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Millena Marques
Publicado em 28 de agosto de 2024 às 22:07
Entre 1º de janeiro e 27 de agosto, Salvador registrou 919 tiroteios, com 629 mortes e 183 feridos, segundo levantamento do Instituto Fogo Cruzado. Os dados revelam um dos principais problemas da capital baiana: a segurança pública. De responsabilidade do governo estadual, segundo a Constituição, o tema é apontado como o mais grave por 51% do eleitorado soteropolitano, conforme pesquisa do instituto Quaest, encomendada pela TV Bahia e divulgada na última terça-feira (27).
Na última semana, inclusive, o Fogo Cruzado chamou a atenção para o número de tiroteios registrados no Subúrbio da cidade. Todos os 20 bairros da região, que é composta por cerca de 286 mil habitantes, registraram ao menos um tiroteio neste ano. Ao todo, foram mapeados 165 tiroteios que resultaram em 132 vítimas. Entre elas, 95 mortos.
Salvador também aparece entre as 20 cidades mais violentas do Brasil, de acordo com o Atlas da Violência 2024, divulgado em junho e produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). Os dados têm como base números registrados em 2022. A cidade ocupa a nona colocação do ranking.
Uma série de fatores contribui para o índice negativo, desde a expansão das facções criminosas até a desigualdades sociais, segundo especialistas. “Há uma reconfiguração do crime organizado no país com reflexos aqui. Há gangues de São Paulo e Rio, tipo Comando Vermelho e PCC, se aliando e, sobretudo, nutrindo as gangues locais. A busca por territórios faz com que os conflitos entre as facções se amplifiquem”, explica Sandro Cabral, professor do Insper e da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
A capital baiana, inclusive, encabeça a lista das capitais com maior índice de homicídios no Brasil. Com uma população de 2.417.678 de pessoas, a cidade teve 1.568 assassinatos registrados e 37 ocultos. A taxa de morte a cada 100 mil habitantes é de 66,4, a mais alta entre as capitais do país. Por isso, a segurança pública é um dos problemas centrais nas eleições municipais deste ano.
Cabral defendeu uma união das forças federativas para combater a criminalidade. “É preciso também uma mudança na lógica de, em vez da repressão, trabalhar mais com inteligência, combater a truculência policial, porque isso acaba gerando mais violência. E fomentar a integração com as forças do município é essencial”, afirma Cabral.
Os altos índices de violência na Bahia refletem na popularidade do governador Jerônimo Rodrigues (PT), que apoia o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) na disputa pela prefeitura de Salvador. Segundo a Quaest, a maior parte do eleitorado soteropolitano considera a gestão do petista baiano como regular. São 36% dos entrevistados. Avaliam como negativa 30%, e 29% como positiva. No caso do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), há um empate técnico entre as avaliações regular e positiva, considerando a margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos. São 37% que consideram positiva, 38% regular e 22% negativa.
Embora não seja de responsabilidade do governo municipal, a prefeitura de Salvador tem atuado para reduzir os índices de violência na cidade, e anunciou que implementará um Plano Municipal de Segurança Pública e Defesa Social, responsável por pensar estratégias e soluções nessa área. O plano será discutido em audiências públicas e será elaborado um diagnóstico sobre o problema. A expectativa é de que tudo esteja concluído em cerca de oito meses.
A pesquisa da Quaest ainda apontou que 12% dos soteropolitanos apontaram o transporte público/trânsito como o principal problema; 10% citaram saúde; 6% problemas econômicos; 4% questões sociais; 3% infraestrutura básica e educação; 2% enchentes/alagamentos, ruas mal cuidadas e limpeza urbana; e 1% corrupção.
*Com orientação do editor Rodrigo Daniel Silva