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Fernanda Varela
Publicado em 1 de fevereiro de 2025 às 10:06
Uma mulher de Natal-RN, de 21 anos, está vivendo um pesadelo. Após bater a cabeça em um acidente, Débora Oliveira, de 21 anos, perdeu a memória do que aconteceu nos últimos cinco anos. O mais grave disso tudo é que ela tem um filho de 4 anos. Ou seja, ela não consegue lembrar da criança de jeito nenhum.>
O acidente aconteceu em novembro de 2024. A jovem já convivia com crises de desmaios constantes, mas, em uma delas, bateu a cabeça no chão de casa e perdeu a consciência. Quando acordou, ela não reconheceu o próprio namorado, nem o filho. Depois da queda, ela foi levada para um ambulatório e transferida para o Hospital Walfredo Gurgel, no Rio Grande do Norte.>
“Essa foi a vez que aconteceu de eu bater a cabeça e realmente me machucar. A ressonância não mostrou nada de anormal, mas o eletroencefalograma deu algumas alterações, principalmente nas áreas do cérebro que foram mais afetadas pela falta de estímulo”, contou em entrevista à Marie Claire. “Meu filho me chamava de mãe e eu ficava pensando ‘acho que estou doida, estou sonhando’", completou.>
Os médicos fizeram exames para entender o que estava acontecendo e encontraram apenas uma pequena inflamação. Não houve trauma grave, nem traumatismo craniano. "O médico explicou que a perda de memória ocorreu por causa do impacto no cérebro, ele se chocou e foi isso que a ocasionou", explicou Débora.>
Atualmente, Débora, que já tinha TDAH, usa medicamentos e faz acompanhamento psicológico. Além de ter perdido a memória parcialmente, ela também tem perdas momentâneas da coordenação motora. "Às vezes eu fico sem conseguir falar por um tempo e perco a memória [mais recente] também. Os médicos acreditam que eu tenho epilepsia, que já não foi diagnosticada há um bom tempo. E se agravou depois do acidente", contou a jovem.>
Agora, o maior desafio é reaprender a viver. “As pessoas olham para você e dizem: ‘Você gosta disso!’ Eu falo: ‘Não, eu não gosto’. Dizem que eu sou ‘uma ótima mãe’, e eu digo: ‘Mas eu não sei como ser mãe’. É complicado olhar no espelho e ver que você está diferente. Ver que sua aparência mudou, que você está mais cansada, e que tem problemas de saúde que não tinha antes”, lamentou>
“Antes do acidente eu já não lembrava de nada da minha infância. Isso, somado a tantos traumas que vivi, me fizeram perder muito de quem eu era antes. Eu mudei, tive que aprender a sobreviver de novo, a ser mais esperta, a saber em quem confiar. Agora, se alguém inventar uma história sobre mim, eu não vou saber se é verdade ou não”, completou.>
Recomeço>
O namorado de Débora teve que reconquistar a moça. “Ele teve todo o cuidado para não se aproximar demais, não pular etapas. Fez tudo de novo, me levando a lugares que eu gostava, me apresentando músicas. Tenho uma conexão muito forte com a música, então ele dizia: ‘Essa é a sua preferida’, e eu chorava, sentia, mesmo sem lembrar”.>
“É interessante, porque eu sinto familiaridade com ele. Quando chego perto, é como se já o conhecesse. Meu filho, por exemplo, não demorou nem uma semana para eu me reconectar. Já com o meu namorado, levou mais tempo. Mas nossa relação hoje está bem tranquila”, relata. “Lembro que, no hospital, quando comecei a voltar à consciência, olhei para minha barriga e perguntei: ‘Cadê o meu filho?’ Porque eu me lembrava de estar grávida, mas não sabia que ele já estava com 4 anos. E aí minha mãe me explicou. Foi um choque, difícil associar tudo. Quero aprender a ser mãe de novo e amar meu filho da forma que ele merece. Conforme o tempo passa, estou aprendendo a lidar com tudo isso”, completa.>
Agora, a maior preocupação de Débora é que no período que ela não tem lembrança alguma, ela trabalhou e fez faculdade de pedagogia, mas a experiência foi embora, já que não lembra de nada. “Antes da pandemia, trabalhei com bolos para festas, depois trabalhei como chefe de cozinha e também em RH. Perdi tudo. Não sabia mais cortar uma cebola, não sabia pegar uma faca. Isso me deixou louca, porque fiquei pensando: ‘O que vou fazer agora? Como vou ganhar dinheiro?’", preocupa-se.>
Por conta de sua condição, a jovem fez um TikTok como forma de “álbum de memórias”.>