Alceu Valença leva seus clássicos à Concha Acústica

Cantor apresenta neste domingo o show Alceu Dispor. Clube CORREIO dá desconto de 40% no ingresso

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Publicado em 6 de setembro de 2024 às 06:00

Alceu Valença está com 78 anos
Alceu Valença está com 78 anos Crédito: Leo Aversa/divulgação

Entrevistar Alceu Valença é das tarefas mais simples para um jornalista: basta cumprimentá-lo e deixar falar à vontade. Ou, talvez, nem possamos classificar como entrevista, mas como um monólogo. E isso está longe de ser uma queixa: ao contrário, o jeito falastrão do cantor e compositor de 78 anos é uma de suas virtudes. Na conversa, ele emenda uma história atrás da outra, cantarola alguns de seus versos e até imita outros artistas.

E quem for à Concha Acústica neste domingo certamente vai se deleitar com esse jeito inquieto tão marcante do músico pernambucano, que traz a Salvador o espetáculo Alceu Dispor, cujo repertório mescla seus clássicos com canções de outros artistas, como Luiz Gonzaga. Do Rei do Baião, estão lá, por exemplo, Baião, Sabiá e Pagode Russo.

De repente, Alceu incorpora a voz de Gonzagão e surpreende o repórter com uma ótima imitação. Juntos, os dois gravaram Plano Piloto, mas a música não fez sucesso. “Eu cantei muito rápido quando gravamos e ele disse: ‘Alceu, deixa eu ir de xote, porque você canta rapidinho, mas eu prefiro ir de xote’”, disse Luiz Gonzaga na hora da gravação. Natural de São Bento do Una, Alceu diz que havia sanfonas espalhadas por toda sua cidade. Acostumado ao som do instrumento, acabou sendo natural seu apreço pelo compositor de Asa Branca.

O interesse de Alceu pela cultura nordestina surgiu muito naturalmente, segundo ele mesmo: “Fui morar em Garanhuns [no agreste de Pernambuco] e em Recife. Lá, vi muito bloco afro, maracatu, caboclinhos e blocos lusitanos”, lembra-se. “Minha cultura é toda do Nordeste profundo, que é de Pernambuco, é a cultura dos cordelistas, dos violeiros… Isso está presente desde Vitória da Conquista e passa pela margem do São Francisco. Tem aboiadores, cordelistas, violeiros….

Rock

Houve até quem dissesse que Alceu misturava as raízes nordestinas com o rock, mas ele rejeito isso: “Papo furado! Não tenho nada contra o rock, mas não tenho nada a ver com ele. Posso até fazer uma música com melodia de baião e botar uma guitarra. Mas não é porque tem guitarra que pode ser classificado como rock. Uma música não se define só pelo instrumental, mas por outros elementos como melodia e harmonia”, defende. Para Alceu, foi Luiz Gonzaga que melhor definiu o som dele: “Ele disse que eu tinha inventado uma coisa diferente, uma banda de pife elétrica. Ele entendeu o que ninguém entendia, porque ninguém entendia o que era a música brasileira”.

O show que será apresentado na Concha tem um roteiro meio “cinematográfico”, segundo Alceu: “Talvez o público não note isso, mas eu noto.Por exemplo, depois de Girassol, canto Flor de Tangerina. Logo depois, vem Sabiá, que também fala de flores. Então, as coisas se emendam”. Tem também uma sequência em que fala de cidades e ruas e nele está Táxi Lunar. “Compus essa música em Belo Horizonte, num dia em que me senti só”, diz.

“Toda música que faço tem alguma coisa por detrás”, garante o cantor. No caso de La Belle de Jour, por exemplo, a inspiração começou quando ele viu a atriz Jacqueline Bisset depois de um show, num bar em Paris. Na ocasião, a estrela do cinema perguntou: “Quem é você?” e ele respondeu “Sou poeta”. A atriz então o desafiou e pediu que ele escrevesse um poema para ela. Ele lhe entregou em seguida um guardanapo sem nada escrito e disse: “um poema branco”.

O detalhe: embora Bisset já fosse famosa, especialmente por sua beleza, Alceu não fazia ideia de quem era aquela bela mulher. Um amigo então disse o nome dela. Mas não adiantou: o cantor passou anos achando que se tratava de Catherine Deneuve, musa do filme A Bela da Tarde (La Belle de Jour). Daí, nasceu um dos maiores sucessos de Alceu, que, no fim das contas, tem três musas: Catherine Deneuve, Jacqueline Bisset e uma antiga namorada dele. E de vez em quando, ele menciona também uma moça que dançava balé na praia de Boa Viagem, em Recife.

Alceu Valença. Domingo (8), 19h. Concha Acústica. Ingresso: R$ 220 | R$ 110. Clube CORREIO: 40% de desconto