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Luiza Gonçalves
Publicado em 7 de março de 2025 às 09:50
Um clássico da comédia satírica que critica a hipocrisia moral e religiosa, adaptado para o contexto regional e contemporâneo baiano, será encenado neste fim de semana no Teatro Jorge Amado, na Pituba. A companhia Os Argonautas Cia de Teatro apresenta o espetáculo Tartufo - O Impostor, com direção e atuação de Marcelo Flores e Alethea Novaes, além de Celso Jr., Tarsila Carvalho, Marcos Barreto, Rapha Gouvea e Tiago Querino. >
“Tartufo é uma comédia muito divertida. A história de um impostor que se passa por alguém muito religioso, uma pessoa de fé e que tem uma moral elevada, e engana um homem crédulo e rico para tirar proveito. É um dos textos mais conhecidos e montados de Molière ao longo de quase quatro séculos. Muito atual e divertido, com as situações inusitadas que são criadas pelas enganações”, descreve o diretor Marcelo Flores.>
Para esta adaptação, Flores explica que foi mantida a fidelidade ao texto original do dramaturgo francês, mas em diálogo com o cotidiano, a partir da inserção de elementos baseados na realidade nordestina e no contexto do humor feito nas redes sociais. “A gente se debruçou sobre isso, colocando a peça numa realidade nordestina, baiana, brasileira, sem época muito definida, mas mais próxima da nossa. Atual, evidentemente. Tartufo é um personagem muito reconhecível pelo público porque ele é um farsante, é uma pessoa que, independentemente de qualquer religião, se passa por algo que não é. Ele é um fingidor, um picareta mesmo. E isso faz com que a gente pegue referências da vida real e as coloque na peça”, explica.>
Crítica social>
A proximidade com figuras da realidade foi exatamente uma das características que mais atraíram Flores para não só dirigir, mas também atuar no espetáculo como Tartufo. “A gente percebeu que figuras como o Tartufo, que abusam da fé das pessoas, podem ser muito perigosas. Elas estão aí nos noticiários, nas denúncias. Então, esse foi o meu primeiro foco no personagem”, pontua ele.>
Apesar de serem funções distintas, equilibrar direção e atuação tem, sem dúvidas, desafios, diz Flores, revelando que muito ensaio e a colaboração do olhar crítico do elenco e do assistente de direção, Arthur Carvalho, foram elementos decisivos para o sucesso do espetáculo.>
Outro atrativo da peça Tartufo é o texto de humor atrelado à crítica social, destacada por Marcelo Flores e também pela colega de elenco, a atriz Alethea Novaes. “Molière escreve Tartufo criticando essa impostura religiosa, a hipocrisia social e comentando muito sobre o abuso da fé e a credulidade das pessoas em benefício próprio, como isso se relaciona ao acesso ao poder, ao lucro, e isso dialoga muito com os nossos dias. A gente tem visto muito isso relacionado a diversas religiões e gostamos de destacar que a crítica, no nosso caso, não é à religião ou à religiosidade, mas ao abuso que se faz através disso, enganando as pessoas por meio de sua fé”, afirma Novaes.>
“Nós fizemos um texto de Molière há três décadas, então, depois desses anos, voltar com uma comédia que dialoga tanto com os nossos dias tem sido muito bacana para a gente, comemorando com riso e trazendo o público para esse marco”, relembra, feliz, a atriz. Colegas de cena há 30 anos e fundadores da companhia Os Argonautas, Novaes e Flores destacam o marco de 25 anos de atividade do grupo, que comemora as bodas de prata com a montagem de Tartufo.>
“Celebrar os 25 anos da companhia de teatro Os Argonautas é motivo de muita alegria e muito orgulho, porque significa celebrar uma existência e uma resistência. Não tem sido fácil fazer teatro no Brasil de forma independente, em termos de construção e de criação mesmo. Então, a gente fica muito feliz com esse nosso décimo espetáculo”, partilha Flores.>
Serviço: Espetáculo Tartufo - O Impostor | Sexta (7) e sábado (8), às 20h, e domingo (9), às 19h, no Teatro Jorge Amado, Pituba | R$ 40 e R$ 20>