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Da Redação
Publicado em 28 de março de 2019 às 06:00
- Atualizado há 2 anos
Muito além dos sabores da comida portuguesa, Lisboa tem um vasto cosmopolitismo gastronômico. Para conhecer é preciso sair de bairros tradicionalmente turísticos, como Príncipe Real e Chiado. Sair da zona do Cais do Sodré, Avenida Liberdade ou Alcântara. Para saborear a diversidade da capital portuguesa, a sugestão é ir para Martim Moniz e para a Mouraria. Esses dois lugares abrigam muitos imigrantes: chineses, indianos, angolanos, cabo-verdianos, vietnamitas, moçambicanos, guineenses...
Por Lisboa já passaram romanos, na época em que a cidade se chamava Olisipo. Também os mouros, que habitaram a região onde fica o bairro da Mouraria. Nas últimas décadas, o país vem recebendo imigrantes de ex-colônias, como Brasil, Angola e Moçambique. De acordo com o Relatório de Imigração, Fronteiras e Asilo 2017, divulgado pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras de Portugal, em meados de 2018, o país conta com aproximadamente 420 mil imigrantes, que equivalem a 4,1% da população. O resultado é uma gastronomia riquíssima.
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Chinês clandestino Não adianta procurar por placas de restaurantes pelas estreitas ruas da Mouraria e de Martim Moniz. Segundo André Magalhães, estudioso da cultura asiática e chef da Taberna Rua das Flores, Taberna Fina e do Macau, no Mercado Oriental, os chineses não costumam colocar nomes em restaurantes. Costumam se referir a eles como “aquela porta verde, na rua tal”.
Foi através de André que conheci o Metro 75, um restaurante chinês pequeno, onde o garçom fala muito pouco português e você escreve seu pedido com números numa comanda de papel. Nosso almoço foi um banquete com uns 15 pratos, como guiozas de camarão (ou raviólis de gambas, como eles chamam por aqui), hóstias de camarão, pão recheado no vapor, berinjela assada, pato com cogumelos e bambu, crepe de vegetais e salada de água-viva (que tem uma textura cartilaginosa). Aliás, diferentemente dos restaurantes chineses com os quais temos costume no Brasil, a comida chinesa raiz tem bastante desse tipo de textura.
Outra comida à qual fui apresentada é o ovo centenário, que pode ser chamado de ovo preservado, ovo de cem anos ou pidàn. É uma verdadeira iguaria. O ovo fica enterrado por pelo menos quatro meses com argila, cinzas, sal, cal e amido de arroz. Há quem torça o nariz, mas eu gostei. Estava bem temperado. Para brindar, pedimos uma cerveja chinesa, a Tsingtao, que começou a ser produzida na China por alemães em 1903.
A conta, com comida e bebida para 12 pessoas, deu cerca de €120, ou seja, €10 para cada. Funciona todo dia, de 12h às 23h30. Fica na Rua Cavaleiros, 75, Mouraria.
Pato chinês é uma das delícias do restaurante Metro 75 (Foto: Gabrielle Ferreira/Divulgação)Da Coreia ao Vietnã No coração de Martim Moniz, em frente à praça, fica o Mercado Oriental. Lá, a dúvida é o que comer, pois é difícil escolher entre os oito restaurantes que o empreendimento abriga desde dezembro no ano passado. Há comidas de países como Coreia, Japão, Vietnã e até da parte portuguesa da China, Macau. Os pratos começam em €3, como o crepe vietnamita do Mint House. A sopa Pho com massa de arroz, carne bovina, moyashi (broto de feijão), cebola e manjericão, com um caldo altamente saboroso (e apimentado) por €6. No primeiro andar tem um supermercado de produtos asiáticos chamado Amanhecer, mas é bem turístico, então recomendo que guarde seus euros pra a próxima dica. Abre todo dia, de 12h às 23h. Fica na Rua Palma 41 A, Martim Moniz. Instagram: @mercadooriental.martimmoniz.Paraíso asiático As prateleiras do Supermercado Chen estão repletas de produtos chineses, tailandeses, japoneses e angolanos. Tem conservas, molhos, cogumelos, bebidas coloridas, chás, noodles e até ovo centenário (meia dúzia por €3,95). Fica ao pé da Avenida Almirante Reis, depois da Praça Martim Moniz. Os preços são bem mais em conta. Nos corredores, não se fala português. De segunda a sábado, de 9h às 20h30; domingo de 10h às 20h. Fica na Rua Palma, 216, Martim Moniz.
Tentação de Goa A fusão dos sabores de Índia e Portugal deram origem à culinária de Goa, antiga colônia portuguesa na Ásia que foi anexada à Índia em 1962. Segundo o escritor e gastrônomo português Virgílio Gomes, “a cozinha goesa é um bom exemplo de cozinha de fusão que ganhou perenidade. É prazeroso entender como o “vindaloo” se transformou num verdadeiro prato indiano com origem na nossa receita de vinha-de-alhos”. Em Lisboa, ele indica o restaurante Tentação de Goa. “O ambiente é acolhedor, o serviço agradável e a comida goesa como só ali se come”, afirma Virgílio, que sugere o Camarão com Quiabos (€10,50) e o Biryani de Cabrito (€13,50). De segunda a sábado, de 12h às 15h e das 19h às 22h. É preciso reservar. Fica na Rua S. Pedro Mártir, 23 - R/ch, Martim Moniz, com entrada junto ao Poço do Borratém.
Tentação de Goa: Restaurante mistura culinárias de Portugal e da Índia (Foto: Rodrigo Cabrita/Divulgação)
Uma parada em Moçambique Sentiu saudades do dendê? No restaurante Cantinho do Aziz, de comida moçambicana, na Mouraria, há pratos que levam o óleo de palma, como eles chamam aqui o dendê, e outros ingredientes que são bem familiares da comida baiana, como o quiabo e o coco. O lugar é simples, mas faz sucesso por oferecer autenticidade e preços amigos do bolso. Sugestões: Muambas de galinha (€12), que levam frango em pedaços com dendê, quiabos e vegetais acompanhados de arroz de coco, e Bakra piripiri (€17), um preparado de costelas de carneiro baby em molho avermelhado com legumes, acompanhado de arroz ou Nhama (€12), que leva carne de vaca de halal, quiabos e aipim servidos em molho de coco e açafrão com um toque de dendê. Fica na R. de São Lourenço, 5, Mouraria. Instagram: @cantinhodoaziz. Siga o Bazar nas redes sociais e saiba das novidades de gastronomia, turismo, moda, beleza, decoração e pets: *Gabrielle Ferreira é editora do reportergourmet.com.br e mestranda em Ciências Gastronômicas na Universidade Nova de Lisboa. Colaborou com o CORREIO.