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Luiza Gonçalves
Publicado em 8 de março de 2024 às 06:00
Foi no fluxo entre Bahia e Rio de Janeiro durante o séc. XX que Hilária Batista de Almeida (1854-1924) saiu de Santo Amaro e encontrou em terras cariocas sua nova morada. Instalada na região chamada Pequena Africa - reduto da cultura e história negra no Rio - ela ficou conhecida como Tia Ciata, e com suas referências do candomblé e do samba de roda do recôncavo baiano, se tornou uma líder e incentivadora do samba, abrindo as portas da sua casa para o povo tocar em roda (que era ilegal na época). Grandes sambistas frequentavam sua residência, como o músico Donga, que compôs no local a canção Pelo Telefone, considerado o primeiro samba a ser gravado no Brasil em 1916.
Tia Ciata é uma das matriarcas do samba, e 100 anos após sua morte, seu legado continua sendo reverenciado e celebrado por aquelas que têm do samba seu ofício e sua paixão. “Tia Ciata é nossa rainha. Ela, com sua coragem, expertise e amor pelo Samba, contribuiu em grande escala para a resistência deste gênero tão importante de nossa música”, afirma o grupo baiano de sambistas As Ganhadeiras de Itapuã.
No dia 08 de março será mais um dia para o grupo honrar a matriarca, juntamente com as artistas Mariene de Castro, Gal do Beco, Juliana Ribeiro, DJ Libre Ana e Samba de Oyá no Festival Elas à Frente, que este ano fará uma edição especial dedicada às mulheres do Samba, inspirado em Tia Ciata. A programação acontece no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), a partir das 11h, com entrada gratuita - mediante doação de 1kg de alimento não perecível.
“Tia Ciata, assim como as tias Bibiana, Prisciliana e Mônica levaram o legado do samba da Bahia para o Rio, a então capital do Brasil no século XIX. Sem elas o samba não teria acontecido. Chamo essas mulheres de VENTRE do samba. Suas casas foram esse grande ventre que possibilitou a manifestação do samba no Rio de Janeiro sem as prisões e repressões racistas da época. Elas são as grandes rainhas e nós somos suas continuidades”, declarou a sambista Juliana Ribeiro.
Para Juliana, integrar essa edição do Festival Elas à Frente é, além de muito especial, um reconhecimento em vida da continuidade desse legado das mulheres no samba. No dia 08, ela levará ao palco o show "Elas por ELLA", que traz em seu repertório mulheres compositores, intérpretes, instrumentistas, além de canções autorais. “Um show feminino, empoderado e poético, feito para cantar juntas, se emocionar, dançar e cantar as nossas vidas e histórias”, explica.
Com berço no bairro de Itapuã e carregando em si detalhes da história primordial do Brasil, As Ganhadeiras de Itapuã são conhecidas por levar aos palcos canções praieiras, cantigas e cirandas, fruto do coro de 20 vozes femininas. No repertório do festival, elas apresentarão a música e performance de "Chica da Silva" e prestarão homenagem a uma das fundadoras do grupo, Dona Nicinha, falecida em 2022, cantando canções de sua autoria. Para elas, mulheres como Nicinha e Ciata são exemplo de luta e protagonismo feminino no samba, que ainda é afetado pelo machismo. “Muitas vezes nos desgastamos para estar neste cenário, mas estamos cada vez mais dando conta do recado e fazendo bonito do jeito que só nós mulheres sabemos fazer”, declaram.
SERVIÇO: Festival Elas à Frente no Samba - Homenagem a Tia Ciata com Mariene de Castro, Juliana Ribeiro, As Ganhadeiras de Itapuã, Gal do Beco, Samba de Oyá e DJ Libre Ana I Dia 08 de março (sexta-feira), a partir das 11h, no MAM - Museu de Arte Moderna da Bahia I Entrada gratuita mediante doação de 1kg de alimento não perecível