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Luiza Gonçalves
Publicado em 11 de novembro de 2024 às 17:06
O encerramento da quarta edição do Afropunk, no último domingo (10), marcou um momento inédito na realização do festival no Brasil: pela primeira vez, o palco do evento recebeu um artista representando o arrocha, o cantor baiano Silvanno Salles. “Essa noite é histórica. Para mim, é uma grande satisfação estar fazendo parte do maior festival de cultura negra. Pela primeira vez, um cantor de arrocha está nesse palco”, disse o cantor saudando o público no início de sua apresentação.
Silvanno iniciou a noite ao som de Romance, música de 2019 que recentemente viralizou após ser compartilhada pelo ator Will Smith em uma publicação no Instagram, mostrando que há, sim, demanda pelo arrocha no festival. O público acompanhava as letras a plenos pulmões e dançava animado ao som das músicas autorais e regravações mais famosas da discografia do artista, como Dependente, Água de Chuva, Mentes Tão Bem, Locutor e Tô Carente.
No palco, o cantor foi acompanhado por um trio de sopros, tecladista, sanfona, cordas e backing vocals, numa performance com efeitos pirotécnicos e projeções cheias de corações e tons de vermelho em cena. Uma ambiência e sonoridade que reafirmam as origens do artista nos estilos românticos, como a seresta e o brega, e seu status de “o cantor apaixonado”, como se apresenta.
Representatividade
Antes de subir ao palco, Silvanno compartilhou com a equipe do CORREIO, no backstage, que chegar ao Afropunk representa uma reafirmação do espaço que o arrocha pode trilhar nos eventos de cultura negra em Salvador. “Eu já sou um Afropunk. Estamos super felizes e vamos encerrar com chave de ouro”, disse animado. Uma presença que, para Amanda Soares, 24, representava não só ver um artista que admirava em cena, mas uma pessoa que a inspirava em sua trajetória pessoal enquanto pessoa PCD:
“Foi ele que eu vi pela primeira vez deixar explícita a deficiência, encarar isso no meio de uma mídia que ainda não conversava sobre isso. E eu entendo que o percurso era muito difícil. Para mim, é muito importante ver ele no Afropunk, como primeiro artista com deficiência a chegar lá. Acho que vai ser não só significativo pra mim, como para todas as pessoas com deficiência que vão assistir. Outras pessoas vão poder sonhar com isso e ir atrás, porque a gente também faz parte da cultura brasileira”, revela a jovem.
Conhecida nas redes sociais como PCD Perigosa, Amanda é criadora de conteúdo e fã de Silvanno desde a infância, por influência de sua avó. Na ocasião, ela encontrou o artista no backstage para conhecê-lo e entrevistá-lo. Durante a conversa, o artista relembrou sua trajetória e os desafios enfrentados na carreira musical. “Foi muito difícil lembrar. Venho de uma família muito humilde e nela eu sou o único artista, não tinha nenhum músico antes de mim. Eu sempre corri atrás do meu objetivo. Já fui feirante em Salvador, já fiz muitos barzinhos em Simões Filho, mas eu nunca desisti”, finaliza.