas vítimas ainda procuram seus pais e outras continuam desaparecidas, mas seus familiares contam suas histórias. A publicação é uma parceria do Instituto Vladimir Herzog com a Alameda Casa Editorial.
Mulheres na Luta Armada (2022)
A autora Maria Cláudia Badan Ribeiro, doutora em história social pela USP, destaca o papel das mulheres na luta armada e a participação feminina feminino na ALN (Ação Libertadora Nacional). "As mulheres perderam a voz: escrevem pouco sobre elas e falam menos ainda. Não é que não participaram [da luta contra o regime]. Participaram muito, mas a memória também tem gênero. O estigma continua, então essas histórias não são contadas", disse a autora ao site Brasil247.
A Ditadura Escancarada (2002)
Este livro, juntamente com 'A ditadura envergonhada', da série 'As ilusões armadas', faz a reconstituição de um período crucial da história brasileira - de março de 1964 a março de 1979, da deposição de João Goulart ao dia em que Ernesto Geisel entregou a faixa presidencial. 'A ditadura escancarada' trata do período que vai de 1969, logo depois da edição do AI-5, ao extermínio da guerrilha do Partido Comunista do Brasil, nas matas do Araguaia, em 74. Foi um período duríssimo. Ao mesmo tempo, foi a época de crescimento econômico e de um regime de pleno emprego, além das alegrias da Copa do Mundo de 1970. O 'Milagre Brasileiro' e os 'Anos de Chumbo' foram simultâneos e estão retratados neste livro.
A máquina do golpe, vol. 1: Engrenagens militares e apoio externo: 1964: Como foi desmontada a democracia no Brasil (2024)
Recuperando com riqueza de detalhes o estopim da deflagração do golpe de 1964, Heloisa Murgel Starling esmiuça os antecedentes que pavimentaram a derrubada da presidência de João Goulart e deram início a um regime militar de vinte e um anos. Nesse percurso, a historiadora evidencia a articulação entre miliares e governadores na empreitada contra o presidente, e a disputa entre eles pela primazia do movimento golpista, descrevendo a concepção e execução da quartelada do general Olympio Mourão Filho, a movimentação política do governador mineiro José de Magalhães Pinto, a atuação do general Carlos Luís Guedes, e a reação do general Castello Branco. A essa intricada rede de conspiradores soma-se a indispensável participação política dos Estados Unidos, personificada no embaixador Lincoln Gordon, cujos esforços para neutralizar e derrubar Jango se fizeram por programas de financiamento a governadores anticomunistas, patrocínio eleitoral nas eleições parlamentares, além de treinamentos para capacitação policial e acordos militares. O livro será lançado em ‘episódios’ de dois capítulos por vez, em formato de e-book.