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Carol Neves
Agência Brasil
Publicado em 31 de janeiro de 2025 às 08:13
As festas juninas superam o Carnaval e são o evento popular preferido entre moradores de capitais brasileiras. O dado está na pesquisa "Cultura nas Capitais", realizada pela JLeiva Cultura & Esporte com patrocínio do Itaú e do Instituto Cultural Vale. >
De acordo com o estudo, 78% dos entrevistados que participaram de festas populares nos últimos 12 meses disseram ter ido a festas juninas, enquanto 48% compareceram a desfiles ou blocos de Carnaval. João Leiva, diretor da JLeiva, destacou para a Agência Brasil, que "em nenhuma capital, o Carnaval apareceu à frente da festa junina", com exceção de Recife, onde a diferença estava dentro da margem de erro. No restante do país, a festa junina lidera com uma margem superior a 10 pontos percentuais sobre o carnaval.>
Leiva atribui o grande alcance das festas juninas à sua natureza descentralizada, com eventos realizados em diversos locais, como escolas e igrejas, o que contribui para uma participação mais ampla e diversa. "Essa característica – incontáveis eventos distribuídos por quase todas as regiões – ajuda a aumentar o acesso", explicou o pesquisador. Ele também destacou que, embora as festas juninas tenham um público expressivo, elas não têm o mesmo destaque midiático que o carnaval, que, por ser concentrado em grandes blocos e desfiles, acaba atraindo mais atenção da mídia. "Ou seja: as festas juninas, somadas, têm mais gente, mas menos fama", completou Leiva.>
A pesquisa também revelou que o sertanejo é o gênero musical mais popular em 15 das 27 capitais brasileiras, com 34% dos entrevistados incluindo-o entre seus três ritmos preferidos. Leiva observou que o sertanejo se destaca em todas as faixas etárias, exceto entre os jovens de 16 a 24 anos, onde o funk, pop e rap são mais populares.>
Em relação a outras atividades culturais, os cinemas foram a principal opção de lazer fora de casa, mas apenas 48% dos entrevistados foram ao cinema nos últimos 12 meses. Curiosamente, 36% das pessoas nunca visitaram um museu e 38% não assistiram a uma peça de teatro. "É comum que as atividades culturais que podem ser feitas em casa, ou em quase todos os lugares, sejam as mais citadas", explicou Leiva, destacando que livros e jogos eletrônicos foram as atividades mais acessadas.>
A pesquisa também identificou um recuo no consumo de atividades culturais entre 2017 e 2024, com exceção dos jogos eletrônicos. Leiva atribui essa queda à pandemia de covid-19, que alterou os hábitos culturais, acelerou a migração para o ambiente online e reduziu a produção cultural. Contudo, ele acredita que há potencial para crescimento, apontando que muitos entrevistados demonstraram interesse em participar de eventos culturais, o que caracteriza um público potencial.>
Além disso, a pesquisa revelou desigualdades no acesso à cultura, com pessoas mais jovens, brancas, com maior escolaridade e melhores condições econômicas sendo as que mais participam de atividades culturais. "O acesso à cultura reproduz boa parte dos padrões de exclusão socioeconômicos do país", comentou Leiva, destacando que mulheres, especialmente as donas de casa, enfrentam mais dificuldades para acessar atividades culturais. A pesquisa também identificou que os idosos são o grupo mais excluído culturalmente, com muitos relatando não ter participado de nenhuma atividade cultural nos últimos 12 meses.>
O estudo ainda apontou que a escolaridade e a renda são fatores decisivos para o acesso à cultura. Quanto maior o nível educacional e a renda, maior a participação em atividades como teatro, museus e cinema. Leiva defendeu que "mais educação e melhor distribuição de renda poderiam ampliar o acesso e o interesse pela cultura no país", e ressaltou a importância de descentralizar os equipamentos culturais para garantir acesso mais igualitário.>
A pesquisa foi realizada entre 19 de fevereiro e 22 de maio de 2024, com a participação de 19,5 mil pessoas em todas as capitais brasileiras e no Distrito Federal. Resultados completos serão divulgados na semana que vem. >