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Doris Miranda
Publicado em 18 de janeiro de 2025 às 02:00
Uma viagem no tempo, uma amizade improvável e uma colaboração que resultou num dos maiores clássicos da literatura mundial. É o que se pode constatar ao fechar a contracapa da HQ Céleste e Proust (Nemo/ R$ 120/ 256 págs), de Chloé Cruchaudet.
Mesmo se não desbravou obras como Em Busca do Tempo Perdido ou Sodoma e Gomorra, o leitor se deixa levar pela vida do escritor francês Marcel Proust pelo olhar da governanta dele, a dedicada Céleste Albaret. E, rapidamente, numa abordagem fascinante, com ares vintage, a janela se abre para a rotina dos dois e a troca que poucos se dão conta de ter existido.
O traço delicado, poético demais, de Cruchaudet transporta o leitor diretamente para o início do século XX, com cenários delicadamente detalhados e personagens expressivos, proporcionando uma leitura fluida e convidativa pela narrativa que se desenrola através do olhar de Céleste. Vemos Proust não como um gênio distante, mas como um homem vulnerável, com manias, fragilidades e uma mente inquieta.
Influeciada pelo estilo detalhista de Proust, a narrativa da autora se traduz numa atenção quase obsessiva às pequenas emoções e rotinas que permeiam a vida cotidiana dos dois, marcada por um humor muito peculiar.
Em 2022, no centenário da morte de Proust, a celebração maior esteve a cargo da Bibliothèque Nationale, com a exposição Marcel Proust, A Fabricação da Obra. Em cada sala, o visitante experimentava a sensação de entrar livro adentro. Reuniram ali manuscritos, cartas, objetos, fotografias, móveis, cadernos de rascunho, e tudo mais o que evocasse a atmosfera de Em Busca do Tempo Perdido.
Um foto inédita de Céleste Albaret, a governanta do escritor, passou quase despercebida no meio de tanta coisa para se ver. Mas não a sua voz. Naqueles dias, ela ecoou pela biblioteca. Como nesta HQ, Céleste era uma espécie de ‘biógrafa’ do seu empregador. Até porque não há registro gravado da voz de Proust. Afinal, ela o serviu de forma fiel de 1914 até a morte daquele a quem chamava de forma reverente de Monsieur Proust, em 1922.