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Priscila Natividade
Publicado em 14 de junho de 2020 às 07:00
- Atualizado há 2 anos
Grava. Regrava. Mais uma vez, de novo. A luz não está legal. Volta tudo. Mais uma vez. Agora vai. Essa tem sido a rotina de muitos dos professores que repentinamente foram transportados da sala de aula para a realidade virtual.
E a adaptação à nova realidade não tem sido fácil. Rita de Cássia Santos, que o diga. “Gravar vídeo está sendo muito difícil, não tínhamos essa prática. Também tem a questão do celular, da timidez, da internet adequada. Às vezes, mando para os pais um vídeo de manhã e ele só chega de noite. Todo dia se vai descobrindo e enfrentando os desafios”, afirma.
Para ajudar os educadores a vencer este desafio, o CORREIO, listou 10 ferramentas gratuitas que podem ser utilizadas para gravar aulas ou explorar as diversas possibilidades no ambiente virtual.
O professor tem a sua disposição gratuitamente, uma infinidade de recursos vão desde o Google for Education, em que dá fazer aulas ao vivo, simulados e provas, até o OBS Studio, se for para transformar a aula em uma live. Existem ainda plataformas mais simples de compartilhar conteúdo, como o próprio YouTube e o Zoom, em que dá para juntar a turma toda em uma videoconferência, por exemplo (veja abaixo).
O professor de Biologia e criador do Canal Biologia Fora da Caixa Ney Mello ensina que tudo começa com o roteiro, que tem de ser visto como um plano de aula voltado à produção audiovisual. Outra orientação é fragmentar o que seria uma aula de 50 minutos em pequenos vídeos.
“Não adianta ligar a câmera e não saber o que dizer. Roteiro é tudo. Estabeleça o assunto e a ordem do que será falado. O improviso só cabe na dose certa. A mensagem precisa ser curta e direta”, explica. 'Aulas online precisam ser costuradas em vários pontos', aconselha Ney Mello (Foto: Divulgação) “Ou seja, ao final de um pequeno vídeo em que o professor explica uma parte do conteúdo, ele provoca os alunos a assistirem a próxima aula, quando eles entenderão, dessa vez, a parte ainda mais interessante. Aulas online precisam ser costuradas com vários pontos”.
Mais um conselho é se permitir conhecer e dialogar com outras plataformas digitais. “O professor pode criar uma vídeo-aula no YouTube, que terá imagens sobre o conteúdo no Instagram, que encontrará um pequeno texto no Facebook, complementado por um exercício postado em um blog, que pode encontrar sua correção em uma nova vídeo-aula ou podcast. Um mesmo conteúdo pode ser abordado de diversas formas”, acrescenta.
Dica de mestre Já a lição de Lúcio Vega, professor e criador do canal Como Aprender Física, é treinar e treinar. Ele diz que, assim, a afinidade com a câmera pode chegar com alguns exercícios bem simples. “Faça um vídeo com coisas do seu dia a dia e compartilhe. Procure também um jogo digital. Use a família para fazer entrevistas ou alguma performance”, orienta.
Não é de hoje que o professor de física e criador do canal Como Aprender Física com o Lúcio, virou um ‘edutuber’ e transformou até o escritório de casa em um estúdio de gravação. Ele ensina em duas escolas particulares de Salvador, onde soma ao todo, cinco turmas.
Na pandemia, uma outra turma acabou chegando para acompanhar o conteúdo produzido por dele, que não era as Leis de Newton e suas aplicações, mas de técnicas para a gravação. O ambiente virtual criado especialmente para professores reúne tutoriais para acessar diversas ferramentas digitais que ajudam a produzir as aulas digitais. 'Faça um vídeo com coisas do seu dia a dia e compartilhe', recomenda Lúcio Vega (Foto: Acervo pessoal) Sem pedir licença
Mas como lidar com tanta pressão de sair bem espontâneo, animado e cheio de conteúdo para compartilhar em um vídeo? “Na sala de aula, o barulho é dos alunos, de ventilador quando tem, de carteiras arrastando, de portas. No ambiente virtual, temos barulhos de liquidificador, músicas nada educativas, trajes inadequados tanto em alunos, quanto em familiares, gritos, ruídos, choros, risos. O processo de adaptação ainda está acontecendo”, afirma a professora de matemática Jamine Silva, que tem que dar conta de nove turmas de três escolas diferentes onde trabalha.
A psicóloga infantil, Doutora em Psicologia do Desenvolvimento e professora do UniRuy | Wyden, Roberta Takei, tenta tranquilizar Jamine: “Os professores devem ter a noção que estão buscando fazer o melhor em tempos de mudanças bruscas. Então faça bem seu trabalho, mas também não se cobre de forma excessiva. É necessário se recriar, mas respeitando o limite de cada um”, diz.
Leia também: Aulas online na pandemia: veja porque a escola não vai ser mais a mesma
A professora de Língua Portuguesa Ione Carla acredita que nesse momento, a maior preocupação do professor tem sido em como transformar essas aulas online em experiências significativas para os estudantes.
“Tive que trocar informações com vários colegas para me adaptar. Professor se reinventa todos os dias, o mesmo assunto dado nunca é dado da mesma forma. Sempre tem um elemento novo, até porque ensinar é troca. Nossos alunos sempre nos ensinam alguma coisa. Seja para refletimos sobre aquilo que não funcionou, seja para analisar o que deu certo”.
A saída é adequar linguagens, atividades e possibilidades de maior participação, como recomenda Roberta Takei, para conseguir vencer a apreensão que a aula online provoca. “As respostas comportamentais dadas pelos alunos (entendimento do conteúdo, interesse, emoções) não são imediatas. Aí é tentar promover uma real interatividade que ultrapasse o nível de espectador passivo da aula”.
DEZ PLATAFORMAS PARA AJUDAR O PROFESSOR NO AMBIENTE VIRTUAL
1. Google For Education A plataforma é gratuita tanto para professores quanto para pais e escolas. Também reúne diversas ferramentas que permitem, por exemplo, a realização de aulas ao vivo, simulados e provas e ações colaborativas: edu.google.com
2. Socrative A ferramenta permite que o professor faça questionários, testes e quizzes. O plano gratuito permite cadastrar até 50 alunos por sala. www.socrative.com
3. NAV Digital NAV Digital é uma plataforma aberta que disponibiliza atividades do tipo ‘faça você mesmo’ para alunos do 1º ao 9º ano do Ensino Fundamental. digital.naveavela.com.br
4. YouTube A criação de um canal no YouTube vai servir para concentrar todas as aulas online em um só lugar. O cadastro é gratuito, o acesso é fácil e a publicação do conteúdo também. www.youtube.com
5. Zoom Mais uma plataforma gratuita que muitas escolas estão utilizando para proporcionar um contato interativo ao vivo com alunos por meio de videoconferência e webconferência. zoom.us/pt-pt/meetings.html
6. Anchor Ferramenta para criação e postagem de podcasts. O Anchor é gratuito e além de hospedar os áudios distribui o conteúdo em streamings de música como o Spotify. podcasters.spotify.com
7. OBS Studio No OBS Studio é possível fazer lives com os estudantes, inclusive utilizando slides em tempo real. obsproject.com/pt-br
8. RecForge Free-Audio Recorder O gravador de áudio permite a gravação de podcasts pelo próprio celular e compartilhá-los com facilidade por e-mail ou nas redes sociais. Disponível loja de Aplicativos do Google Play.
9. Ensine em Casa Funciona como uma espécie de central de informações com dicas, treinamentos e ferramentas, coletados em todo o Google for Education. teachfromhome.google/intl/pt-BR/
10. Moodle Tem recursos como o controle de alunos, notas, relatórios e criação de provas online com cronômetro. Permite incluir recursos multimídia. ensineonline.com.br/moodle-gratuito/
MAIS ALGUMAS LIÇÕES NA HORA DE GRAVAR UMA VÍDEO AULA
Planejamento Uma boa aula online começa com um roteiro, em que é importante definir na ordem todos os pontos que serão tratados no vídeo. Elabore um roteiro para vídeos curtos, que seja direto.
Gravando A câmera precisa estar bem fixa, com um tripé que pode ser improvisado de uma maneira que mantenha ela parada. Existem centenas de tutoriais no YouTube para fazer um tripé caseiro com garrafas pet. Nada de segurar e correr o risco de tremer durante a gravação.
Na tela O enquadramento mais usado e prático também é aquele que coloca a pessoa no centro, filmando da região do peito até a cabeça (sem cortar o topo cabeça), que é ideal para gravar em lugares pequenos. Outra opção é enquadrar na linha da cintura para cima. Fique atento para não ficar nem muito perto, nem longe demais.
Luz e som A luz pode ser natural, preferencialmente vindo de frente. Evite luz acima da cabeça. Adote um ambiente bem iluminado para gravar vídeos. Caso não tenha um, pode usar luminárias. Para captar o som, um é um microfone de lapela ajuda bastante, porém dá para usar também o microfone do celular.
Visual Na hora de gravar evite estampas chamativas, transparências, listras e acessórios brilhantes também. Maquiagem, sem exageros. Aos homens que tem barba, mantenha ela sempre bem feita. Opte por uma roupa que te faça se sentir bem no vídeo.
Pesquisa O educador tem que ser muito curioso nesse momento e também estar aberto a trocar ideias com outros professores e nesse movimento todo mundo vai colaborando e se ajudando.
Dever de casa Não deixe de analisar os indicadores que as plataformas lhe entregam sobre as aulas. O tempo de permanência dos alunos nos vídeos, quantidade de aberturas, partes mais e menos clicadas da plataforma. Isso vai ajudar muito a perceber o que está funcionando, o que precisa melhorar e como diversificar o conteúdo também.