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Hilza Cordeiro
Publicado em 20 de setembro de 2020 às 16:00
- Atualizado há 2 anos
Luz, câmera, ação. Esta máxima do cinema nunca foi tão máxima como agora, nesta época em que vivenciamos o boom das apresentações ao vivo — as chamadas lives. Atire o primeiro celular quem ainda não fez uma videochamada com amigos e familiares ou participou de reuniões de trabalho e aulas virtuais. Além destes usos mais rotineiros, as lives viraram um recurso essencial para que profissionais das mais diversas áreas levem seu conhecimento a outras pessoas através de transmissões em redes sociais. E já que temos usado tanto, o que é preciso fazer para o vídeo ficar melhor numa live?
A primeira coisa que todo mundo precisa saber é que, na maioria das vezes, a culpa de uma imagem ruim não é da câmera do seu smartphone ou notebook. Pense que imagem é um desenho com luz. Se as lâmpadas do seu quarto ficarem apagadas, dificilmente alguém vai conseguir te ver num vídeo. Portanto, eis o segredo: o negócio, meu povo, é saber usar bem a luz.Trabalhando com iluminação há mais de 23 anos, o light designer João Batista deixa às claras: “Basicamente, luz melhora a qualidade de uma imagem porque imagem é luz. Então, quanto mais bem feita uma iluminação, melhor fica a imagem”, resume. Obcecado por iluminação artística, o diretor de cinema austríaco Josef von Sternberg foi um dos profissionais que ficaram famosos por dominar os mistérios da luz, fazendo jogos com candelabros, espelhos e rendas para suavizar rostos, deixando-os com aspecto sedoso, e conferindo glamour às estrelas que produzia, entre elas a icônica atriz Marlene Dietrich.
Mas nem tudo é Hollywood e na vida real a gente faz como pode. Iluminotécnica e produtora dos espaços Boca de Brasa, Mariana Passos conta que o barato da vez para lives caseiras é um equipamento chamado ring light — a luminária em forma de círculo que ficou popular entre as blogueiras de maquiagem. No mercado existem modelos que variam de R$ 20 a R$ 900, a depender do tamanho, e há tipos para encaixe no celular, de mesa e com tripé.
A profissional explica que esse equipamento é excelente porque performa a luz de camarim e, por ser circular, consegue iluminar todos os ângulos do rosto. Para qualquer luz que se vá usar para as lives, em geral, o melhor é que ela esteja de frente para a sua face, indica Mariana.
No caso do ring light, ela sugere que o resultado fica mais legal quando o equipamento é posicionado a no máximo meio metro de distância e só um pouquinho acima da linha da sobrancelha. Essa posição um tanto mais levantada é essencial para evitar que o supercílio e o nariz, que são partes mais sobressaltadas da cara, projetem sombras indesejáveis no restante do rosto. A maioria dos modelos dessa luminária queridinha dos youtubers vem com regulador de intensidade, podendo escolher luz mais forte ou mais fraca, e ainda a cor, que vai do brancão xenon ao amarelo âmbar.
Time da Gambiarra
Certo, CORREIO, mas e quem quer fazer zero investimento? Para o time menos mão no bolso e mais mão na massa, há uma série de gambiarras fáceis usando materiais que podem ser encontrados em casa como abajur, pisca-piscas, tela branca, lâmpadas e caixas de leite. Claro, qualquer luz é melhor do que nenhuma, mas os iluminadores não indicam usar lanternas porque elas são muito focais e certamente vão criar sombras esquisitas, quando o que você precisa mesmo é dissipar a luz pelo seu rosto.
Mariana explica que o abajur é uma opção melhor porque geralmente tem uma cúpula de tecido, que ajuda a amortecer a iluminação e não deixa o rosto com aspecto chapado. “Mas também não é legal usar só um abajur e deixar tudo escuro atrás de você”, alerta. Se você tiver mais de um, use e abuse, posicionando aos lados para salientar outros ângulos do rosto. Com o tempo, vá treinando e observando onde estão localizadas as sombras no seu vídeo e corrija elas compensando com luz aqui e ali.
Para quem não tem abajur, há ainda outros truques simples para descolar iluminação extra. Iluminadora de um monte de artistas da cena musical soteropolitana, Larissa Lacerda explica que superfícies brancas têm maior capacidade de refletir luz. Então, ficar de frente para uma parede ou guarda-roupa branco já ajuda. Mariana Passos acrescenta que, se você estiver participando de uma live pelo seu celular, ligue a televisão ou o notebook numa tela inteiramente branca e fique próximo, assim a luz dela vai refletir no seu rosto.
Se você só tem a lâmpada de teto do seu quarto ou escritório, não desanime. Entenda o ângulo da luz, veja como ela bate no seu rosto e procure ficar de frente para ela. É ruim, por exemplo, se a luz ficar exatamente em cima da sua cabeça. Uma dica legal do diretor teatral e técnico de som e luz do Teatro Sesi Rio Vermelho, Allison de Sá, é usar o pisca-pisca natalino. As luzinhas podem ser usadas no modo parado para ampliar a iluminação do seu ambiente e, se a live permitir maior criatividade, ele ainda pode aparecer e servir de elemento decorativo.
Por último, uma dica mais complexa, mas interessante. Se você tem uma caixa vazia de leite longa vida e alguma habilidade com elétrica, dá para construir um refletor improvisado em casa usando um bocal de lâmpada com fio ligado à tomada. O light designer João Batista, da JB Iluminação, ensina a fazer: basta cortar o fundo da caixinha de modo a encaixar o bocal e utilizar uma lâmpada incandescente de 60 W ou 100 W. O material laminado da caixa de leite vai criar uma espécie de refletor. Há vários tutoriais no YouTube com o passo a passo para montar, mas é preciso muito cuidado.
Resumindo, Larissa Lacerda explica que as lives, em geral, requerem uma iluminação com intensidade capaz de mostrar mais informação do rosto da pessoa.“Improvisar a luz passa por entender luz. Existem profissionais que trabalham para fazer com que a luz funcione em lives de música, de entrevistas, e geralmente esse profissional é o invisível. A gente vê muito a fotografia, o cenário, mas não vê o quê e quem torna tudo isso visível. A luz é que dá beleza, que faz a visualidade acontecer, ela faz com que o momento tenha aparência mais leve, densa ou até macabra”, conclui.