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Vitor Rocha
Publicado em 6 de outubro de 2024 às 17:35
Para muitos soteropolitanos o dia de votação se torna o Dia do Comércio. Não foi diferente neste domingo (6) de primeiro turno. Com as ruas movimentadas devido às eleições municipais, os comerciantes viram suas vendas aumentarem, enquanto os eleitores confraternizavam próximos aos colégios eleitorais.
O movimento começou cedo em São Marcos para a vendedora Rebeca dos Santos. Em frente à Escola Municipal Clériston Andrade, o terceiro maior colégio eleitoral da capital baiana, na rua Djalma Sanches, ela vendia latas de cerveja, armazenadas em um isopor, por preços que variavam de R$4 a R$10. "Cheguei às cinco horas e vou ficar de acordo com o movimento. Em dia de eleição eu faturo uns R$ 3 mil a mais do que em um dia comum", revelou ela, que fatura aproximadamente R$ 1 mil diários.
No mesmo bairro, na avenida São Rafael, a ambulante Sabrina Silva, mãe solo de uma criança de quatro anos, se adaptou para atrair um novo público nas eleições. "Normalmente vendo brigadeiro, mas para as eleições eu troquei para água. Já consegui o dobro do que faturo normalmente. É muito sol e a rua fica muito movimentada, fica bastante gente", disse.
Em Pau Miúdo, próximo ao Colégio Estadual Marquês de Maricá, o vendedor de variedades e fotógrafo de eventos, Gerson Lourenço, adotou a mesma estratégia. "Minha primeira vez vendendo aqui durante a eleição. Eu não vendo cerveja no dia a dia. Só peguei para vender por causa da votação. Já ganhei mais do que ganho normalmente", contou.
Quem não seguiu a tendência das bebidas não teve o mesmo sucesso, como revelou Daiane Santos. Comerciante de frutas na Feira do Japão, no bairro da Liberdade, em frente ao Colégio Estadual Duque de Caxias, ela relatou que seu faturamento médio é de R$ 600 por dia, mas havia arrecadado apenas metade durante o período de votação. "Nas eleições, o pessoal não procura fruta. Procura bebida, procura outras coisas", afirmou.
Na rua São Marcos, no bairro de mesmo nome, a vendedora de variedades Patrícia Souza sentiu o movimento tranquilo. "É mais agitado para quem vende cerveja. Eu que fico no doce, na pipoquinha, não vende tanto", contou.
Aos votantes, que enfrentaram filas extensas sob o sol de Salvador, as bebidas são uma forma de refrescar e relaxar pelo resto do domingo, segundo o auxiliar de loja de material de construção Ednaldo Silveira. "Mesmo em dia de eleição, estou de folga. Posso e vou beber", destacou.
Até mesmo quem estava atuando como boca de urna aproveitou para se refrescar. Foi o caso de uma das entrevistadas pela reportagem, cuja identidade foi preservada, que se reuniu com sete amigas para aproveitar o fim de semana. "De maior tudo pode. Só assim para aguentar ficar esse tempo todo no sol", disse.
Há 20 anos morando no Centro Histórico, Eduardo Cunha afirmou que é "filho da Liberdade", e foi ao bairro para encontrar os amigos na eleição. "Eu nem voto mais aqui, mas nasci e me criei aqui. Hoje, vim para ver os amigos e beber um pouco, porque está abafado demais", contou.
No caminho contrário, o evangélico Raimundo Bispo considerou o consumo de bebidas durante a eleição desrespeitoso. "O pessoal não respeita a eleição. Vai sem nem saber em quem está votando, no que faz", denunciou.
De acordo com o economista Antonio Carvalho, o dia das eleições, por ser um momento de grande aglomeração, faz com que os ambulantes aproveitem a lógica da oferta e demanda para aumentar sua renda. No entanto, ele destaca que esse fenômeno também reflete a desigualdade no país.
"Empreendedorismo ou sobrevivência? Eis a questão. O mesmo evento que demonstra a capacidade empreendedora do brasileiro, ao identificar uma oportunidade de renda, também revela uma face cruel da nossa realidade econômica: o aumento da pobreza e a busca quase desesperada pela sobrevivência e garantia das necessidades básicas", avaliou.
*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro