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'Arca de Noé' tem sua graça, mas parece animação "genérica" com bichinhos engraçados

Longa dirigido pelo baiano Sérgio Machado estreia em mil salas no país nesta quinta-feira (7)

  • Foto do(a) author(a) Roberto  Midlej
  • Roberto Midlej

Publicado em 6 de novembro de 2024 às 10:42

Tom (Marcelo Adnet), Nina (Alice Braga) e Vini (Rodrigo Santoro)
Tom (Marcelo Adnet), Nina (Alice Braga) e Vini (Rodrigo Santoro) Crédito: divulgação

A história está no Gênesis e o mundo inteiro a conhece há vários séculos: um dilúvio se aproximava e Deus, uma semana antes da água cair, tratou de antecipar a Noé a tragédia, para que aquele senhor tomasse as precauções necessárias. Noé, então, construiu uma arca onde deveria abrigar um casal de cada espécie diferente e assim salvar os animais. Agora, que tal acrescentar um pouco de tempero brasileiro, incluindo aí as canções de Vinicius de Moraes (1913-1980) que marcaram a infância de milhões de crianças? E ainda dar um toque fofinho, transformando a história em animação?

Chega aos cinemas nesta quinta-feira (7) o longa-metragem Arca de Noé, dirigido pelo baiano Sérgio Machado, em dupla com o peruano Alois Di Leo. O elenco que dá voz aos personagens é numeroso e estelar, com cerca de trinta atores e atrizes muito populares: Rodrigo Santoro, Marcelo Adnet, Lázaro Ramos, Alice Braga, Heloisa Périssé, Bruno Gagliasso… Sérgio Machado diz que a aceitação ao convite foi unânime: “[O elenco] Era uma obsessão minha, queria um grande ator para cada personagem. Mas me perguntavam onde eu ia conseguir trinta pessoas. Só que muitos deles são meus amigos, como Lazinho [Lázaro Ramos], Alice, Bruno… Quando eu disse que era a Arca de Vinicius, todo mundo quis”, diz o diretor.

O interesse foi tanto, que nem coube tanto ator no filme: daí, Sérgio decidiu engatar logo o segundo filme e já está com o roteiro nas mãos, como mostrou durante a entrevista ao CORREIO. O plano da sequência deixa clara a ambição da produção, que já nasceu grande, com distribuição garantida em mais de 70 países. “Vinicius de Moraes tem uma força sobrenatural, então o filme foi vendido ainda quando estava no roteiro. Além disso, o gênero animação quebra uma barreira, que ajuda a distribuir: as dublagens não causam estranheza, como ocorre com o live action. Então, é ótimo para levar a cultura brasileira para fora do país”, diz Alois Di Leo.

ADAPTAÇÃO

A história, criada por Sérgio Machado, tem dois ratinhos como protagonistas: Vini, um poeta romântico e sonhador, e Tom, um guitarrista talentoso e pragmático. Os dois, claro, são inspirados em Vinicius de Moraes e Tom Jobim, que compuseram alguns clássicos em parceria. Tom consegue entrar na Arca, mas Vini fica para fora e conta com a ajuda de uma barata engenhosa e a boa sorte do destino para se juntar ao amigo.

Durante a viagem, o instinto fala mais alto e surgem brigas por território e alimentos, deixando, de um lado, os animais mais fortes e, do outro, os mais fracos. E aí se destaca o leão Baruk, que tem a voz de Lázaro Ramos. De voz grave e com um jeito empolado de falar, o leão se torna líder do grupo, mas com uma clara tendência à tirania. É inevitável, portanto, associá-lo a Scar, o vilão de O Rei Leão. Até porque ele tem ao seu lado umas hienas puxa-sacos, exatamente como na animação da Disney.

Mas Sérgio diz que não se inspirou diretamente em O Rei Leão: “Talvez Scar apareça ali, mas pensei mais em Ivan, o Terrível, de Eisenstein [cineasta russo]. A voz dele, eu tinha como referência alguém como Berlusconi ou Trump. Na época, Bolsonaro nem existia”. Sérgio diz que a maneira empolada de se expressar vem de Odorico Paraguaçu - personagem da novela O Bem-Amado - e de Alberto Roberto, criação de Chico Anysio. “Baruk lembra muito os ditadores de repúblicas sul-americanas, os ‘ridículos tiranos’ a quem Caetano se refere [na música Podres Poderes]”.

Arca de Noé tem o seu encanto, por duas razões muito óbvias: as canções de Vinicius - há versões de clássicos como O Pato, A Casa e Corujinha - e os animais, que têm lá sua graça natural. Mas ao texto, o que falta é exatamente a graça. Há umas piadinhas que soam clichês, parecem memes já envelhecidos. Uma hora, Noé diz que já tentou de tudo para resolver um problema e até mandou um áudio de cinco minutos. Noutra, um animalzinho chega correndo e o outro pergunta: “Isso é uma dança nova do Tik Tok, é?”.

A qualidade técnica da animação não é exuberante, mas está longe de ser um problema. Sabendo das dificuldades que é fazer algo do gênero no país, dá conta do recado muito bem. O problema talvez seja mesmo o roteiro, o que é uma decepção, afinal estamos falando de um ótimo roteirista, que é Sérgio Machado, autor de histórias muito bem conduzidas, como Cidade Baixa e O Rio do Desejo. Nem a colaboração que ele teve de Ingrid Guimarães e de Heloísa Périssé acrescentou muito.

No fim, a tentativa de “abrasileirar” a história com as canções de Vinicius não vingou: tem-se a sensação de ser mais uma produção “genérica” de animações recentes, como estúdios concorrentes da Disney têm feito, a exemplo do Illumination, que desenvolveu filmes como Pets e Sing. Animais fofinhos e engraçadinhos não são o bastante para fazer uma boa animação. Mas Sérgio, cineasta da mais alta competência, merece um voto de confiança: que venha a segunda aventura, em breve.