Congresso da Ufba reúne intelectuais de todo o país

Evento da Abralic, que teve também presença internacional de Angela Davis, terá Aílton Krenak

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  • Roberto Midlej

Publicado em 12 de julho de 2023 às 06:00

Ailton Krenak e Silviano Santiago estarão no congresso da Abralic
Ailton Krenak e Silviano Santiago estarão no congresso da Abralic Crédito: 1) Marina Silva/CORREIO; 2) divulgação

Quando nos deparamos com a programação do XVIII Congresso Internacional da Abralic (Associação Brasileira de Literatura Comparada), que está sendo realizado em Salvador até sexta-feira (14), é difícil não nos atrairmos pela presença de Angela Davis, ativista americana dedicada ao feminismo negro. A professora de 79 anos veio a Salvador para lançar seu mais recente livro, Abolicionismo. Feminismo. Já, e lotou o auditório da Faculdade de Direito da Ufba nesta terça-feira pela manhã.

Mas a programação do evento vai muito além da presença da professora, que costuma ser tratada como estrela na Bahia. Outra importante apresentação é a da crítica literária carioca Flora Süssekind, também professora de teoria do teatro, que participou de uma conferência na terça-feira (11).

""Flora é uma das maiores críticas literárias do país. Ela trabalha no campo da semiótica e é também ligada às artes plásticas e à literatura dentro de um campo cultural mais amplo. Ela é uma crítica corajosa porque tem posições muitas vezes mal compreendidas e divergentes de grande parcela da intelectualidade brasileira"

Rachel Esteves Lima
presidente da Abralic e professora titular de literatura brasileira da Ufba

Segundo Rachel, a própria Angela Davis fez questão de não ser tratada como o centro das atenções do congresso. Tanto é que a norte-americana preferiu não participar da mesa de abertura na segunda-feira, que teve a presença de Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, e da escritora Conceição Evaristo. A professora americana, no entanto, esteve presente para assistir à fala das convidadas. Segundo a organização, em torno de 1,2 mil pessoas estiveram presentes na abertura, no Fiesta Convention Center.

A professora da Ufba explica o que é literatura comparada, que dá nome à associação que promove o congresso: "É um campo disciplinar muito aberto, que assume uma característica muito interdisciplinar. A literatura comparada trabalha as relações entre as artes e entre a literatura de vários países".

Prêmios

A programação inclui a entrega de prêmios concedidos a intelectuais brasileiros e estrangeiros que se destacaram no campo da literatura comparada. Um desses prêmios, o Blaise Cendrars, será entregue a Ettore Finazzi-Agrò - professor emérito da Universidade de Roma La Sapienza - pela promoção da literatura brasileira no exterior, tanto em sua produção crítica quanto na formação de diversos pesquisadores hoje em atividade.

O ensaísta mineiro Silviano Santiago vai receber o prêmio Tânia Franco Carvalhal "pela sua enorme contribuição no desenvolvimento da Literatura Comparada no Brasil", segundo a organização do Congresso. Silviano está em Salvador e receberá a homenagem nesta quarta-feira (12), numa sessão plenária que começa às 17h, mediada por Cássia Lopes.

"Temos também uma linda homenagem à professora Laura Padilha, que foi pioneira no estudo de literaturas africanas no Brasil", destaca Rachel. Há ainda prêmios para dissertações e teses publicadas nos últimos dois anos.

Público

Rachel observa que há algum tempo surgiu o que ela chama de "espetacularização" da vida intelectual e eventos como o congresso da Abralic recebem às vezes pessoas que nem leram determinados autores, mas ainda assim vão ao evento. "Não estamos ilesos a isso. Então, o congresso é aberto a todos. A participação de Angela Davis foi mais restrita por vontade dela mesma".

As inscrições para o congresso já estão encerradas, mas Rachel diz que os interessados ainda podem comparecer como ouvintes, sem direito a certificados, no campus da Ufba em Ondina. As mesas de debate e conferências serão gravadas e mais tarde disponibilizadas no canal da Abralic no YouTube.