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Thais Borges
Publicado em 15 de dezembro de 2024 às 11:38
Protagonista da série Cangaço Novo, do Prime Video, o ator Allan Souza Lima fez uma reflexão sobre o encerramento das gravações da segunda temporada da obra. Ele revelou que teve um burnout e que passou por desafios devido a questões de saúde mental.
“Pensei muito em vir aqui falar, por uma necessidade de lavar a alma”, diz o intérprete de Ubaldo Vaqueiro. No Instagram, a legenda para o vídeo foi de ‘notas sobre o último relato de um Vaqueiro nessa saga chamada Cangaço Novo’.
Allan começou lembrando que sempre preservou a vida pessoal, mas que acreditava que vale a pena falar quando pode contribuir com outras pessoas. Ele, que disse que sempre se perguntou até onde iriam seus limites, citou um momento em que quase morreu congelado em uma viagem que fez à Patagônia sozinho, em 2013.
“Dessa vez, fui engolido por meus limites. Fui engolido pelo meu trabalho, pela minha própria criação, pelo meu próprio personagem, pelo meu próprio eu. Sempre fui muito íntegro ao meu processo de trabalho e foi justamente ao lado dele que eu caí”, narrou.
Allan explicou que, no fim, a história de seu personagem se entrelaçou com a sua. Adepto de ‘O Método’, como é mais conhecido o Método de Interpretação para o Ator e que preconiza que o intérprete deve se aproximar do papel por meio de treinamentos que ativam processos psicológicos, ele disse que começou a gravação da segunda temporada sabendo das dores que tinha encontrado durante a primeira etapa.
“Para determinados personagens, dependendo da carga emocional deles, pode ser muito perigoso. Fui muito resistente em embarcar nesse processo de personagem de novo, por mais que tenha mudado minha vida e minha carreira para melhor”, analisou. “Mas, quando você menos percebe, ele está ao seu lado no set de filmagem e você não pode duelar com ele”.
O artista contou que, no último ano, teve crises de ansiedade e estava se cuidando, prestes a embarcar na saga do personagem novamente. Ele declarou-se grato por ter tido o encontro com o personagem Ubaldo. “Talvez a forma como eu tenha conduzido isso tenha feito com que eu tenha entrado em colapso. Esse também é o preço da nossa profissão”.
Depois de conversar com seu terapeuta e seu psiquiatra, Allan disse que percebeu que tinha duas escolhas: ou continuava o tratamento porque o remédio acalmaria as emoções ou suspenderia, se entendesse que poderia atrapalhar o processo denso do personagem.
“Ali, eu encontrei uma encruzilhada. Tive que optar. Meu personagem precisava desse conflito e o ator trabalha muitas vezes com essas emoções em desequilíbrio. E não me julgo porque eu tive essa escolha. A responsabilidade é toda minha”, acrescentou.
Ele lembrou de uma ocasião em que foi perguntado sobre o significado da segunda temporada. No momento, disse que não tinha a resposta, mas que buscava alguma cura nesse processo. “No final dessa jornada, eu encontrei”.
Nos episódios da primeira temporada, Ubaldo viu o pai morrer em seus braços. Para Allan, foi o momento de se permitir sentir uma dor que não tinha permitido sentir na vida real.
“Personagem e ator acabam em simbiose. Por mais que eu tenha a pele dilacerada nesse momento, tenho a sensação de dever cumprido. Tive minha redenção”.
A primeira temporada de Cangaço Novo, que tem oito episódios, foi lançada em agosto do ano passado. A série é dirigida por Fábio Mendonça e Aly Muritiba. A data de estreia dos novos episódios ainda não foi divulgada.