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Larissa Almeida
Publicado em 13 de julho de 2023 às 06:00
O processo para definição da nova gestão da Orquestra Sinfônica da Bahia (Osba) ganhou novo capítulo nesta quarta-feira (12). Por meio de nota, a Secretaria de Cultura do Estado da Bahia (Secult-BA) informou que a Associação dos Amigos do Teatro Castro Alves (ATCA), que atualmente gere a orquestra, sob regência de Carlos Prazeres, está desclassificada do processo seletivo por não ter atingido a nota técnica mínima para seguir na disputa. A decisão cabe recurso, mas, desse modo, os caminhos estão abertos para a única organização social classificada e cotada a assumir a gestão: o Instituto de Desenvolvimento Social pela Música (IDSM) – que comanda os Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia (Neojiba).
Mesmo com a seleção ainda em andamento, IDSM já anunciou que o provável novo maestro da Osba será Cláudio Cruz, sendo descartado, assim, o comando do maestro Ricardo Castro. Paulista, Cruz é regente e diretor musical da Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo desde 2012 e já regeu a Osba, a convite de Castro, em concerto, entre 2008 e 2010.
Cauteloso, o maestro afirma que a única expectativa que tem no momento é de que o projeto seja totalmente aprovado: “Nossa proposta é efetivamente muito boa”. De acordo com Cruz, o convite do IDSM surgiu há dois meses. Ele conta que se aproximou do Neojiba pelo seu trabalho com os jovens e se encantou. Em 2020, durante a pandemia, regeu a orquestra em concerto online. Ele confessa seu carinho pela Bahia - seu pai nasceu na Chapada Diamantina: “Eu tenho esperança de poder trabalhar, sim, na terra do meu pai e realizar um trabalho tão bom ou de tanta qualidade quanto tenho realizado nos últimos anos”.
Sobre seu estilo, Cruz sugere um olhar para a sua trajetória: “No meu canal do YouTube, vocês vão ver a Orquestra Sinfônica Jovem do Estado de São Paulo tocando sinfonias de Mahler, peças de Strauss e Stravisnky, mas também vão ver temas de filmes e valsas. É muito importante que o músico do século 21 tenha uma mente aberta”.
A par das polêmicas envolvendo Ricardo Castro e Carlos Prazeres, Cruz declara seu respeito pelo trabalho de ambos: “Não me compete fazer juízo de valor sobre alguma discordância entre eles. Acho que nem seria cordato de minha parte opinar sobre algum desentendimento pontual. Se é que existe desentendimento”.
Na nota divulgada pela Secult, foi informado que a Comissão Julgadora do edital, composta por cinco servidores do quadro permanente do órgão contratante, chegou ao parecer final de que a ATCA não atingiu a nota técnica mínima apta para chegar à fase seguinte. O critério do edital exige que seja comprovada a capacidade técnica dos seguintes atores: Diretoria Executiva, Dirigente Máximo a ser designado para gerir o serviço e Entidade - esse último exigia que a organização apresentasse atestados emitidos por pessoa jurídica com o intuito de demonstrar a experiência da gestão ou execução de serviços.
Conforme informou a Secult, a ATCA enviou um atestado situando-se na faixa de cinco a sete anos de experiência. Com isso, a organização conseguiu 16,6 pontos, sendo que o mínimo obrigatório é de 20. A ATCA não informou se irá recorrer. Já o IDSM só vai se pronunciar apenas ao final do processo.
Em entrevista recente ao CORREIO, o maestro Carlos Prazeres afirmou que seria impossível se manter na Osba sob nova gestão. “A proposta da organização social ligada ao maestro Ricardo Castro já tem um novo maestro previsto. Me resta desejar sorte, afinal, eu jamais iria torcer contra a orquestra que tanto amo”, disse. . Ele havia antecipado, também à época, que tinha um trabalho garantido em Campinas (SP), onde já foi anunciado como novo maestro da Orquestra Sinfônica da cidade.
Nas redes sociais, Prazeres fez um breve posicionamento, declarando seu amor ao público baiano: “Me pedoem por ainda não me pronunciar. Só digo o que tenho de mais precioso nesta vida: o carinho e o reconhecimento de vocês. A Bahia foi o que de mais importante aconteceu na minha vida. Aqui foi onde mais amei e recebi amor. Serei grato até o último dia de minha vida”.
Com a desclassificação da ATCA e a possibilidade quase palpável do IDSM assumir a Osba, músicos da orquestra já se começam a se manifestar. Um deles, anonimamente, expôs sua inconformidade com a desclassificação da atual gestão: “Como é possível que uma organização social que está há seis anos administrando a Osba, e entregando os resultados que entregou, seja considerada agora ‘incapacitada’? ”.
O músico ainda definiu as passagens de Cláudio Cruz por outras orquestras como “breves e controversas”, mas indicou que o problema maior está na forma da escolha, que acredita ter sido feita sob influência de Ricardo Castro. “Numa entrevista, ele disse que foi ‘consultado’. Deve achar que somos todos idiotas. Quem mais no IDSM teria esse prestígio? Nenhuma orquestra séria do mundo escolheria um novo maestro sem a participação dos seus músicos”, completa.
Nas redes sociais, a desclassificação da ATCA gerou dezenas de comentários contrários ao afastamento de Prazeres. A comunicóloga Carolina Carvalho, 30, avaliou como retrocesso: “O trabalho de Prazeres é revolucionário, de popularização da música clássica na Bahia. Eu acho um retrocesso a saída dele, porque é um personagem que trabalha para a cultura baiana e para colocar a nossa história e os nossos no topo. Eu espero que nós consigamos mudar isso, porque o povo, os funcionários e os músicos querem Carlos”.