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Millena Marques
Publicado em 13 de setembro de 2024 às 22:26
O candidato do PSOL, Kleber Rosa, foi o quarto a participar da série de sabatinas do CORREIO com os postulantes ao Palácio Thomé de Souza. Ele tem 50 anos, atua como professor na rede estadual de educação e é investigador da Polícia Civil. Também é o coordenador-geral da Federação dos Trabalhadores do Estado da Bahia (Fetrab).
Reveja, na íntegra, a sabatina:
Veja os principais trechos da sabatina com foco nas propostas do candidato
De todos os seus projetos, qual você acredita ser o principal para o futuro de Salvador?
Nosso principal projeto, porque me coloco como representante dos anseios coletivos de todo o campo da esquerda e do meu partido, eu diria que é a proposta da tarifa zero. A gente vive uma situação em Salvador delicadíssima, do ponto de vista da mobilidade. Entendo que a garantia da mobilidade termina possibilitando o acesso a uma série de outros direitos. O direito de circular pela cidade permite o acesso à saúde, à educação, ao lazer, ao entretenimento, uma vez que todos esses serviços são oferecidos nos mais diversos territórios. Não estão, necessariamente, em todos os lugares de forma igual. Então, a proposta de tarifa zero, que é a garantia de tarifa gratuita para todas as pessoas, é o que nós estamos colocando como proposta principal para mudar a maneira como as pessoas vivem na nossa cidade.
Candidato, nos últimos anos, o povo mais carente da cidade se acostumou com a presença da prefeitura. Em nossa gestão, mais de 86% dos recursos da prefeitura foram para as regiões mais pobres, com investimentos robustos em educação, saúde, habitação e infraestrutura, por exemplo. O senhor concorda com esta prioridade dada por nossa gestão às áreas mais pobres? (Pergunta do candidato Bruno Reis, do União Brasil)
Eu concordo com o que é apontado como prioridade, mas discordo que tenha sido priorizada pela gestão. Há um processo de privatização na cidade que faz com que os recursos ao invés de ficar para atender as demandas e necessidades do povo termina servindo de lucro de bons negócios para o pequeno grupo que controla a maioria das empresas.
Quais propostas voltadas para o desenvolvimento sustentável da cidade de Salvador? (presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia, Joseval Carqueija)
Nossa proposta número um é fazer uma ampla discussão com a sociedade em torno da revisão do PDDU (Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano), de maneira que possamos planejar os próximos 20 anos de Salvador, garantindo uma ocupação democrática do seu território. A gente precisa garantir que a cidade pertença a todas as pessoas e promova a justiça social. Nesse sentido, fazer um debate amplo sobre o PDDU, fazer uma reestruturação do PDDU, pensando em um futuro sustentável, é o nosso principal objetivo. Eu pretendo discutir com um conjunto da sociedade e aí nós teremos dialogado com diversos segmentos do campo, inclusive da engenharia, da arquitetura, do ambientalismo, do saneamento básico. Temos pessoas das mais qualificadas áreas, que construíram com a gente o nosso programa de governo.
O que propõe para o patrimônio cultural histórico de Salvador ser preservado?
Primeira coisa, criar uma Secretaria de Cultura. Hoje, a Secretaria de Cultura está imersa em uma secretaria mais ampla. É necessário ter uma Secretaria só de Cultura. A partir disso, pensar a preservação do patrimônio material e imaterial porque se formos analisar o patrimônio imaterial é riquíssimo. As nossas manifestações tradicionais, as nossas diversas manifestações culturais precisam ser reconhecidas, valorizadas e, sobretudo, preservadas. Então, a primeira coisa é a gente ter uma Secretaria, que garanta que a cultura esteja para além de festas e foque na preservação do patrimônio imaterial e material.
Sabemos que o tema da transição energética tem sido muito importante para a atuação contra as mudanças climáticas. Nesse contexto, quais as principais propostas do seu plano de governo para ampliar os esforços nessa área? (Marcos Rêgo - Presidente da Associação Baiana de Energia Solar Fotovoltaica - ABS)
Eu diria que a nossa proposta de tarifa zero pode ser o nosso grande investimento no meio ambiente de Salvador à medida que a gente faz um ambiente sério e responsável na mobilidade. Quando eu falo de tarifa zero isso tem uma interferência em toda a forma como a gente transita. Com isso, a gente diminui drasticamente a quantidade de automóveis individuais que circulam pela cidade. A nossa proposta significa colocar a mobilidade urbana de massa no centro da nossa política. A tarifa zero pode mudar e até triplicar o número de pessoas que circulam nos ônibus. Com isso, obrigatoriamente, a gente precisa investir em ônibus de qualidade, em ônibus elétricos, por exemplo, que já está dado como uma realidade possível e factível. A nossa tarifa zero é que temos de imediato aquilo que a gente considera em Salvador o problema mais grave da transição energética, que são os gases poluentes e o consumo de gasolina.
Como pretende viabilizar a cobrança da tarifa zero?
Ela vai ser tarifa zero para toda a população. Hoje, nós temos fontes pagadoras, financiadoras do sistema de ônibus de Salvador: subsídios municipais e o público pagante. A nossa proposta é anistiar o público pagante, que paga o bilhete, e aumentar a participação da prefeitura e dos setores empregadores. Eu tenho dialogado. Essa proposta tem sido construída de forma coletiva com o Observatório da Mobilidade em Salvador. A nossa proposta é aumentar a participação da prefeitura, que é responsável por algo em torno da metade do custo, mas pode aumentar um pouco mais, sobretudo se trouxermos subsídios do governo federal e aumentar a participação dos setores empregadores. Dessa forma, conseguimos garantir a tarifa zero, com ampliação dos serviços.
Quais são as políticas pensadas pelo candidato para a população LGBTQIAPN+? (Promotora Márcia Teixeira)
Eu postei (nas redes sociais), na semana passada, uma série de propostas para a comunidade LGBTQIAPN+, que passa pela garantia de um programa educacional que garanta a inclusão dessas pessoas, para evitar o bullying e evitar que essas pessoas sejam expulsas forçadamente das escolas pela hostilidade que sofrem. Eu sou professor e sei como funciona essa relação difícil dentro das universidades. Já tive alunos, inclusive trans, que abandonaram as escolas e eu encontrei depois vendendo queijo na praia, de forma muito triste, porque perderam a garantia de estudar. Nós temos uma proposta de garantia de estímulo às empresas que deem emprego para essas pessoas. Nós temos propostas de rondas especiais da Guarda Municipal para garantir algo fundamental. A gente sabe que Salvador é uma cidade recordista de violência contra essa comunidade. Então, é garantir, por exemplo, um atendimento qualificado na saúde. Então, tem políticas específicas para o atendimento na saúde. De forma transversal, a gente tem política para esse público, em todas as áreas.
O que pode ser feito pela prefeitura para aumentar a segurança de jovens pretos da periferia que são marginalizados? (Pergunta do leitor Jailton Silva)
Nós temos uma concepção equivocada de que segurança pública se faz com polícia, e é um equívoco. Na verdade, segurança pública se faz, antes de qualquer coisa, com garantia e ampliação de direitos sociais, com distribuição de renda, com educação de qualidade, com acesso a emprego e a arte. A gente faz garantindo o futuro para a nossa juventude. Do ponto de vista mais específico, o que eu posso dizer é que vamos criar o sistema municipal de segurança pública, que é um sistema único com verba deslocada especificamente para o sistema de segurança pública. Vamos trazer a Guarda Municipal, que hoje é lotada na Semop (Secretaria Municipal de Ordem Pública), para essa Secretaria de Segurança Pública e Direitos Humanos. Vamos criar os fóruns comunitários de segurança pública na prefeitura-bairro de Salvador, com participação de grêmios estudantis, associação de moradores, representações de comerciantes, de instituições religiosas, as mais diversas. Ou seja, espaços que expressam a amplitude da representação social daquele local para pensar ações e soluções para aquela região.
Quais são as políticas que considera viáveis no sentido de enfrentar o problema de jovens que não estudam e não trabalham?
A gente tem um problema gravíssimo na educação, que é a evasão escolar. Nós temos um número muito grande de jovens que deixam de estudar por diversos motivos. Esses jovens não estão preparados para ingressar no mercado de trabalho e terminam não se interessando ou não achando as condições para retornar aos estudos. Então, eu tenho defendido que nós temos três questões centrais na educação: creche para toda a demanda, respeito e valorização do professor, e o problema seríssimo para a educação de jovens e adultos. É preciso uma política que possibilite a entrada de jovens que não estiveram na escola, e o retorno de jovens e adultos que tiveram seu percurso interrompido. Então, uma das políticas que temos para essa questão específica é a garantia do retorno à escola. Obviamente, que somado a isso, é necessário que o poder público faça uma campanha.
Quais são suas considerações finais?
Eu entendo a responsabilidade que é atribuída a mim quando alguém me diz ‘você me representa’. Eu preciso, de fato, ser digno dessa representação e ser um prefeito que atenda a esse clamor, de dar a voz ao nosso povo, de representar a maioria da nossa população, que é invisibilizada, marginalizada, criminalizada e abandonada, deixada à margem do acesso aos serviços e aos bens. Então, eu quero dizer para essas pessoas: é possível ter uma cidade melhor, uma cidade com justiça social, com emprego, com garantia do ir e vir, com garantia da mobilidade. Eu quero ser o prefeito que faça a revolução na nossa sociedade.
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva