Receba por email.
Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Luiza Gonçalves
Publicado em 28 de maio de 2024 às 09:19
Belize Pombal é uma potência difícil de ser esquecida. De Quitéria (Renascer) e agora Geíza (Justiça II) a impressão que fica é o desejo de explorar mais a atuação com preparo e emoção. A atriz de 38 anos começou aos 11 em aulas de teatro, cursou artes dramáticas na Universidade de São Paulo e seguiu trajetória frutífera no teatro e audiovisual.
A diversidade de formatos chama atenção no currículo de Belize: teatro musical, comédia, série para streaming, TV e novela, em produções como Irmãos Freitas (2019), Sessão de Terapia (2019) e Onisciente (2020).
“A vida foi apresentando caminhos e eles foram me construindo como cidadã, mulher e também como artista. A formação como estudante foi muito importante e as experiências de trabalho vão agregando, expandindo nosso olhar para a importância do que fazemos. Porque a gente também interfere na relação das pessoas com a vida”, diz.
Quando chegou a Renascer, a atriz já havia gravado Justiça, mas foi a novela das 21h que a projetou primeiro na tevê aberta. Belize revela não ter tido expectativa para Quitéria, mas tinha consciência do histórico do público com a novela e da responsabilidade de contar a história de uma personagem que podia representar o cotidiano de várias pessoas.
A construção de Quitéria passou, então, a fazer parte de uma relação viva com a audiência, pontuada pela equipe e colegas de cena, principalmente Fabio Lago e Duda Santos seu núcleo na trama. “Tudo isso vai construindo a trajetória da personagem e trazendo camadas para que seja possível contar aquela história”, diz.
Personagens desafiadoras
Lançada entre abril e maio deste ano, Justiça II apresenta a história da manicure Geíza e sua filha, Sandra (Gi Fernandes), que vivem e trabalham na comunidade do Sol Nascente, Ceilândia. Renato (Filipe Bragança), um jovem de classe média que entra para o tráfico, se muda para a vizinhança e passa a atrapalhar o cotidiano delas, culminando em um evento extremo que faz Geíza matar um homem para defender a filha.
“Geíza é uma mulher que vive a maternidade solo e isso norteia muito a vida dela. Uma moradora de periferia, com valores muito elevados e que faz o possível para transmiti-los para a filha, tendo a percepção de que a educação é de fato uma ferramenta que transforma a realidade. Ela é movida por amor, coragem e pelas próprias urgências da vida”, define Belize.
Quitéria e Geíza, mulheres negras, complexas, mães tentando, dentro de suas realidades, cuidar das filhas, mas que vivenciam universos e dinâmicas de vida diferentes. Para Belize, interpretar personagens desafiadoras está longe de ser um problema: “Meu interesse maior é realmente fazer personagens que contribuam de alguma forma para a percepção de quem assiste”.
Há 10 anos, Belize, que é de São Paulo, morou em Salvador por um ano e meio e conta que, apesar de não ter atuado como atriz na capital baiana, viver na cidade teve uma importância muito grande para ela: “Eu sou uma mulher negra retinta e há um grande número de pessoas retintas em Salvador. Então, pude me ver nas pessoas do meu entorno com maior frequência e potência, e tendo mais consciência da sua beleza, história e importância. Senti isso muito forte em Salvador, a possibilidade de ocupar espaço sem pedir tantas desculpas”.
Vivência essa que impulsionou ainda mais algo que prega: o poder de ser representativa para pessoas que se identificam com sua imagem e discurso. “É importante que a gente tenha, não só na TV, mas no teatro, na dança, na música e na literatura a possibilidade de honrar essas pessoas e refletir sobre aspectos que são urgentes e fundamentais na nossa sociedade”, finaliza.