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Da Redação
Publicado em 6 de outubro de 2019 às 19:20
- Atualizado há 2 anos
O escritor Paulo Coelho deu o que falar ao divulgar nas redes sociais que fez uma retribuição através de uma doação de R$ 1 milhão para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Por lá, internautas questionaram sobre a atitude dele - alguns dizendo que ele não precisava publicar isso.
"Quem doa não precisa falar que doou. Isso se chama marketing pessoal", comentou um internauta. Outro também criticou o escritor, mas disse que "a publicidade é importante pois incentiva outros a fazer o mesmo".
Mas teve quem defendeu a atitude de Paulo Coelho. "Parabéns Paulo, pela doação e por dar publicidade! E espero que nestes novos tempos tua contribuição tenha a destinação correta, céticos que estamos por tudo...", comentou uma leitora. Outro usuário pontuou no Twitter que a boa ação de Coelho não deveria ser questionada: "Mestre, definitivamente você venceu o bom combate. E como é triste ler pessoas ainda questionando uma boa ação. Esses serão sempre perdedores do bom combate". (Foto: Reprodução/Twitter) Atento aos questionamentos e pontuações, o escritor respondeu aos leitores e disse que divulgou a doação ao saber das comitivas de políticos que irão para canonização de Irma Dulce no Vaticano, que acontecerá no próximo domingo (13), usando o dinheiro público. "Só divulguei por causa da corja que vai com dinheiro público para 'representar o Brasil'. Mas acabo de descobrir, para meu horror, que são TRÊS aviões fretados e SETENTA parlamentares!! Falta de vergonha! Só dei publicidade por ver a canalhice do trem da alegria dos congressistas. Mas com o hospital da irmã Dulce não tem erro - a destinação é correta. Fazemos isso mensalmente, há anos, e vemos os resultados", escreveu.
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Ele referenciou uma notícia do colunista Guilherme Amado, da Época, em que o jornalista descobriu que o governo federal fretará três aviões da FAB, com cerca de 70 pessoas a bordo, para a canonização de Irmã Dulce no dia 14 de outubro. Segundo Amado, o governador da Bahia, Rui Costa (PT), irá de voo de carreira. Ele e um secretário irão ao Vaticano para, de lá, embarcar numa viagem a Milão para atrair investimentos ao estado.
O escritor acrescentou que não pretendia divulgar a doação pois já ajuda o hospital há anos: "Não ia comentar nada, mas quando vi essa corja gastando MEIO MILHÃO de reais para 'representar' o povo, fiquei revoltado". Paulo justificou ainda que não se trata de uma recompensa. "Ela já me recompensou, em 1968, quando eu mais precisei. E não tem dinheiro que pague 1/100000 do que ela fez por mim".
A ajuda de Dulce para Coelho foi retratada pela primeira vez no livro O Mago, biografia de Paulo Coelho escrita pelo jornalista Fernando Morais. O livro conta que, em 1967, os pais de Paulo Coelho, à época com 19 anos, internaram o filho em um hospital psiquiátrico. “Eu era um rebelde que não obedecia a ninguém”, relembra o escritor no livro.
Depois de dois meses, fugiu com a roupa do corpo e, de carona em carona, terminou em Salvador - sem dinheiro, sem ter o que comer, dormindo na rua. Foi aí que ele encontrou Irmã Dulce, que o “ajudou a levantar”.
Segundo Paulo disse em O Mago, depois de receber uma porção de sopa nas Obras Sociais Irmã Dulce, ele se dirigiu à Mãe dos Pobres e lhe pediu dinheiro para comprar duas passagens de ônibus para o Rio de Janeiro. A freira baiana escreveu um bilhete com o pedido, que ele trocou no guichê da rodoviária pelas duas passagens e enfim tomou o rumo de casa. Dizia o bilhete com o carimbo das Obras Sociais e assinado pelo Anjo Bom, em 21 de julho de 1967: “Estes 2 rapazes pedem um transporte grátis até o Rio”. Bilhete de Dulce para Coelho foi guardado pelo escritor (Reprodução: Livro O Mago) O livro Irmã Dulce, a Santa dos Pobres (Editora Planeta - 2019), do jornalista Graciliano Rocha, que foi lançado no mês passado, traz declaração sobre o episódio narrado pelo escritor.
“Eu estava literalmente passando fome há dias, doente, perdido em Salvador. Tinha fugido de um sanatório psiquiátrico onde fora internado por meus pais. Vaguei sem rumo pelas ruas da cidade sem um centavo no bolso, até que alguém me disse que havia uma freira que poderia me ajudar. Fui a pé até a casa da freira. Juntei-me às muitas pessoas que estavam ali em busca de socorro, chegou minha vez, e de repente estava frente a frente com ela. Perguntou o que eu queria – e a resposta foi simples: “Não aguento mais, quero voltar para casa e não tenho como”. Ela não fez mais perguntas. Pegou um papel em sua mesa, escreveu “vale um bilhete de ônibus até o Rio”, assinou, e pediu que fosse à rodoviária com ele e mostrasse a qualquer motorista. Achei uma loucura, mas resolvi arriscar. O primeiro motorista que leu o que estava escrito no papel mandou que eu embarcasse. Isso era o poder daquela freira: uma autoridade moral que ninguém ousava desafiar”, afirmou Coelho, em trecho exclusivo para o livro ‘Irmã Dulce, a santa dos pobres’.
A Osid foi procurada para comentar a doação, mas até o momento o CORREIO não conseguiu contato com a entidade. Qualquer pessoa pode doar para a Osid através do site: https://www.irmadulce.org.br/doeagora.