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Ronaldo Jacobina
Publicado em 24 de outubro de 2024 às 14:34
O ator baiano Marcus Dioli dá vida ao Tenente André Antônio Marques no longa “Malês”, dirigido por Antônio Pitanga. O filme, gravado em Cachoeira, no Recôncavo baiano, teve sua pré-estreia na última semana, durante o Festival do Rio, em sessão de gala para convidados no Cine Odeon. >
Autoritário e temido, o personagem interpretado por Dioli é o antagonista do filme, que nasceu de conversas entre Antônio Pitanga e Glauber Rocha e retrata a Revolta dos Malês, maior levante de pessoas escravizadas na história brasileira, que aconteceu em 1835, na Bahia.>
Para Dioli, seu personagem revela muito da sociedade atual, basta tirar os trajes de policial da época: “está espalhado e camuflado na sociedade, nas ruas, no trânsito, através de perfis falsos na internet, condenando, julgando e matando pessoas, pessoas pretas, mulheres e LGBTQIA+”, disse em entrevista a este site.>
De volta a Salvador, o ator celebrou a repercussão positiva do filme e do seu papel. Segundo Dioli, esse trabalho foi a concretização de suas preces. “Lá atrás, quando eu estava começando, pedi em minhas orações que tivesse um dia a oportunidade de trabalhar sendo respeitado como profissional e com uma equipe que tivesse o mesmo intuito, e isso aconteceu nesse filme. Pitanga começou a desejar montar esse filme enquanto eu começava minhas orações em paralelo, e caminhamos lado a lado com o desejo da realização. Num determinado momento do caminho, saímos da bifurcação e nos encontramos”.>
Para o ator, o filme foi um presente surpresa da espiritualidade. “Para mim é um privilégio ser convidado pelo próprio Antônio Pitanga, que é uma força da natureza”, diz. A escalação aconteceu depois que o ator Chico Diaz recusou o convite por conflitos de agenda. Começou, então, a busca por um novo Tenente Marques. Após ver o material de mais de 200 atores, Pitanga recebeu do produtor Delmário Souza links de vídeo da série ‘Pela Fechadura’ e do filme ‘Divaldo Franco’, nos quais Dioli participa, para conhecer o trabalho do ator baiano. Ali, estava decidido.>
“O diretor afirmou que era a minha cara que ele queria que o Tenente tivesse. E me convidou para contar essa história que fala do maior levante de pretos muçulmanos escravizados que aconteceu em Salvador em 1835. Eles lutaram pela liberdade religiosa, autonomia e contra a escravidão. Ele também destacou que estava apostando em mim. E eu honrei esse chamado”, afirma.>
O ator comemorou também o reencontro com a autora e roteirista Manuela Dias, com quem trabalhou anteriormente. “[Ela] comprou a ideia do Pitanga, pesquisou, estudou e embarcou nessa história baseada no livro de José Reis. Sou admirador da Manuela, já trabalhei em sua novela Amor de Mãe, que foi um sucesso, e agora estou em Malês. Nem sabíamos disso, foi também obra da espiritualidade. Sou só gratidão (risos)”. As gravações ao lado de Camila e Rocco Pitanga, a quem descreve, respectivamente, como “séria, justa, atenciosa e generosa” e “sereno, discreto e também generoso”, foram dignas de nota para o baiano.>
O longa entrará em cartaz nos cinemas no próximo dia 14 de novembro e tem no elenco, além de Camila e Rocco Pitanga, Rodrigo dos Santos e Patrícia Pillar. Para o lançamento, a expectativa de Dioli é que a sociedade possa, a partir de Malês, mudar e adquirir um novo comportamento, que seja mais consciente e não só de repetição.>
“Todo comportamento é aprendido, o racismo é aprendido, o preconceito está na etimologia da palavra, é um conceito precipitado, sem o conhecimento do que realmente é. Precisamos ativar nossa humanidade a cada dia ao assistirmos uma história como essa sobre a Revolta dos Malês. Não transformando o oprimido em opressor, mas equilibrando, nos igualando, porque somos todos um só povo. Todo mundo só quer ter poder, tudo bem querer e ter, mas que tenha a responsabilidade de usar da melhor forma, somando e construindo um Brasil melhor, que sonha, mas que precisa realizar, agir com um novo pensamento e, consequentemente, um novo comportamento”, defende o ator.>